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China recorre a crédito para acelerar economia; entenda como

Governo quer fazer a atividade 'pegar no tranco'; endividamento é preocupação

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Peng Qinqin Tang Ziyi
Pequim | Caixin

Pequim está tentando fazer com que a deprimida economia chinesa pegue no tranco, com uma nova injeção de liquidez, e o relaxamento de crédito parece ser a ferramenta preferida das autoridades.

"Vamos acelerar a implementação de uma política monetária prudente, disse o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, no relatório de trabalho do governo do país para 2022, apresentado ao Legislativo em 5 de março. "Usaremos ferramentas de política monetária tanto para ajustar a base monetária quanto para oferecer apoio mais robusto à economia real".

As promessas do primeiro-ministro surgem em meio a um declínio na demanda por crédito e em um momento no qual a rápida recuperação econômica pós-Covid-19 começa a ratear.

Bandeira chinesa em Pequim - Florence Lo - 31.mar.2022/Reuters

A expansão do financiamento social total (TSF), um amplo indicador do crédito e liquidez disponíveis na economia, sofreu desaceleração pela maior parte do ano passado. No quarto trimestre, um indicador da demanda geral por empréstimos caiu pelo terceiro trimestre consecutivo, tanto em termos anuais quanto ante o trimestre anterior, de acordo com um relatório sobre uma pesquisa entre executivos financeiros divulgado pelo banco central da China.

Economistas antecipam que o banco central promova novos cortes das taxas de juros e dos requisitos de reserva bancária este ano, embora alguns deles estejam preocupados com a possibilidade de que a guerra entre a Rússia e a Ucrânia possa gerar mais pressão inflacionária, o que criaria obstáculos para o relaxamento monetário.

Procura dos chineses por crédito está fraca, e governo quer revertê-la

Nos últimos meses, o governo chinês vem tomando uma série de medidas para elevar a disponibilidade de crédito, mas a demanda por crédito continua fraca.

Em dezembro, o banco central da China reduziu os requisitos de reserva das instituições financeiras, que determinam que proporção de seus ativos as instituições precisam manter depositados no banco central, o que resultou em uma injeção de 1,2 trilhão de yuan (R$ 874,8 bilhões) no sistema financeiro.

Em 17 de janeiro, o banco central reduziu a taxa de juros sobre sua linha de empréstimos de médio prazo com vencimento em um ano (MLF), o primeiro corte desde abril de 2020. No dia seguinte, Liu Guoqiang, vice-presidente do banco central, prometeu que a instituição "abriria mais a caixa de ferramentas monetárias, manteria a estabilidade da base monetária e evitaria um colapso do crédito".

A despeito desses indicadores, o crescimento do crédito perdeu força em fevereiro, depois de um começo forte do ano no mês anterior. Em fevereiro, os novos empréstimos denominados em yuan atingiram um total de 1,23 trilhão de yuan (R$ 896,6 bilhões), ante o recorde de quase 4 trilhões de yuan (R$ 2,9 bilhões) no mês anterior, e o 1,36 trilhão de yuan (R$ 991,4 bilhões) de fevereiro de 2021, de acordo com dados do banco central. Também naquele mês, o financiamento social total novo caiu a 1,9 trilhão de yuan (R$ 1,4 trilhão) ante o recorde de 6,17 trilhões de yuan (R$ 4,5 trilhões) em janeiro e o 1,72 trilhão de yuan (R$ 1,2 trilhão) de fevereiro de de 2021.

Os números de fevereiro ficaram ambos abaixo das expectativas do mercado. Mesmo levando em conta o feriado de sete dias do Ano-Novo chinês, encerrado em 6 de fevereiro, os números mostram que a demanda por crédito na economia real era fraca, disseram analistas. A expansão do crédito foi propelida principalmente pelas medidas do governo, e não pela demanda do mercado, alguns deles afirmaram.

A demanda fraca por crédito indica que ainda existe pressão de baixa sobre a economia, disseram analistas. Como resultado, é provável que haja cortes de juros em curto prazo.

Por que o banco central da China enfrenta restrições para cortar juros

Mas o espaço de ação da política monetária chinesa pode ser reduzido pela guerra da Rússia contra a Ucrânia, de acordo com Ren Zeping, antigo economista chefe do Evergrande Group na China. A invasão de Moscou ao país vizinho forçou alta nos preços mundiais das commodities e aumentou o risco de que a China importe inflação.

