Descrição de chapéu Cifras &

Podcast da Casa das Garças sobre economia desde os anos 1980 deve virar livro

Ex-ministros e ex-gestores revisitam em 30 episódios reformas inconclusas, planos e crises no Brasil desde a redemocratização

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A ideia inicial era realizar uma série de encontros entre estudantes de economia e formuladores de políticas públicas. As restrições impostas pela pandemia, no entanto, ajudariam a transformar o projeto no podcast A Arte da Política Econômica, produzido pelo Instituto de Estudos de Política Econômica (Iepe)/Casa das Garças.

Composta por 30 episódios, a série reúne gestores que participaram de praticamente todos os governos desde a redemocratização e caminha agora para se tornar um ebook, projeto que está em análise pelos dirigentes da instituição.

Presente em várias plataformas de áudio, o material também está disponível no site da instituição, no qual é acompanhado por um resumo de cada entrevista e sugestões bibliográficas dos participantes —iniciativa que retoma a ideia original de ter como foco os alunos de graduação.

Os dados de audiência, no entanto, mostram que o interesse foi muito além desse público.

Edmar Bacha, sócio fundador e diretor da Casa das Garças, no instituto, no Rio
Edmar Bacha, sócio fundador e diretor da Casa das Garças, no instituto, no Rio - eo Pinheiro - 20.mai.15/Valor/Agência O Globo

José Augusto Coelho Fernandes, pesquisador do Iepe/Casa das Garças responsável pela condução das entrevistas, afirma que 76% da audiência se localiza na faixa entre 23 e 44 anos, com 94% dos ouvintes no Brasil (quase metade deles em São Paulo) e 6% no exterior, com destaque também para pessoas do mercado financeiro e profissionais da área de direito.

"Foi um resultado, em termos de audiência e impacto, acima das expectativas, já que a gente tinha pensado o programa mais voltado para um público específico de alunos de graduação", afirma.

Um recorte temporal do período abordado poderia ser simbolizado pelos episódios de abertura e encerramento da série, protagonizados, respectivamente, pelos ex-ministros da Fazenda Mailson da Nóbrega (governo Sarney) e Pedro Malan (governo FHC).

Mas há também nomes que passaram pelo primeiro governo Lula, como os ex-secretários do Ministério da Fazenda Murilo Portugal e Marcos Lisboa, e pela gestão Michel Temer, como a ex-secretária do Tesouro Ana Paula Vescovi e a ex-presidente do BNDES Maria Silvia Bastos Marques.

Os episódios são agrupados por temas, como a formulação do Plano Real, gestões de crise, construção de instituições e reformas inconclusas.

Para falar sobre o Plano Real, foram escalados Edmar Bacha, sócio fundador e diretor da Casa das Garças, e os ex-presidentes do BC Persio Arida e Gustavo Franco.

Elena Landau, Ricardo Paes de Barros e Paulo Tafner participam da sequência sobre reformas microeconômicas. Ana Carla Abrão, Bernard Appy e Claudia Costin, sobre reformas inconclusas.

Quando lhe foi perguntado sobre a ausência de gestores dos governos Lula 2 e Dilma Rousseff, de 2007 a 2016, e da atual gestão, Fernandes respondeu que foi dada preferência a profissionais que já participavam de atividades junto ao instituto, além de especialistas em alguns assuntos específicos. O Iepe/Casa das Garças é uma instituição identificada com o pensamento econômico mais ortodoxo e distante de políticas intervencionistas tanto à esquerda como à direita.

Fernandes afirma que o objetivo da série é servir como registro histórico sobre a prática da política econômica no Brasil desde os anos 1980, além de buscar lições para o presente.

Uma questão frequentemente citada pelos participantes é a evolução de algumas propostas e políticas públicas que ficaram à espera de uma oportunidade para se tornarem viáveis.

"Essa é uma das conclusões que são repetidas por vários expositores. De que muitas vezes o que fizeram foi buscar dentro da própria estrutura de governo propostas que já estavam prontas e não tinham encontrado a janela de oportunidade para serem implementadas", afirma José Augusto.

Ele também destaca os conselhos que ficam para futuros gestores. Embora, em alguns casos, as palavras possam ser aplicadas aos atuais detentores do poder. Ou excesso de poder, como fala o ex-ministro Mailson da Nóbrega.

"No ministério, a preocupação da equipe econômica deve se sobrepor aos interesses de expansão de poder, já que, por natureza, devido às grandes atribuições dadas ao ministro da Fazenda, ele já é uma figura basilar. Dessa forma, para aquele que venha exercer a função de ministro, cabe priorizar a suas funções e esquivar-se do excesso de centralização."

Temas dos episódios

Crise dos Anos 80
Mailson da Nóbrega

Plano Real
Edmar Lisboa Bacha
Persio Arida
Gustavo Franco

Gestão de Crises
Arminio Fraga
Pedro Parente
Murilo Portugal
Amaury Bier
Eduardo Guardia

Regimes Monetários e Fiscais
Gustavo Loyola e Eduardo Guimarães
Sergio Werlang
Ilan Goldfajn
Ana Paula Vescovi
Cristiane Schmidt

Reformas Microeconômicas
Marcos Lisboa
Elena Landau
José Márcio Camargo
Ricardo Paes de Barros
Paulo Tafner
Maria Silvia Bastos Marques

Reformas Inconclusas
Ana Carla Abrão
Bernard Appy
Sandra Rios
Claudia Costin
Joana Monteiro
Juliano Assunção

Liderança e Arte da Política Econômica
Paulo Hartung
Marcílio Marques Moreira
Pedro Malan

Frases

Garantir a organização da educação, conectividade, saúde e saneamento, qualidade de habitação popular e de transporte público é o que deve fazer parte do portfólio estatal, não a detenção de empresas ainda que autossuficientes

Elena Landau

Ex-diretora de Desestatização do BNDES e presidente Nacional do Livres

Não existe solução monetária para uma situação fiscal insustentável a médio e longo prazo. Com uma inflação que já acumulava mais de 2000% em 1993, a resolução da questão fiscal era primordial para a estabilidade que viria com a criação da URV

Pedro Malan

Ex-ministro da Fazenda

A taxa de juros subsidiada era privilégio de um grupo específico de tomadores de crédito; os não contemplados eram duplamente prejudicados, pois, além de não terem acesso ao subsídio, tinham de se submeter a uma taxa de juros ainda mais elevada

Maria Silvia Bastos Marques

Ex-presidente do BNDES

"A esperança é que possa haver um maior crescimento no Brasil e de forma mais justa (…) Espera-se não apenas o crescimento mas também a geração de oportunidades e mobilidade social, para que se reduza a vulnerabilidade a demagogias e populismos que vieram a ser um embargo não só no Brasil mas também na América Latina

Arminio Fraga

Ex-presidente do Banco Central e sócio fundador da Gávea Investimentos

Há sinais evidentes do enfraquecimento gradual das regras fiscais dentro dos Três Poderes no Brasil. (…) um compromisso entre gerações é fundamental para aumentar o potencial de crescimento e a capacidade do Estado de atender às demandas por bens públicos

Ana Paula Vescovi

Economista-chefe do Banco Santander e ex-secretária do Tesouro

Para esses ajustes [fiscais no ES], a comunicação foi fundamental. A começar pelos servidores públicos; não se pode idealizar um processo de ajuste fiscal sem um diálogo sólido com esse grupo

Paulo Hartung

Ex-governador do Espírito Santo e presidente da Indústria Brasileira de Árvores

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.