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Entenda como Brasil ficou para trás na recuperação da economia no segundo trimestre

PIB teria avançado como o de países europeus se vacinação tivesse começado antes, avaliam economistas

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São Paulo

O PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil no segundo trimestre teria avançado como na Europa ou em Israel se a vacinação tivesse começado antes, segundo avaliação de economistas.

Nesta quarta-feira (1°), o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontou uma queda de 0,1% no PIB do segundo trimestre, frustrando as expectativas do Ministério da Economia. Analistas consultados pela agência Bloomberg estimavam crescimento de 0,2% ante o trimestre anterior.

Segundo dados divulgados pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), países em que o ritmo de vacinação é mais forte —e onde pôde ser feita uma flexibilização maior do comércio e dos serviços no período— também registraram um ritmo de recuperação mais forte.

Homem passa por rua com cartazes criticando o ministro Paulo Guedes, da Economia, e o presidente Jair Bolsonaro
Cartazes criticando o ministro Paulo Guedes, da Economia, e o presidente Jair Bolsonaro - Amanda Perobelli - 30.ago.21/Reuters

Em Israel, por exemplo, o PIB avançou 3,6% no segundo trimestre ante o trimestre anterior. O país tem, hoje, 60,6% da população totalmente vacinada. Em Portugal, com 73,1%, o aumento no PIB foi de 4,9%. No Reino Unido, 4,8%, com mais de 64,4% da população imunizada.

No Brasil, 29,3% da população está totalmente vacinada, segundo dados da última terça-feira (31).

Em sua conta no Twitter, o secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida rebateu a comparação feita pela Folha com os resultados do Brasil em relação a outros países, como Portugal e Reino Unido, no segundo trimestre.

"Dado que a pandemia afetou os países em trimestres diferentes, creio que a análise mais adequada deveria levar em conta o espaço de quatro trimestres", escreveu.

Para Armando Castelar Pinheiro, coordenador de Economia Aplicada do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas), o desempenho do Brasil em relação aos outros países no segundo trimestre foi diretamente impactado pela demora na vacinação.

"A vacinação entra na conta dos números da pandemia, pois as vacinas reduzem o número de casos graves e fazem com que a economia consiga reabrir mais rapidamente. O primeiro trimestre foi de retração na Europa, enquanto o segundo trimestre lá foi bom", diz.

Castelar compara que, no segundo trimestre, os países que foram mais bem-sucedidos na vacinação reabriram muitos serviços, as pessoas estavam mais confiantes e tinham mais liberdade para gastar.

"Se a vacinação no Brasil tivesse começado antes, a economia teria melhorado mais cedo, sem dúvida.​ Da mesma forma, a situação da pandemia se agravou agora na Coreia do Sul e na China e o terceiro trimestre deve ser ruim na Ásia, já que os governos vão impor mais restrições e as pessoas ficam mais receosas também."

Para o economista, o terceiro e o quatro trimestres no Brasil ainda preocupam. Agora que os números da pandemia retrocederam, é possível esperar uma recuperação mais consistente dos setores que tinham ficado para trás, como turismo, restaurantes ou transporte público.

"A gente pode viver, embora não com a mesma força, o que a Europa viveu no segundo trimestre. É como se estivéssemos vendo um filme parecido, mas que estreou no Brasil com um trimestre de atraso", diz.

O economista da UnB (Universidade de Brasília) José Luis Oreiro acrescenta que a aceleração da inflação, com a alta de juros antecipada para tentar conter o aumento de preços, também coloca a economia brasileira em um encruzilhada complexa no segundo semestre.

"Os economistas do mercado financeiro têm uma narrativa de que a economia vai voltar a crescer por mágica, com a reedição das reformas. Essa ideologia vai na contramão de tudo que está sendo feito no mundo desenvolvido."

Ele também coloca na conta da desconfiança dos agentes econômicos a incerteza elevada pelo risco político, com os ataques do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) aos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e ao sistema democrático.

Para o coordenador do Monitor do PIB da FGV, Claudio Considera, o cenário atual é mais preocupante do que a maior parte dos economistas imaginava anteriormente.

Ele também diz acreditar que os resultados do segundo trimestre devem levar a uma revisão das previsões de crescimento da economia para este ano. "Não tem como ficar otimista este ano. Vamos crescer o suficiente para recuperar o ano passado, mas mesmo assim podemos ter problemas."

Quem achava que a economia iria crescer 5% em 2021 ainda não tinha colocado a crise hídrica na conta, avalia Considera.

"E ainda tem as provocações de conflitos diários do presidente. Não é de vez em quando, mas todo dia ele causa um dano político que eleva as incertezas e prejudica o funcionamento da economia. Não tem empresário que vai investir assim."

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