Descrição de chapéu Startups & Fintechs

Startups estrangeiras ignoram crise e aceleram investimento e contratação no Brasil

Companhias de mercados emergentes exploram setores como fintechs, educação e comércio eletrônico

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São Paulo

Enquanto o Brasil vê grandes indústrias se despedirem em meio a um cenário econômico incerto, startups prometem bilhões em investimentos em operações no país.

O movimento, marcado pelo desembarque de empresas de mercados emergentes, tem entre seus expoentes a mexicana Kavak, de venda de automóveis usados, que promete R$ 2,5 bilhões para sua recém-aberta operação brasileira, e a gigante indiana Byju's, de aulas online, que deve fazer o Brasil um centro para expansão em países de língua portuguesa.

Também há startups mirando o mercado financeiro brasileiro, considerado inóspito para companhias estrangeiras.

Nessa frente, captaram recursos neste ano para crescer no Brasil a mexicana Clara, de cartões de crédito e gestão de gastos para empresas, a colombiana Addi, de pagamentos no ecommerce, e a Australiana Stake, de investimentos na Bolsa de Valores americana.

A imagem institucional do Brasil no exterior pode não ser a ideal, mas os argumentos econômicos para investir aqui são fortes, na avaliação de Dan Yamamura, sócio da gestora de investimentos em startups Fuse Capital, que investe em empresas do Brasil e estrangeiras querendo vir para o mercado local.

Entre as motivações de quem investe no Brasil, Yamamura destaca a grande população que não recebe serviços de qualidade, taxas de juros em patamar mais estável do que no passado e incentivo à inovação por órgãos reguladores, como Banco Central e Susep (Superintendëncia de Seguros Privados), que dão segurança ao mercado.

Roger Laughlin, um dos fundadores e presidente para o Brasil da Kavak, diz que o tamanho do mercado de veículos usados no Brasil somado às dificuldades enfrentadas pelo consumidor brasileiro criam grande potencial de crescimento para a startup no país.

Laughlin diz que sua empresa abraça as condições adversas do país por confiar ser possível simplificar o mercado e, com isso, trazer vantagens ao consumidor:

"É mais fácil fazer negócios nos Estados Unidos ou na Europa, mas não poderíamos criar um produto para esses mercados com um impacto tão profundo quanto o que trazemos para o Brasil", afirma.

A empresa promete, até o final de 2022, adquirir 100 mil veículos para recondicionamento e vender 50 mil deles. Conta com 500 profissionais no Brasil e prevê contratar mais mil neste ano.

Caio Ribeiro, diretor geral para o Brasil da colombiana Addi, diz que o crescimento do comércio eletrônico e o aumento da bancarização na pandemia foram incentivos para que a fintech trouxesse para o Brasil sua tecnologia, que permite ao consumidor parcelar compras online sem cartão de crédito, a partir de pagamentos via boleto ou Pix.

Além disso, o Brasil oferece grande mercado em que a adoção de tecnologia é rápida, diz Ribeiro.

O executivo também vê o momento global de alta liquidez, com taxas de juros baixas e investidores buscando ativos com maior chance de retorno, como alavanca para que startups se capitalizem e busquem internacionalização e mercados maiores.
Ribeiro diz esperar que o país se torne o maior para a Addi em até 12 meses.

A companhia captou R$ 350 milhões no final de maio, considerando investimento em participação acionária e empréstimos.

Layon Costa, diretor para o Brasil da mexicana Clara, diz que a empresa foi fundada no México no final de 2020 já mirando uma expansão para o Brasil, mercado onde deve ter produto lançado em até dois meses.

Para Costa, o sucesso de fintechs anteriores, em especial do Nubank, mostra que o brasileiro tem confiança em novas empresas do setor financeiro. O Brasil também vem criando muitas empresas de crescimento rápido, principal público-alvo da Clara, que captou neste ano US$ 35 milhões (R$ 180 milhões) para sua expansão.

Na Byju's, que inicia a operação brasileira com aulas individuais online de informática, a expansão para o Brasil acontece em paralelo com o avanço para o México e a Indonésia, após uma etapa de expansão para os mercados de língua inglesa.

Fernando Prado, responsável pela operação da empresa no Brasil, diz que, mesmo que o país esteja em um momento econômico difícil, segue relevante para startups globais por seu mercado de mais de 200 milhões de pessoas. "O Brasil é grande o suficiente para compensar qualquer dificuldade que possa ter", diz.

Fernando Prado, 43, que comanda a operação da gigante indiana Byju's, do ramo de educação online para crianças, em sua casa na zona sul da cidade - Bruno Santos - 30.jul.2021/Folhapress

A startup chega ao Brasil com 300 pessoas em sua nova filial. Até o final do ano serão 600, a maior parte na área de tecnologia, diz Prado. Além disso, centenas de professores, que não estão na conta, trabalharão como autônomos para a plataforma, disponibilizando horários conforme sua conveniência, afirma.

Prado cita entre os motivos para um escritório no Brasil a necessidade de conhecimento da cultura local. Uma estratégia de vendas que poderia funcionar na Índia como dizer que o aluno será o próximo Bill Gates pode pegar mal se adotada no Brasil, exemplifica.

Outra empresa que abriu escritório no Brasil neste ano é a indiana Gupshup, de plataforma para que outras companhias enviem mensagens de WhatsApp e SMS para clientes.

A startup afirma que empresas e consumidores brasileiros são rápidos na adoção de serviços de mensagens e chatbots (robôs que se comunicam por texto) e a pandemia acelerou as relações digitais entre clientes e marcas, o que cria uma grande oportunidade para ela.

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