Governo decide vender Palácio Capanema, edifício icônico no Rio

Símbolo do modernismo é incluído em feirão

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Rio de Janeiro

O ministro da Economia, Paulo Guedes, levará à venda o prédio definido pelo próprio Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) como símbolo da arquitetura moderna brasileira: o Palácio Gustavo Capanema.

Inaugurado em 1945 como sede do então Ministério da Educação e Saúde do governo Vargas, o palácio está na lista do feirão de imóveis que o governo Bolsonaro planeja apresentar à iniciativa privada.

Como antecipado pelo jornal Valor Econômico e confirmado pela Folha, o palácio de 16 andares integra o pacote de imóveis que o governo oferecerá no fim deste mês a investidores. O feirão inclui outros 2.263 imóveis situados no Rio de Janeiro dentro do programa de venda de propriedades da administração federal.

O programa, que já identificou 3.800 imóveis com valor estimado em R$ 30 bilhões, inclui a venda de outros edifícios marcantes em suas regiões, como o Edifício João Pessoa, considerado o primeiro arranha-céu da capital paraibana e também conhecido como “18 andares”.

No Rio, serão apresentados imóveis pertencentes ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e da Secretaria de Patrimônio da União. O prédio de 13 andares que sediou a extinta Rede Ferroviária Federal é um deles.

Considerado o primeiro arranha-céu da América Latina quando foi inaugurado, em 1929, o edifício Joseph Gire, que abrigou o vespertino "A Noite", no centro do Rio, também integra a lista de imóveis a serem postos à venda.

Pelos planos originais do governo, esses imóveis seriam postos à venda em abril. Mas sua apresentação só está programada para o fim de agosto.

Procurado, o Ministério da Economia não informou, até a publicação desta reportagem, a razão do adiamento do programa de venda dessas propriedades nem o valor estimado do Palácio Capanema, cuja inclusão provocou reações nas redes sociais. Um dos críticos da proposta é o ex-ministro da Cultura e secretário de Governo e Integridade Pública do Rio, Marcelo Calero.

Para Calero, a intenção de venda do Palácio Capanema é uma ação deliberada contra cultura brasileira. Segundo ele, o edifício é um expoente do processo civilizatório nacional. E sua venda seria comparável ao leilão dos palácios do Planalto e da Alvorada, sede do governo federal e residência oficial do presidente da República.

"Inacreditável a tentativa de venda do Palácio Capanema pelo governo Bolsonaro. Apenas uma gestão totalmente descolada de nosso arcabouço civilizatório e cultural poderia propor um absurdo desses", publicou.

Nas páginas do Iphan, o Capanema é descrito como fruto do encontro de nomes como Lucio Costa, Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, Carlos Leão, Ernany de Vasconcelos e Jorge Machado Moreira, sob a consultoria de Le Corbusier.

"Pela primeira vez no Brasil, um edifício reuniu as principais características da arquitetura moderna, com o uso de pilotis, planta livre, terraço-jardim, fachada livre e janelas em fita. Somados a eles, também estiveram Burle Marx, Cândido Portinari, Bruno Giorgi, Adriana Janacópulus, Celso Antônio e Jacques Lipchitz, consolidando o time responsável pelas artes integradas, com pinturas, esculturas e paisagismo", afirma o site oficial do governo.

Em fevereiro, o governo Bolsonaro anunciou investimento de R$ 57,8 milhões na reforma da parte interna de seus 16 pavimentos, como nova etapa da restauração iniciada em 2014. Com custo de R$ 42 milhões, as obras incluíram a restauração dos revestimentos de pedra dos pilotis, modernização dos elevadores, impermeabilização do terraço-jardim e da cobertura de auditórios.

Erramos: o texto foi alterado

O Palácio Gustavo Capanema foi inaugurado em 1945 e não em 1946, como publicado em versão anterior desta reportagem. O texto já foi corrigido. A data equivocada constava da página oficial do Iphan. 

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