Descrição de chapéu inflação juros

Inflação de abril fica em 1,06% e atinge 12,13% em 12 meses

Principais impactos vieram de alimentação e bebidas e dos transportes

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São Paulo

A inflação medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor - Amplo) bateu em 1,06% em abril, segundo informou nesta quarta-feira (11) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

É a maior variação para o mês desde 1996. Em 12 meses até abril, a inflação ficou em 12,13%, maior patamar desde outubro de 2003 (13,98%). Em março de 2022, o IPCA já havia pesado no bolso dos brasileiros, atingindo o maior patamar em 28 anos e subindo 1,62%.

Em abril, os principais impactos vieram de alimentação e bebidas (2,06%) e dos transportes (1,91%). Juntos, os dois grupos contribuíram com cerca de 80% do IPCA de abril.

Cliente faz compras em supermercado de São Paulo
Cliente faz compras em supermercado de São Paulo - Rubens Cavallari - 27.abr.22/Folhapress

O resultado para o mês veio em linha com o esperado por analistas do mercado. Aqueles ouvidos pela agência Bloomberg esperavam alta de 1,01%, na comparação mensal, e de 12,07% na anual.

Em alimentos e bebidas, a alta foi puxada pela elevação dos alimentos para consumo no domicílio (2,59%). O leite longa vida teve alta de 10,31%. Também houve aumento em itens, como a batata-inglesa (18,28%), o tomate (10,18%), o óleo de soja (8,24%), o pão francês (4,52%) e as carnes (1,02%).

Para o óleo de soja, o resultado está mais relacionado à alta das commodities, que acaba influenciando nos custos de produção. Nos alimentos in natura, como a batata-inglesa e o tomate, houve problemas de colheitas, explica o pesquisador. Para o leite, pesaram os custos de produção.

Entre as capitais, no mês, a maior alta foi no Rio de Janeiro, de 1,39%, enquanto Salvador teve a menor variação em abril, de 0,67%. Em 12 meses, a maior variação foi em Curitiba (14,82%).

No caso dos transportes, a elevação foi puxada, sobretudo, pelo aumento nos preços dos combustíveis que continuaram subindo (3,20%). Assim como no mês anterior, o destaque foi a gasolina (2,48%), produto com maior na alta do índice do mês (0,17 p.p.).

Combustíveis Variação no mês Variação em 12 meses
Etanol 8,44% 42,11%
Óleo diesel 4,74% 53,58%
Gás de botijão 3,32% 32,34%
Gasolina 2,48% 31,22%

A expectativa é de novos impactos nos próximos meses, com os aumentos dos combustíveis. Desde a última terça-feira (10), está valendo o novo aumento do diesel anunciado pela Petrobras, de 8,87% nas refinarias, o que significa uma mudança de R$ 0,40 no litro do combustível —de R$ 4,51 para R$ 4,91.

O aumento de maio deve deixar a inflação do diesel próxima de 60% em 12 meses, encarecendo fretes, transporte público e máquinas agrícolas, segundo economistas.

A elevação no preço do diesel —que interfere diretamente no cotidiano dos caminhoneiros e indiretamente nos preços de produtos transportados— ocorre menos de dois meses após a última alta, em 11 de março, quando o litro do combustível ficou R$ 0,90 mais caro.

O IPCA também registrou aceleração do grupo Saúde e cuidados pessoais (1,77%), que decorre principalmente da alta observada nos preços dos produtos farmacêuticos (6,13%).

Por outro lado, o que ajudou a frear o IPCA em abril, na comparação com março, foi a queda da energia elétrica, diz André Filipe Guedes Almeida, do IBGE. O grupo habitação (-1,14%) foi o único a apresentar variação negativa em abril, devido à queda nos preços da energia elétrica (-6,27%), devido às mudanças nas bandeira tarifária ocorridas naquele mês, explica o pesquisador.

INFLAÇÃO FICA MAIS 'ESPALHADA' EM ABRIL

Mesmo em desaceleração, na comparação com março, a inflação se espalhou ainda mais em abril, com índice de difusão de 78,25%. Os produtos alimentícios tiveram difusão de 79% (ante 74% no mês anterior), já os não alimentícios, de 78%. A difusão de abril é a mais alta desde janeiro de 2003 (85,94%).

Este é um dos indicativos mais importantes registrados pelo IPCA no mês, avalia o economista e pesquisador André Braz, do Ibre FGV (Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas).

