Indicada para presidir Caixa Corretora é alvo de denúncias de assédio moral

Segundo relatos, gritos e ameaças eram constantes; Caixa não comenta conteúdo das denúncias

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Brasília

A Caixa recebeu quatro denúncias de assédio moral contra a futura presidente da Caixa Corretora, Camila Aichinger, na corregedoria do banco. Todas tratam do período em que ela foi presidente da Caixa Seguridade, entre junho de 2021 e maio deste ano.

A executiva integrava o time do ex-presidente do banco Pedro Guimarães, que deixou a instituição financeira depois de denúncias de assédio moral e sexual.

Durante a gestão de Guimarães, Aichinger passou de gerente regional no Paraná para uma vice-presidência da Caixa em menos de quatro anos.

Fachada do prédio da Caixa Econômica Federal em Brasília
Fachada do prédio da Caixa Econômica Federal em Brasília - Antonio Molina/Folhapress

Ela deixou o último posto com a chegada da atual presidente do banco, Daniella Marques, mas foi indicada para a presidência da Caixa Corretora —o que manterá seus vencimentos no mesmo patamar.

A Caixa não comentou o andamento do caso ou o conteúdo das denúncias afirmando que, "por imposição legal, não divulga informações relacionadas a procedimentos correcionais". Procurada, Aichinger não respondeu aos questionamentos da reportagem.

O banco também informou que "não divulga informações relacionadas a procedimentos correcionais em curso, considerando o sigilo que deve proteger os dados pessoais de eventuais envolvidos" e que "a Corregedoria atua de forma independente e apura todas as denúncias recebidas".

A Folha teve acesso a duas das quatro denúncias e também conversou com outras duas pessoas sob condição de anonimato. Os quatro relatos contam histórias semelhantes de xingamentos, abusos verbais e humilhação em público.

"Não eram situações pontuais ou esporádicas. Era um comportamento constante de gritos, xingamentos e ameaças, por qualquer motivo", afirma o relato de um denunciante em documento ao qual a reportagem teve acesso.

De acordo com todos os relatos, os gritos eram tão altos que era possível escutar o que era dito de fora da sala mesmo com a porta fechada.

"Os gritos podiam ser ouvidos de fora e, além de alvo, pude testemunhar vários outros episódios com colegas", afirma outra pessoa em sua denúncia.

Os xingamentos eram semelhantes aos que eram feitos por Guimarães, ex-presidente da Caixa, conforme revelou o site Metrópoles. Ambos se referiam a pessoas que os desagradavam usando termos como "faixa branca", "júnior" ou "pau mole".

Segundo as denúncias contra a executiva, os funcionários alvos do assédio moral pediram a mudança no comportamento da dirigente.

Ao menos dois denunciantes afirmam que os abusos se reverteram em sintomas físicos, com ataques de pânico e necessidade de licenças médicas.

A partir das denúncias, a corregedoria do banco vai decidir se abre um processo formal contra Aichinger.

A punição pode ir da simples advertência até a demissão e a responsabilização civil. Isso significa que qualquer multa que o banco receber por causa dos abusos é em seguida cobrada do ex-funcionário.

A futura presidente da Caixa Corretora é formada em Turismo. Ela era gerente regional da Caixa no Paraná desde 2016 e, em março de 2019, foi alçada ao cargo de superintendente regional. Naquele mês, Guimarães esteve duas vezes no estado em viagens pelo banco.

Aichinger ocupou o cargo por apenas oito meses até ser levada para Brasília como superintendente nacional.

Foram quatro meses no novo emprego na sede da Caixa até obter uma promoção. Ela virou diretora-executiva da Caixa Seguridade. Pouco mais de um ano depois, em junho de 2021, virou CEO da empresa. Lá ficou por cerca de um ano, para em seguida assumir o cargo de vice-presidente da Caixa —do qual saiu após a queda de Guimarães.

Ao longo da gestão de Guimarães, seu salário mensal pulou de cerca de R$ 25 mil para mais de R$ 130 mil, somando os vencimentos na Caixa e as participações em pelo menos sete conselhos.

Os funcionários da Caixa que conversaram com a Folha expressam um temor reforçado pelo fato de a Caixa Corretora ficar no mesmo andar da Caixa Seguridade. Com isso, várias pessoas que teriam sofrido ou testemunhado os casos de assédio moral podem passar a conviver com a executiva novamente.

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