Guedes admite que economia vai desacelerar diante de alta dos juros

Ministro defende que recuo é normal em cenário de aperto monetário para combater a inflação

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Marcela Ayres Victor Borges
Brasília | Reuters

O ministro da Economia, Paulo Guedes, admitiu que a economia irá desacelerar, mas afirmou que isso é "normal" num contexto em que os juros básicos vão subir "um pouco" no combate à inflação.

Guedes disse que a inflação vai surgir com força nos Estados Unidos, o que fará com que bancos centrais do mundo inteiro, incluindo o brasileiro, passem aperto.

"Todo mundo vai ter que recuar, só que acho que Brasil tem dinâmica de investimentos, como se fosse a curva em S, investimento real disparando, então os juros vão subir, porque nós estamos freando, estamos desacelerando um pouco o crescimento", disse nesta quinta (11) ao participar da conferência Itaú Macro Vision, organizada pelo Itaú Unibanco.

"É completamente diferente do problema deles [EUA], o problema deles é que já estavam em desaceleração sincronizada, e, na hora em que estão tentando um 'rebound' [retomada], a inflação vem com tudo, eles estão sem dinâmica de crescimento. O tempo vai dizer", complementou.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, durante coletiva de imprensa na tarde de hoje, na sede do ministério - Pedro Ladeira - 22.out.2021/Folhapress

Guedes afirmou ainda que há "muita paixão" na avaliação de que a PEC (proposta de emenda à Constituição) dos Precatórios é um calote, defendendo que ela "evidentemente não é" e destacando que o governo está bastante esperançoso após sua aprovação em dois turnos na Câmara dos Deputados.

A PEC dá calote em dívidas judiciais da União e se tornou prioridade do Executivo para garantir o pagamento do Auxílio Brasil de R$ 400 de dezembro até o final de 2022, ano em que Bolsonaro deve disputar a reeleição, além de abrir espaço para outros gastos federais. Pela proposta, cerca de R$ 90 bilhões devem ser liberados para despesas no próximo ano.

"A primeira grande vantagem é que [a PEC] torna Orçamento exequível. A segunda grande vantagem, mais importante ainda, é que isso se estende para todo futuro previsível, ou seja, não vai haver mais sustos nos precatórios", afirmou ele.

Questionado sobre a agenda do governo à frente, o ministro defendeu o esforço de se aprovar a PEC do Calote no Senado ainda em 2022.

"Eu faria uma reforma administrativa agora na Câmara, tentaria aprovar Precatórios no Senado este ano ainda. O ano que vem temos Correios, temos Eletrobras, isso aí não tem problema nenhum você fazer em janeiro, fevereiro, março. O que você tem que aprovar agora são os programas sociais porque você tem que entrar rodando este ano, você não pode criar em ano eleitoral", afirmou.

Guedes defendeu que a PEC, em seu desenho final, revê o teto, empurrando para dentro do mecanismo uma série de despesas que a princípio ficariam de fora da regra que limita o crescimento anual de gastos públicos, como as relacionadas à vacinação.

"Você sabe que a aceleração da inflação levava espaço discricionário nosso. Nós íamos ter uma compressão do espaço discricionário que nenhum governo teve. Agora nós vamos manter o mesmo espaço discricionário que nós tínhamos antes, então não houve um abuso", acrescentou ele.

O ministro também afirmou que o governo tentará aprovar a reforma administrativa até o final do ano e que pede apoio nessa frente após acenar positivamente à prorrogação da desoneração sobre a folha de pagamento de alguns setores.

Mais cedo, Bolsonaro anunciou que o governo vai manter a desoneração da folha de pagamento de 17 setores, como têxtil, construção e comunicação, por mais dois anos, até o final de 2023.

"Na batalha de reoneração, evidente que estamos do lado que quer desonerar, mas pedimos apoio em contrapartida [na reforma administrativa], que aí temos R$ 30 bilhões por ano de redução de despesa que mais do que compensam R$ 8,5 bilhões da não reoneração", afirmou ele.

O ministro defendeu ainda que o fiscal brasileiro continua "muito forte" e avaliou que estados e municípios estão com finanças bem melhoradas porque o governo travou despesas, como as relacionadas à folha de pagamento do funcionalismo.

"Estamos seguindo nosso programa original", disse ele.

Guedes afirmou ainda que houve conversa informal no governo sobre a privatização da Petrobras, citando ideia de as ações da petroleira detidas pelo BNDES irem para um fundo de erradicação da pobreza.

"Um banco de desenvolvimento carregando ação da Petrobras, isso é só para engordar carteira e nós pagarmos uma boa taxa de administração para quem está trabalhando no banco público", disse.

Ele voltou a mencionar a ideia de levar a estatal para o segmento do Novo Mercado na Bolsa, argumentando que isso faria os papéis da empresa sofrerem valorização.

"Bota um fundo de erradicação da pobreza que já existe e está lá, bota umas ações da Petrobras aí dentro, que o BNDES tem, por exemplo. Diz que você vai para o Novo Mercado, você cria em três, quatro semanas R$ 150 bilhões de riqueza nova que não existia simplesmente pela arbitragem de sair de gestão pública para a gestão privada", afirmou.

"Na hora que você fizer um movimento como esse, você criou valor", defendeu.

Na véspera, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a falar sobre a privatização da Petrobras, chamando a petroleira de "monstrengo" que, segundo ele, trabalha para que seus acionistas não tenham prejuízos.

Mais cedo neste mês, a Petrobras informou que o Ministério da Economia havia encaminhado comunicação à empresa afirmando que não havia estudos para a privatização da empresa, após Bolsonaro ter feito diversas declarações sobre o tema.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.