"Esse espalhamento das pressões inflacionárias é preocupante, por significar que a inflação está presente em tudo aquilo que nós consumimos no cotidiano e aumenta a persistência da inflação, colocando uma dúvida na mesa: até onde o Banco Central terá de atuar no aumento de juros?"

Ele reforça que o BC já sinalizou que poderá voltar a subir os juros e isso deve mesmo acontecer. "Dentro desse contexto, bens duráveis tiveram altas e serviços, como táxi e passagens aéreas, registraram aumentos. O desafio do BC hoje é grande."

Nos itens de serviços, que avançaram 0,66% no mês, as passagens aéreas foram responsáveis pela maior pressão de preços (9,48%). Em 12 meses, os serviços avançaram 6,94% (ante 6,29% em março). "Temos um cenário de retomada de empregos e precisamos aguardar para ver como isso vai pesar nos próximos meses sobre a demanda por serviços", diz Almeida. "A alta de custos, principalmente de combustíveis e gás de botijão, tem influenciado mais na alta de inflação do que a alta de serviços."

No mês anterior, a inflação dos alimentos que fazem parte da cesta básica havia disparado no Brasil, superando a marca de 20% no acumulado de 12 meses, de acordo com um estudo de economistas da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná).

O levamento cita que a alta de preços veio em um contexto de pressões do clima adverso, do encarecimento dos custos de fretes e da Guerra da Ucrânia.

"Apesar do resultado bem próximo, é preciso destacar dois grandes desvios concentrados e antagônicos que se anularam. O primeiro é no item de higiene pessoal, que veio acima do esperado. Na contramão gasolina teve resultado mais baixo do que o projetado, visto que subiu 'apenas' 2,48%, frente à perspectiva de alta de 3,5%", diz Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos. ​

  • Maiores variações, no mês:
Batata inglesa 18,28%
Morango 17,66%
Maracujá 15,99%
Couve-flor 13,25%
Açaí 11,73%
  • Maiores variações, em 12 meses:
Cenoura 178,02%
Tomate 103,26%
Abobrinha 102,99%
Melão 82,46%
Morango 70,39%

PRÓXIMOS MESES AINDA SERÃO DESAFIADORES, AVALIAM ANALISTAS

Desde setembro passado, a inflação oficial do país, medida pelo IPCA, está em dois dígitos no acumulado de 12 meses. O índice está bem distante da meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central) —que tem centro de 3,50% e teto de 5%.

O mercado já trabalha com essa perspectiva. O Credit Suisse, por exemplo, aumentou nas últimas semanas suas expectativas para a inflação ao consumidor do Brasil a 8,3% neste ano e 4,6% no próximo, citando as surpresas sucessivas em relação à disseminação da alta dos preços e previsão de um ambiente internacional mais desafiador.

O Citi, por sua vez, elevou a expectativa de alta do IPCA neste ano para 7,8%, com a percepção de deterioração persistente do cenário inflacionário e aposta em alta dos juros básicos para 13,25% até junho.

Já os analistas consultados pelo mais recente boletim Focus, do Banco Central, esperam que a inflação fique em 7,89% em 2022 —ante previsão anterior, de alta de 7,65%.

Caso as estimativas se confirmem, este ano vai ser o segundo consecutivo em que a meta de inflação é descumprida. Em 2021, o IPCA teve alta de 10,06%. Além disso, se estourar a meta em 2022, a inflação deste ano poderá contaminar também o ano que vem.

Para evitar que isso ocorra, o Banco Central tem aumentado seguidamente os juros básicos. Na última reunião do Copom (Comitê de Políticas Monetárias), a taxa Selic foi elevada novamente em 1 ponto percentual, passando de 11,75% para 12,75% ao ano, maior patamar desde 2017.

Além disso, aumentou a expectativa de que a economia deve desacelerar. O Copom avalia que o aperto das condições financeiras cria um risco de desaceleração do crescimento econômico, mais forte que o antecipado nos próximos trimestres.

"Nos itens mais voláteis, continua se destacando o aumento do preço da gasolina, com impacto maior e mais rápido do que era previsto", disse o comitê, por meio de sua ata.

O BC também ressalta que os preços de serviços e de bens industriais se mantêm elevados e que os recentes choques ligados ao conflito no leste da Europa e à política chinesa de combate à Covid-19 levaram a um forte aumento nos componentes ligados a alimentos e combustíveis.

