A empresa Três Lobos, dona da marca Backer, que produzia a cerveja Belorizontina, anunciou nesta sexta-feira (8) que vai retomar a produção no seu parque industrial em Belo Horizonte.
O anúncio acontece dois anos e três meses após serem tornados públicos os primeiros casos de intoxicação na capital mineira que, posteriormente, foram confirmados como ocorridos por causa da ingestão da Belorizontina.
Pelo menos 29 pessoas foram contaminadas. Dez morreram. Algumas ainda sofrem com sequelas provocadas pela intoxicação que, conforme investigação da Polícia Civil, ocorreu por dietilenoglicol, uma substância utilizada para refrigeração de tanques.
A investigação concluiu que havia furos nos dutos que transportavam a substância no entorno dos tanques onde a cerveja era armazenada. Esses tanques também tinham furos, o que permitiu a passagem do dietilenoglicol. Por causa das intoxicações, a empresa foi interditada.
Em nota, a Três Lobos afirma que obteve "a aprovação para a retomada da produção de cervejas em seu parque industrial", e que "o processo de reabertura contou com o acompanhamento das autoridades e órgãos competentes e observou todos os critérios legais e técnicos".
Uma das pessoas que foram contaminadas ao consumir a Belorizontina, o técnico em segurança em tecnologia Vanderlei Vanderlei de Paula Oliveira, 39, classificou como "estranha" a volta da empresa.
"É muito ruim isso. Fomos deixados de lado, em segundo plano", disse. Assim como outras vítimas, Vanderlei não recebeu indenização pelo fato de ter sido contaminado.
O técnico em segurança em tecnologia passa 12 horas por semana fazendo hemodiálise desde que foi internado depois de beber a Belorizontina. Segundo Vanderlei, o que a empresa faz atualmente é pagar uma ajuda de custo para o tratamento.
O inquérito da Polícia Civil indiciou 11 pessoas, entre os proprietários da empresa e funcionários, por homicídio culposo (quando não há intenção de matar), lesão corporal e intoxicação alimentícia.
O indiciamento foi acatado pela Justiça e o processo corre no Fórum Lafayette, a primeira instância da Justiça de Minas Gerais em Belo Horizonte.
Segundo a empresa, a primeira marca a ser produzida será a Capitão Senra.
A retomada da produção pela Três Lobos foi colocada em andamento ainda em 2020. Em junho daquele ano, a empresa pediu ao Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) novo registro para voltar a produzir cerveja. Em julho de 2021 foi cumprida a primeira etapa do processo, que envolvia a checagem de equipamentos.
Foi iniciada, então, a segunda fase, que se referia ao funcionamento da linha de produção. A empresa, nessa etapa, teve que simular a fabricação de cerveja utilizando apenas água, passando pelas panelas de fervura, tanques e envase.
A sequência dos procedimentos envolvia o envio desse "produto" para análise laboratorial. Caso não fossem encontrados problemas, passaria-se à fase final para retorno ao mercado, que consiste na produção da cerveja, que também passaria por análises laboratoriais.
O Ministério da Agricultura informou que a liberação é parcial e vale para "duas adegas no parque industrial da empresa". As adegas são polos com vários tanques de produção. A empresa possui quatro adegas.
No momento, por decisão da empresa, segundo o ministério, apenas duas iniciaram operação e foram submetidas a procedimentos de controle de produção pelo Mapa. "As outras duas adegas só poderão ser liberadas quando entrarem em funcionamento e puderem ser testadas", explica o ministério.
Segundo o ministério, "a empresa atendeu às exigências feitas para garantir a segurança dos produtos, referentes às condições dos tanques de fermentação e equipamentos que serão utilizados neste retorno".
Conforme a pasta, a cervejaria ainda substituiu, em seu processo de produção, o fluido refrigerante por solução hidroalcoólica, que contém água e álcool.
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