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Caos logístico global deve ser resolvido apenas em 2022, diz presidente da Lenovo

Para Yuanqing Yang, à frente da gigante chinesa, mercado de computador seguirá aquecido no pós-Covid

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São Paulo

A cadeia de suprimentos deve voltar ao equilíbrio na metade de 2022, e a demanda por computadores, superaquecida na pandemia, permanecerá elevada nos próximos meses, projeta Yuanqing Yang, presidente da chinesa Lenovo, uma das maiores fabricantes globais.

"A situação deve normalizar no meio do ano que vem", estimou Yuanqing à Folha. A projeção é semelhante a de outros analistas de mercado, que não esperam que o desequilíbrio logístico ocasionado pela pandemia se resolva tão cedo.

"Temos um modelo de manufatura híbrido e uma boa relação com vendedores de componentes, então não sofremos muito com o problema", acrescentou, reconhecendo que a crise ainda afeta o setor. A chinesa não foi alvo de sanções americanas como suas concorrentes.

A Lenovo, dona da Motorola desde 2014, tem três fábricas no Brasil, onde investiu US$ 110 milhões (R$ 568 milhões) em pesquisa e desenvolvimento neste ano, segundo a empresa.

Embora tenha sentido o impacto no início da pandemia, com atrasos nos embarques da China, as unidades operam hoje com normalidade. A situação não é a mesma em outras companhias.

A última sondagem da Abinee (associação brasileira da indústria eletrônica) com executivos mostra que 65% das empresas nacionais da área ainda têm dificuldade para adquirir componentes no mercado, em especial peças eletrônicas provenientes da Ásia.

Yuanqing Yang, presidente da Lenovo
Yuanqing Yang, presidente da Lenovo; para ele, ciclo positivo de venda de computador ainda não acabou - Divulgação/Lenovo

Os segmentos automotivo e eletrônico são os mais afetados pela crise de semicondutores que persiste desde o ano passado —consequência da explosão de demanda por aparelhos digitais em paralelo à paralisação fabril, das sanções americanas à China, que mudaram a geografia de fornecimento, e ao caos logístico da crise.

Para Yuanqing, a corrida por computador ainda não terminou e deve continuar alta —embora desacelerada—, porque o produto ganhou nova importância para as famílias durante a pandemia.

"O PC está voltando ao centro da vida das pessoas. Com o modelo de trabalho híbrido, provavelmente será uma tendência longa [de altas vendas]. As pessoas estão passando mais tempo com seus computadores", afirmou.

Embora o PC tenha um ciclo de consumo mais longo —sua reposição demora mais do que a de um celular, por exemplo—, Yuanqing diz que ainda há demanda em países em desenvolvimento, onde o uso do celular predomina. Classes mais ricas também devem renovar suas máquinas, diante de um novo padrão de qualidade que ele diz ter chegado ao mercado.

Reuniões online e outras rotinas de trabalho híbrido, que mescla remoto e presencial, exigirão câmeras melhores, alta velocidade de processamento, qualidade de imagem e baterias mais robustas, de acordo com o presidente da Lenovo. Além disso, uma nova onda de consumo é esperada à medida que os países implementarem redes 5G.

"Estatísticas mostram que as pessoas passam o dobro do tempo em seus computadores na comparação com o pré-Covid. Elas precisam de mais qualidade, que os computadores sejam cada vez mais rápidos. Por isso o mercado continuará crescendo", afirma.

Pesquisa do IDC mostra que o comércio global de PCs aumentou 55% no primeiro trimestre de 2021 em comparação com o ano anterior e cresceram 26% no quarto trimestre de 2020.

As vendas globais de computadores e laptops ultrapassaram 302 milhões no ano passado, alta de 13% em relação ao ano anterior, o maior índice desde 2014. Ainda segundo o IDC, a Lenovo tem a maior parte do mercado global, com 25% de participação no últrimo trimestre de 2020, seguida por HP, Dell e Apple.

Nem todas as projeções para o médio prazo, porém, são otimistas para o setor. Alguns analistas consideram que, apesar do renascimento dessa indústria na pandemia, a inovação de hardware e software não foi capaz de gerar novas necessidades de consumo. A volta às escolas e ao trabalho presencial também podem voltar a estagnar esse comércio.

O Brasil é o terceiro maior comprador de computadores da chinesa. Em relação a dispositivos móveis, como tablets e smartphones, a Motorola tem 29% do mercado brasileiro, ficando atrás da líder Samsung.

A companhia, que terá seu evento global de inovação e tecnologia na quarta-feira (8), realizado virtualmente, não abre as intenções de investimentos futuros no país, mas afirma que é um dos três mercados mais importantes para seu negócio.


RAIO-X | Lenovo

Fundação 1984, em Pequim
Abrangência Vende para 180 países
Receita US$ 15,6 bilhões em 2021 (alta de 48% em relação a 2020)
Lucro líquido US$ 260 milhões
Setor Computadores, dispositivos móveis, servidores, produtos inteligentes e soluções empresariais
Principais concorrentes HP, Dell e Apple

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