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Gasolina e grãos espalham inflação por todas as faixas de renda, mostra FGV

Poupada no início da pandemia, alta renda agora sente alta de preços

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São Paulo

A escalada do preço do petróleo e dos grãos fará com que a inflação afete famílias de todos os níveis de renda com intensidade muito próxima em 2022, situação diferente daquela observada no início da pandemia, quando pesou mais sobre a baixa renda.

Essa é a expectativa dos economistas Aloisio Campelo Jr. e André Braz, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), responsáveis pelo estudo "A pressão da inflação da pandemia sobre as famílias mais pobres". O trabalho analisa o comportamento da alta de preços por faixa de renda desde 2020.

A projeção dos pesquisadores é de uma inflação de 7% neste ano para o IPCA, índice do IBGE utilizado como meta para o Banco Central. No ano passado, ficou acima de 10%.

Imagem da placa em posto de combustível
Em Marechal Thaumaturgo (Acre), gasolina ultrapassa os R$ 10 - Reprodução Instagram / @cesariobraga - 11.mar.2021

Considerando a inflação acumulada de fevereiro de 2020 a fevereiro de 2022, o IPC-FGV (índice de preços ao consumidor da Fundação) teve alta de 15,2%. A inflação das famílias de renda mais baixa foi de 16,8%. Para a renda mais alta, de 13,6%.

Essa diferença se explica, principalmente, pelos dados de 2020, quando as pressões inflacionárias ficaram muito concentradas entre os alimentos, classe de despesa que compromete mais o orçamento de famílias menos favorecidas, seguida pelos gastos com habitação, que também têm peso decrescente conforme cresce o nível de renda.

Para os mais pobres, os itens que mais pesaram naquele ano foram energia elétrica, arroz e gás de botijão. Para os mais ricos, automóvel novo, conta de energia e passagem aérea.

Em 2021, a alta da gasolina surgiu como um novo fator de pressão para a inflação. Esse item tem maior peso para os mais ricos: representa 5% do consumo, o mesmo peso que o gás tem para os mais pobres. Na baixa renda, a gasolina representa apenas 1,6% dos gastos.

"Em 2020, o rico ficou mais rico, com desconto em escola, adiamento de reajuste de plano de saúde, e o pobre ficou mais pobre, porque os alimentos subiram muito. Em 2021, não houve uma dispersão tão grande na percepção de inflação", afirma André Braz.

Para 2022, os dois pesquisadores esperam uma repetição do que ocorreu no ano passado em relação à distribuição da inflação, embora a lista de produtos que vão contribuir para isso seja diferente.

Segundo eles, a escalada do preço do petróleo e dos grãos, sobretudo trigo, fará com que a inflação afete famílias de todos os níveis de renda, sendo, mais uma vez, um fenômeno negativamente democrático, que afetará toda a população brasileira.

"No primeiro ano da pandemia, a inflação de alguma forma poupou um pouco as classes mais altas. Depois, continuou alta para as famílias de baixa renda, se espalhou e pegou todo mundo", afirma Campelo.

"[Agora] Você tem muitas fontes de pressão para tudo que é lado. Esses 7% vão acabar sendo uma inflação para todas as classes."

De acordo com o estudo, os maiores aumentos neste ano devem ser dos combustíveis fósseis, seguidos por alimentos, bens duráveis e serviços.

Braz cita alguns fatores que devem fazer com que a inflação seja mais uniforme para todas as famílias neste ano.

A redução da tarifa de energia beneficiará os mais pobres. Esse item representa quase 10% do consumo na faixa de menor renda e menos de 3% para os mais ricos.

A alta dos alimentos, por outro lado, prejudica a baixa renda, pois representa 25% do consumo. O peso é de 17% entre os mais ricos, segundo dados de 2021.

O aumento dos combustíveis tem efeitos diretos e indiretos. Para os mais ricos, o maior impacto se dá na gasolina. Para os pobres, no gás de botijão. Nos dois casos, o peso é de cerca de 5% dos gastos.

Indiretamente, esses aumentos também tendem a encarecer produtos e serviços, afetando mais a alta renda. Repasses para tarifas de ônibus, muitas congeladas por causa das eleições, prejudicariam os mais pobres.

Braz afirma que a desaceleração da inflação depende também da manutenção de alguma valorização do real frente ao dólar. Esse é um fator que tende a beneficiar todas as classes por conta de efeitos diretos e indicadores sobre os preços de commodities. Ou pelo menos mitigar parte da alta desses produtos que se acentuou após a invasão da Ucrânia pela Rússia.

No ano passado, a inflação para as famílias com renda de até 1,5 salários mínimos foi de 8,9%. Para aquelas com rendimentos de 11,5 a 33 salários mínimos (faixa abrangida pelo IPC-S) foi de 8,7%. Em 2020, ficaram respectivamente em 7% e 4,3%.

O índice de preços ao consumidor da FGV ficou em 9,34% no ano passado, com impacto acima dessa média em algumas das faixas de renda intermediária (ver tabela). O indicador difere do IPCA/IBGE, que superou 10% em 2021, em relação a aspectos como abrangência geográfica.

O trabalho considera a divisão da população por decis de renda —cada faixa abrangendo 10% das famílias— de acordo com a separação feita na POF (Pesquisa de Orçamento Familiar) do IBGE, mas considerando as regiões alcançadas pelo IPC-S: Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador.

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