O resultado de abril fez com que o BofA (Bank of America) revisasse as previsões para maio (de 0,34% para 0,40%) e junho (de 0,25% para 0,47%). "Ainda acreditamos que a inflação já atingiu seu pico e esperamos uma maior desaceleração pela frente. [O resultado] corrobora nossa visão de que o BC aumentará a Selic para 13,25% em junho."

Já o Itaú Unibanco projeta que o IPCA vai ficar em 0,49% em maio, 0,52% em junho e 0,67% em julho. "Esperamos alta de 8,5% em 2022 e 4,2% em 2023. O balanço de riscos para nossa projeção de inflação neste ano segue assimétrico para cima, dado que vemos a possibilidade de novas altas nos preços internacionais do petróleo e derivados."

Braz concorda que é esperado que o IPCA de maio desacelere ante abril e que seja beneficiado pela queda da tarifa de energia (que já ajudou na inflação).

"Se a Petrobras não aumentar novamente a gasolina, vamos ter uma estabilidade nos combustíveis. Vamos ter ajuda da energia e, talvez, um alívio nos preços dos alimentos. Mas mesmo essa desaceleração não deve fazer o BC mudar a perspectiva de alta dos juros."

"A perspectiva para os próximos meses é de desaceleração na inflação mensal, dada a continuação dos impactos do início da bandeira verde para energia elétrica e uma menor alta dos alimentos, por conta da sazonalidade favorável. No entanto, com a defasagem da gasolina acima de 20% nas refinarias, devemos observar algum reajuste para os próximos dias, com repasse para o consumidor", avalia Felipe Rodrigo de Oliveira, economista da MAG investimentos.

A alta dos preços que é sentida todos os dias pelos brasileiros é um tema caro ao governo de Jair Bolsonaro (PL), que deve tentar a reeleição em outubro.

O temor do presidente é que o impacto da ida ao supermercado e ao posto de gasolina pese na escolha do eleitor, e o governo tem atribuído as altas de preços a fatores externos —como as medidas de distanciamento na pandemia, a própria Guerra da Ucrânia e os aumentos de combustíveis feitos pela Petrobras.

Segundo uma pesquisa Datafolha publicada no fim de março, no entanto, 75% dos brasileiros responsabilizavam o governo Bolsonaro pela alta da inflação.

Por meio de perfis em redes sociais, como o Tik Tok e o Twitter, usuários também têm responsabilizado o governo pela carestia —termo que voltou ao vocabulário dos brasileiros nos últimos meses.

Braz, do Ibre, avalia que uma parte da inflação no Brasil vem, de fato, do conflito no leste europeu, que fez subir os preços de petróleo e trigo. "Mas é verdade também que uma parte dessa inflação já vem desde o ano passado, e o espalhamento não ocorreu por conta da guerra."

A inflação vem se espalhando por mais itens desde 2021, pois a gasolina e a energia têm sido as grandes vilãs dos preços nos meses recentes, diz o economista. "Isso afetou as contas das famílias e o custo industrial e do agronegócio. Quanto maior for o tempo em que esses insumos permanecerem com preços altos, maior será o impacto. Colocar a culpa toda no fator externo, portanto, também não é justo."

INPC SOBE 1,04%, MAIOR RESULTADO PARA ABRIL DESDE 2003

O INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) teve alta de 1,04% em abril, vindo de um aumento de 1,71% no mês anterior, ainda segundo o IBGE. O resultado foi o maior para um mês de abril desde 2003, quando o índice registrou 1,38%.

O indicador serve para reajustar aposentadorias, no cálculo do reajuste do salário mínimo e como referência em negociações salariais.

Em 12 meses, o aumento foi de 12,47%, a maior variação desde novembro de 2003 —ante um resultado de 11,73% no período anterior, de 12 meses até março.

Conhecido como a inflação das famílias de menor renda, o INPC considera os lares com rendimentos de um até cinco salários mínimos. Em abril, o maior impacto foi no preço dos alimentos (2,26%).

O INPC subiu em todas as áreas pesquisadas. O menor resultado foi em Goiânia (0,65%), em função da queda na energia elétrica (-10,49%). A maior variação, por sua vez, ficou com a região metropolitana do Rio de Janeiro (1,45%), influenciada pelas altas de 13,57% no leite longa vida e de 6,25% nos produtos farmacêuticos, ainda segundo o IBGE.

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