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Mauro Rochlin

Entenda por que a inflação disparou em 2021

Alta no preço das commodities e do dólar e distorções nas cadeias produtivas explicam resultado

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Mauro Rochlin

Doutor em Economia (UFRJ) e professor da FGV (Fundação Getulio Vargas)

A inflação, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), foi de 10,06% em 2021. Este é o terceiro pior resultado entre as 20 maiores economias do mundo. Só estamos melhores que Argentina e Turquia. Analisar o mau resultado de 2021 possibilita reconhecer eventuais erros cometidos na condução da política econômica, o que nos ajudará a evitá-los no futuro.

Três fatores são os principais responsáveis pela inflação de 2021: a forte alta no preço das commodities, a disparada do dólar ocorrida em 2020 e o desbalanceamento das cadeias produtivas globais. Vejamos, portanto, como ocorreu a emergência desses fatores e como, por consequência, houve uma forte pressão sobre os preços no Brasil.

A rápida retomada da demanda de commodities teve por efeito uma forte alta de preços já desde o último trimestre de 2020. A recuperação em "V" da economia mundial gerou uma crescente pressão sobre as matérias-primas ditas estratégicas, como petróleo, gás, minério de ferro e trigo, impactando várias cadeias produtivas. Políticas fiscais expansionistas, combinadas com políticas monetárias muito generosas, desempenharam papel central nesse movimento.

Mulher passa por posto de combustíveis no Rio de Janeiro - Pilar Olivares - 9.set.2021/Reuters

Em segundo lugar, a alta desenfreada do dólar em 2020 afetou fortemente os custos da indústria brasileira. Como o setor é muito dependente de componentes importados, a alta da moeda americana impactou os custos de importantes segmentos produtivos locais. Em 2021, os reflexos no varejo se fizeram presentes. Além disso, os chamados tradables, como soja, arroz e carne, também foram muito afetados.

A causa do descontrole cambial foi uma política fiscal um tanto temerária. A falta de previsibilidade da política de gastos do governo exacerbou a aversão ao risco dos investidores, o que acabou por afetar o dólar. Aliás, esse foi certamente o principal erro de conduta da política econômica.

Por último, a desarrumação das cadeias globais de suprimentos, resultado da paralisação compulsória imposta pela pandemia, ao restringir a oferta a nível global, também atingiu os preços. Semicondutores, material eletroeletrônico, produtos químicos, fertilizantes e outros bens intermediários cujos processos produtivos haviam sido interrompidos registraram altas expressivas. O efeito que essas cadeias de abastecimento suportaram se converteu em pressão de custos do lado da oferta.

A despeito desse quadro um tanto sombrio, também vale apontar os motivos pelos quais o mercado espera uma inflação mais baixa em 2022.

O crédito mais caro é o primeiro motivo. A taxa Selic deve superar o patamar de 11% em 2022. A combinação de taxa de juros elevada e de inflação alta levou a uma acomodação no consumo das famílias. É o que revela o PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre de 2021. Dada a elevada correlação entre consumo e inflação, a conclusão lógica é que a retração na demanda deverá auxiliar na contenção dos preços em 2022.

A taxa de câmbio estável é o segundo fator. Apesar de ainda exibir forte volatilidade, a moeda americana apresenta relativa estabilidade na comparação anual. Se a cotação do dólar se mantiver constante, e isso depende da condução da nossa política fiscal, não haverá pressão inflacionária por conta dos importados e dos tradables.

O terceiro motivo é a estabilidade no preço das commodities. No trimestre encerrado em dezembro, após quatro trimestres de alta, o Dow Jones Commodity, o índice que mede a variação de preços das principais matérias-primas negociadas na Bolsa de Mercadorias de Chicago, se manteve inalterado. Se assim permanecer, aumentam as chances de um horizonte inflacionário mais favorável.

O último fator é a robusta, ainda que lenta, recomposição das cadeias produtivas globais. Com o fim da paralisação decorrente da pandemia, os gargalos de produção vão sendo superados. Com isso, o impacto que essas cadeias de abastecimento sofreram, em termos de custos, tende a se suavizar, o que deve aliviar pressões inflacionárias advindas da oferta.

Em resumo: em 2022, a inflação, medida pelo IPCA, deve cair!

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