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Dólar e Bolsa caem com mercado perdido entre inflação e recessão

Volatilidade mostra investidores confusos sobre ritmo da desaceleração econômica

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São Paulo

Os mercados balançaram nesta sexta-feira (8) ao sabor de dados que mostraram uma linha tênue entre os riscos de uma inflação global persistente e de uma abrupta desaceleração da economia mundial provocada pela escalada dos juros.

A instabilidade dos ativos de risco durante o dia, replicando o padrão desta semana, reforçou a ideia de que investidores ainda buscam pistas sobre quando o processo de elevação dos juros nos Estados Unidos colocará freio na inflação do país e qual será o custo disso.

Paralelamente, a China anunciou um pacote bilionário de estímulos que animou o setor de commodities, mas desregulou ainda mais a bússola do mercado.

Notas de dólar americano
Notas de dólar americano - Dado Ruvic - 14.fev.2022/Reuters

O real apresentou nesta sexta o maior ganho frente ao dólar entre as principais moedas. A divisa brasileira também foi a mais valorizada entre países emergentes.

No fechamento do mercado de câmbio doméstico, o dólar comercial à vista caiu 1,42%, cotado a R$ 5,2680. Com isso, a divisa americana acumulou queda semanal de 1,01% frente ao real. Nesta mesma semana, na quarta-feira (6), o dólar atingiu os R$ 5,42, maior cotação desde janeiro.

Daniel Miraglia, economista-chefe da Integral Group, considera a expectativa do aumento das exportações de commodities para a China o fator mais importante para o câmbio nesta semana.

Pequim anunciou na quinta-feira (7) um pacote de US$ 220 bilhões (R$ 1,16 trilhão) em investimentos em infraestrutura no país, segundo a agência Bloomberg.

Ibovespa cai no dia, mas avança em semana de turbulência

A Bolsa de Valores brasileira acompanhou a volatilidade dos mercados globais. O índice de referência Ibovespa fechou o dia em queda de 0,43%, a 100.288 pontos, após uma sessão de altos e baixos. No acumulado da semana, houve alta de 1,35%.

Nos Estados Unidos, os principais índices tiveram desempenhos mistos. O indicador de empresas de grande valor Dow Jones caiu 0,15%. Já o índice para companhias de tecnologia com potencial de crescimento, o Nasdaq, subiu 0,12%. O S&P 500, referência da Bolsa de Nova York, avançou 0,08% no dia e somou 1,94% nesta semana.

Dados sobre a forte geração de empregos nos Estados Unidos concentraram as atenções. O país abriu 372 mil postos de trabalho no setor urbano em junho, bem acima da expectativa de 268 mil postos, conforme estimativa da agência Reuters.

Esse resultado pode ser observado de dois pontos de vista. Olhando para a parte cheia do copo, a informação afasta a perspectiva de uma recessão global imediata, pois mostra que a principal economia do planeta continua aquecida.

"O relatório de empregos veio bem forte, afastando no curto prazo a possibilidade de recessão, que é a grande temática no mercado", comentou Wagner Varejão, especialista da Valor Investimentos.

Mas a visão do copo meio vazio faz analistas considerarem que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) subirá sua taxa de juros em 0,75 ponto percentual no final deste mês, repetindo a alta aplicada em junho e que foi a maior desde 1994. É justamente o aperto monetário acelerado do Fed que tem feito mundo temer a recessão.

Miraglia, da Integral Group, diz que alguns movimentos de alta, dentro de um período de baixa acentuada do mercado, ocorrem quando investidores avaliam que a recessão já está muito próxima e, consequentemente, as ações já chegaram ao fundo. Os dados de emprego, porém, mostraram que isso não ocorreu ainda.

"O mercado ainda não encontrou qual a taxa de juros nos Estados Unidos é a que vai fazer a economia esfriar para trazer a inflação para o centro da meta", comentou o economista.

Na quinta-feira, a taxa de câmbio também desacelerou alinhada ao exterior, enquanto o Ibovespa subiu 2,04%. A força do setor de commodities impulsionou o índice de referência da Bolsa de Valores a respirar acima dos 100 mil pontos pela primeira vez após seis pregões. ​

Na ocasião, um relatório semanal do seguro-desemprego nos Estados Unidos apresentou alta nos pedidos de novos benefícios.

Por mais contraditório que isso pareça em relação ao movimento desta sexta, a informação da véspera, que indicava fraqueza do mercado de trabalho americano, foi interpretada como um sinal de que o Fed estaria conseguindo domar a inflação no país e, assim, teria condições de diminuir o ritmo da elevação da sua taxa de juros.

Apesar das atenções voltadas ao exterior, o noticiário político também provocou oscilações no mercado devido à votação da PEC (proposta de emenda à Constituição) que permite ao governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) furar o teto de gastos e driblar a legislação eleitoral para abrir os cofres públicos a menos de três meses das eleições.

O risco fiscal carregado com a PEC ajudou puxar para o alto as curvas de juros DI (Depósitos Interbancários) de curto prazo, revelando a aposta do mercado de que o Banco Central manterá a Selic em patamares elevados por mais tempo para enfrentar a inflação.

Euro tem menor cotação frente ao dólar em 20 anos

O euro caiu nesta sexta-feira (8) à sua menor cotação diária frente ao dólar em 20 anos. A moeda comum entre países da Europa fechou o dia valendo a US$ 1,0185, muito perto da paridade com a divisa americana.

No câmbio brasileiro, o euro à vista caiu 1,30% frente ao real neste pregão e fechou o dia valendo R$ 5,3615. A cotação ficou bem próxima à do dólar (R$ 5,2680).

O tombo da moeda europeia é mais um sinal dos temores de uma recessão mundial. O Banco Central Europeu também lida com a necessidade de elevar juros para reduzir a inflação e, assim como o Fed, precisa encontrar o ponto certo do aperto para frear a alta de preços sem que isso destrua a economia.

A região ainda enfrenta os efeitos da guerra na Ucrânia, entre eles os riscos ao fornecimento de gás pela Rússia. Se por um lado a redução da oferta trouxe alta nos preços, por outro, um eventual corte no abastecimento poderia paralisar a economia.

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