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Sérvia revoga licenças de empresa anglo-australiana após deportação de Djokovic

Governo acata protestos de oposição a da mineradora por motivos ambientais

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Belgrado | Reuters

A Sérvia revogou as licenças de exploração de lítio da empresa de mineração Rio Tinto na quinta-feira (21), curvando-se aos protestos que se opunham ao desenvolvimento do projeto pela anglo-australiana, por motivos ambientais.

A primeira-ministra sérvia Ana Brnabic disse que a decisão do governo veio depois de solicitações de diversas organizações ecológicas pela paralisação do projeto de lítio de Jadar, de US$ 2,4 bilhões (R$ , que, se completado, ajudaria a Rio Tinto a se tornar uma das 10 maiores produtoras mundiais de lítio.

"Todas as decisões (relacionadas ao projeto de lítio) e todas as licenças foram anuladas", disse Brnabic a jornalistas depois de uma reunião do governo. "No que tange ao projeto Jadar, esse é o fim".

Alguns dias atrás, a Rio Tinto havia alongado o cronograma para a produção inicial de lítio em Jadar para 2027, mencionando que algumas aprovações cruciais estavam demorando mais do que o esperado.

A Rio Tinto se declarou "extremamente preocupada" com a decisão da Sérvia e disse que estava revisando sua base legal.

A empresa decidiu levar adiante o projeto apenas no ano passado, em meio aos esforços das mineradoras para desenvolver a produção de metais necessários para a transição rumo à energia verde, que incluem o lítio, usado na fabricação de baterias para veículos elétricos.

A mina deveria produzir lítio suficiente para acionar um milhão de veículos elétricos, além de ácido bórico, usado em produtos cerâmicos e baterias, e sulfato de sódio, usado em detergentes. Em plena capacidade, a mina deveria produzir anualmente 58 mil toneladas de carbonato de lítio refinado para a produção de baterias, o que a tornaria a maior mina europeia de lítio pelo critério de volume de produção.

Brnabic acusou a Rio Tinto de fornecer informações insuficientes sobre o projeto às comunidades envolvidas. Em comunicado, a mineradora afirmou que "sempre operou com completo respeito" às leis servias.

Milhares de pessoas bloquearam estradas no ano passado em protesto contra o apoio do governo ao projeto, exigindo que a Rio Tinto deixe o país e forçando o município que sediaria a mina a abandonar seus planos para destinar terras à instalação.

A decisão da quinta-feira surge quando a Sérvia se aproxima de uma eleição geral, marcada para abril, e em um momento de conflito no relacionamento entre Austrália e Sérvia depois que o astro do tênis Novak Djokovic, sérvio, foi deportado pelas autoridades australianas por ter violado as normas do país quanto à Covid-19.

Djokovic mesmo se pronunciou em favor do "ar limpo" em uma história postada no Instagram em dezembro, com uma foto dos protestos contra a mina, publicada pelo site esportivo The Bridge.

Usuários do Twitter não demoraram a publicar brincadeiras sobre a deportação da Rio Tinto pela Sérvia.

A coalizão populista que governa a Sérvia, liderada pelo Partido Progressista Sérvio (SNS, na sigla em sérvio), tinha expressado apoio à mineração de lítio e cobre, uma postura que a expôs a críticas e ajudou a erodir a confortável maioria conquistada pelo grupo na eleição de 2020.

Sasa Djogovic, do Instituto de Pesquisa de Mercado, sediado em Belgrado, disse que o partido governista "está perdendo popularidade e por isso foi forçado a ceder às exigências dos ativistas".

A coalizão liderada pelo SNS deve convocar eleições legislativas e presidenciais para 3 de abril, embora a data ainda não tenha sido oficialmente confirmada pelo presidente Aleksandar Vucic.

"Estamos ouvindo o povo e nosso trabalho é proteger seus interesses mesmo quando discordamos", disse Brnabic na quinta-feira.

O projeto de Jadar, um dos maiores investimentos estrangeiros na Sérvia, era parte dos esforços do governo para atrair investimento e estimular o crescimento econômico. Mas organizações ambientalistas na Sérvia, um país pesadamente prejudicado pela poluição ambiental, dizem que a nova mina poluiria o solo e a água na área.

No começo do mês, Brnabic disse que o projeto provavelmente seria suspenso até depois da eleição.

"Um compromisso deve ser obtido depois das eleições, e pode haver uma renegociação de royalties ou compartilhamento de valores", disse um acionista da Rio Tinto, que não permitiu que seu nome fosse mencionado.

O projeto era tecnicamente complexo, com a Rio Tinto desenvolvendo tecnologia a fim de extrair, a custo viável, lítio da jadarita, um minério que só foi encontrado até hoje no vale sérvio de Jadar.

"A Sérvia historicamente não é uma jurisdição de mineração, e não imagino que outra empresa busque desenvolver um projeto por lá", disse o analista Ben Davis, do banco de investimento Liberum.

Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci

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