Baixo crescimento com juros em alta cria trajetória explosiva para dívida do Brasil, diz Campos Neto

Segundo presidente do BC, piora nas projeções do PIB é componente relevante para atual cenário de fragilidade do fiscal

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que a atual fragilidade fiscal não vem apenas de ruídos em relação ao possível desajuste das contas públicas, mas também do questionamento do mercado sobre a capacidade de crescimento estrutural do Brasil.

"A grande fragilidade fiscal do momento não está ligada aos movimentos de curto prazo de melhora [das contas públicas], mas a qual é a capacidade que o país tem de crescer", disse em evento organizado pelo TCU (Tribunal de Contas da União) nesta terça-feira (14).

Ele ressaltou que o crescimento estrutural do Brasil está abaixo de outros países emergentes.

"Por que nas simulações de curva, quando coloco crescimento mais baixo e taxa de juros mais alta, a trajetória da dívida explode", afirmou.

"Esse prêmio [de risco] fiscal não está 100% associado aos ruídos de curto prazo, que se criou um gasto permanente e tem que identificar a fonte, parte sim, mas a questão qual é a capacidade que o país tem de crescer. Se o país não crescer, não vou conseguir atingir a sustentabilidade fiscal", reiterou o presidente do BC.

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, em cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília - Adriano Machado - 9.dez.2021/Reuters

Ele se referia ao novo programa social do governo, o Auxílio Brasil, que substitui o Bolsa Família. O mercado recebeu mal a manobra do governo para ampliar gastos para financiar o benefício e driblar o teto de gastos.

Campos Neto voltou a falar que o país pagou um preço alto por um desvio fiscal que foi baixo. "Isso veio da percepção de que algo estrutural estava acontecendo", concluiu.

"Claramente houve a percepção de que medidas estruturantes importantes para o brasil, como o tema dos precatórios e da reforma tributária estavam ligados ao programa de extensão do enfrentamento à pandemia", avaliou.

"A forma como foi feita [a PEC dos precatórios] de mudar o indexador [de correção] gerou algum questionamento se é violação do arcabouço ou não, não cabe ao BC dizer [...] É importante que o governo sinalize qual é tipo de arcabouço fiscal que será utilizado em médio e longo prazos", destacou.

Segundo ele, os agentes econômicos estão prevendo crescimento mais baixo para os próximos anos. "Em relação ao nível do PIB [Produto Interno Bruto], voltamos para 2014", destacou.

Na apresentação, Campos Neto mostrou que há movimento de alta de juros em todo o mundo. "Esse aperto monetário global tem uma implicação para o mundo emergente que é secar a liquidez ainda mais. Lembrando que o Brasil precisa desse investimento externo para gerar crescimento uma vez que a parte fiscal basicamente está exaurida", ponderou.

Para o titular do BC, os bancos centrais tiveram dificuldade na leitura da conjuntura e por isso não conseguiram prever a alta disseminada da inflação global e esperavam que fosse temporária.

Campos Neto ressaltou que o Brasil está em destaque em relação à alta dos preços, mas que os núcleos (sem os choques de alimentos, energia e combustíveis) estão dentro da média dos países emergentes.

"O imposto mais maligno é a inflação, é muito importante agir de forma rápida para abortar o processo de desancoragem [das expectativas]", pontuou.

Sobre câmbio, o presidente do BC reforçou que o regime é flutuante e que a autoridade monetária só vai intervir quando houver demanda no mercado por liquidez, em momentos de muita volatilidade. ​

Ele alertou para o risco de que uma intervenção maior que a necessária leve à migração de investidores que querem se proteger para outros instrumentos, como juros longos, o que geraria distorções no mercado de câmbio.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.