Desde que a guerra começou, em 24 de fevereiro, o banco central chinês vem mantendo uma cautela maior quanto ao ritmo das reduções nos requisitos de reserva. Em 15 de março, o banco central inesperadamente manteve inalterada a taxa de juros sobre sua MLF de um ano, contrariando as previsões de um corte.

Ainda assim, alguns economistas argumentaram que o risco de inflação mundial terá pouco impacto sobre a política monetária chinesa. Xu Gao, economista chefe da BOCI Securities, disse que a pressão inflacionária interna não é pesada, porque o governo relaxou as restrições sobre a produção de energia que impulsionaram a inflação no ano passado. Além disso, Xu também antecipa que os custos crescentes da indústria e das companhias de mineração não poderão ser repassados facilmente aos consumidores, o que significa que a pressão inflacionária derivada disso será limitada.

Economistas da Nomura Holdings afirmaram em uma nota de pesquisa divulgada em 15 de março que é altamente provável que o banco central chinês reduza as taxas de juros da MLF de um ano e dos acordos de recompra reversa de sete dias em sua reunião de abril; a redução estimada é de 0,1%. Eles também anteciparam que as taxas dos títulos nacionais de empréstimo de um e cinco anos seriam reduzidas em 0,1% em abril. Nos próximos meses, o banco central chinês provavelmente reduzirá em 0,5% o seu requisito de reserva para os bancos.

Zhong Zhengsheng, economista chefe da corretora Ping An Securities, disse que o efeito inicial das políticas de relaxamento de crédito e as consequências do aperto na política monetária dos Estados Unidos farão com que o banco central chinês aja com mais cautela quanto aos momentos de cortes gerais de juros ou requisitos de reserva. O banco central pode preferir usar ferramentas monetárias estruturais a fim de oferecer apoio de crédito a alguns setores, segundo Zhong.

O relatório de trabalho do governo afirmava que mais fundos serão direcionados a campos importantes, bem como às áreas mais fracas da economia. O relatório também enfatizava que as instituições financeiras devem "impedir que surjam restrições setoriais de empréstimo, demandas de pagamento antecipado de empréstimos, e suspensão arbitrária de acordos de empréstimo".

As declarações surgiram em um momento no qual muitas instituições financeiras chinesas estão relutando em emprestar dinheiro ao setor de imóveis, depois da crise de dívida que abalou as empresas imobiliárias por conta de esforços do governo para combater o superaquecimento do mercado da habitação no ano passado. Ainda que as autoridades regulatórias das finanças tenham tomado medidas para corrigir as reações exageradas dos emprestadores às regras governamentais, as atividades de financiamento continuam fracas no setor imobiliário.

Em fevereiro, 100 grandes empresas imobiliárias chinesas monitoradas pela consultoria China Real Estate Information captaram um total combinado de 39,8 bilhões de yuan, 58,8% abaixo do total do mês no ano anterior e 58,9% abaixo do total de janeiro, de acordo com um relatório divulgado pela empresa. Dados do banco central chinês demonstram que os empréstimos de médio e longo prazo a famílias, o que inclui empréstimos hipotecários, caíram em 45,9 bilhões de yuan em fevereiro ante o mês anterior, a primeira queda em mais de uma década.

Os imóveis há muito vêm sendo um pilar do crescimento econômico da China, e há quem se preocupe com a possibilidade de que essa crise pese sobre o crescimento econômico. Xu, o economista da BOCI, declarou que o governo precisa aumentar o apoio de crédito às imobiliárias e aos compradores de casas este ano, se quer relaxar as condições de crédito na economia.

Mas é provável que o governo não deseje tirar dos trilhos seu esforço em longo prazo para reduzir o endividamento do setor imobiliário.

"Ainda que os governos locais continuem a reduzir algumas restrições locais às operações imobiliárias, o ritmo parece moderado e continuamos a acreditar que Pequim vá manter a maioria de suas grandes restrições no setor de imóveis", afirmaram economistas da Nomura em uma nota de pesquisa na sexta-feira (1º).

Há esperanças em algumas áreas, porém. Por exemplo, as autoridades prometeram oferecer apoio aos grupos imobiliários que constroem moradias para locação de baixo preço, e para as empresas que precisam de crédito para adquirir rivais que enfrentam dificuldades.

Tradução de Paulo Migliacci

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