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Economia brasileira vai tão bem como disse Bolsonaro na ONU?

Presidente brasileiro abriu rodada de debates na Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, nesta terça (20)

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BBC News Brasil

Em seu discurso na Assembleia-Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) nesta terça-feira (20), o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que o Brasil chegou ao fim de 2022 "com uma economia em plena recuperação".

"Temos emprego em alta e inflação em baixa. A economia voltou a crescer. A pobreza aumentou em todo o mundo sob o impacto da pandemia. No Brasil, ela já começou a cair de forma acentuada", disse o chefe de Estado brasileiro em Nova York.

Bolsonaro ainda citou "uma deflação inédita no Brasil nos meses de julho e agosto" e uma queda de 30% no preço da gasolina desde junho.

Mas, afinal, a economia brasileira vai mesmo tão bem quanto o presidente afirmou?

Presidente Jair Bolsonaro discursa na Assembleia-Geral da ONU, em Nova York - Timothy Clary - 20.set.2022/AFP

Crescimento econômico

Em termos de desempenho econômico, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro cresceu 1,2% no segundo trimestre de 2022 em relação ao trimestre anterior, acima das expectativas dos economistas, que era de uma alta de 0,9%.

Na comparação anual, a alta do PIB foi de 3,2%, segundo divulgou o IBGE no início do mês. Com esse resultado no segundo trimestre, o Brasil ocupa o 7º lugar dentro de um ranking de 26 países, segundo levantamento elaborado pela agência de classificação de risco Austin Rating.

Na lista, o país fica a frente de nações como Estados Unidos (24°), Canadá (23°), Reino Unido (20°) e Alemanha (19°), mas atrás de Holanda (1°), Turquia (2°), Arábia Saudita (3°), Israel (4°), Colômbia (5°) e Suécia (6°).

Em termos de previsões futuras, o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê crescimento de 1,7% para o PIB brasileiro em todo o ano de 2022, segundo dados de julho.

Esse recorte coloca o Brasil na 16ª posição entre os países do G20, em termos de projeção de crescimento.

Em termos de previsões futuras, o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê crescimento de 1,7% para o PIB brasileiro em todo o ano de 2022, segundo dados de julho.

Esse recorte coloca o Brasil na 16ª posição entre os 19 países do G20 em termos de projeção de crescimento, atrás de nações como Argentina e Turquia.

Gasolina

Em seu discurso, Bolsonaro afirmou que desde junho, o preço da gasolina caiu mais de 30%. "Hoje, um litro no Brasil custa cerca de US$ 0,90", disse.

Segundo dados da ANP, o preço médio de revenda da gasolina comum no Brasil na semana de 11 a 19 de setembro foi de R$ 4,97.

Considerando a cotação em dólar desta terça, a média do litro do combustível vendido nos postos brasileiros seria de US$ 0,96.

Também segundo as informações divulgadas pela ANP, o preço médio da gasolina comum vem caindo há 12 semanas consecutivas.

A gasolina teve seu pico na última semana de junho deste ano, quando registrava uma média de R$ 7,39 nas bombas. Se levarmos em conta essa data até o último levantamento da ANP, a queda acumulada chega a 32,7%.

Em outros pronunciamentos, Bolsonaro afirmou também que o Brasil tem "uma gasolina das mais baratas do mundo".

De acordo com o ranking de 168 países elaborado semanalmente pela consultoria Global Petrol Prices, o Brasil tem atualmente a 34ª gasolina mais barata.

A empresa considera o valor médio do litro de gasolina em dólares e comparou os dados mais recentes de todos os países até 12 de setembro.

Em Londres, Bolsonaro postou vídeo dizendo que gasolina no Brasil era 'uma das mais baratas do mundo'
Em Londres, Bolsonaro postou vídeo dizendo que gasolina no Brasil era 'uma das mais baratas do mundo' - Reprodução

Para efeito de comparação, o país onde o combustível alcança seu valor mais baixo atualmente é a Venezuela, a US$ 0,022, e o mais alto Hong Kong, a US$ 2,967.

A Global Petrol Prices explica que as diferenças entre os valores do litro da gasolina nas diferentes nações em seu ranking devem-se a vários tipos de impostos e subsídios para o combustível.

Pedro Rodrigues, sócio-diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), explica que as variáveis que influenciam de forma mais robusta o preço da gasolina no Brasil atualmente são o preço do barril de petróleo no mercado internacional e a taxa de câmbio, já que a commodity é cotada em dólares.

Mas além dos preços no mercado internacional, existem outros fatores que podem influenciar o preço dos combustíveis, ainda que de maneira mais sutil.

Segundo Rodrigues, vale citar os tributos — tais como PIS/Cofins e ICM — e o percentual de mistura do etanol na gasolina.

É justamente a política tributária do governo brasileiro, somada ao real em valorização frente ao dólar, que está fazendo com que o preço caia mais no Brasil do que em outros países.

"Além de ter a queda no preço global do petróleo, o Brasil aplicou uma política que reduziu ainda mais a alíquota tributária, reduzindo também o preço final dos combustíveis. Por isso que, em termos percentuais, o preço por aqui caiu mais que em outros países", explica o sócio-diretor do CBIE.

Na noite de domingo (18), durante sua passagem por Londres para o funeral da rainha Elizabeth 2ª, o presidente brasileiro também comparou o preço da gasolina no Brasil com o do Reino Unido.

Diante de um posto de combustíveis na capital britânica, que vendia o litro da gasolina por 1,61 libra (equivalente a cerca de R$ 9,70), Bolsonaro afirmou que o valor era "praticamente o dobro da média de muitos Estados do Brasil".

No entanto, a fala do presidente não leva em conta as diferenças de renda da população entre os dois países —e, portanto, quanto tempo um cidadão teria de trabalhar para abastecer seu carro.

No Reino Unido, o salário mínimo é de £ 9,50 por hora. Considerando o preço da gasolina a £ 1,61 por litro, como indicava o letreiro do posto diante do qual Bolsonaro fez o vídeo, um cidadão britânico recebendo salário mínimo teria de trabalhar o equivalente a 10 minutos para comprar um litro de gasolina.

Já no Brasil, o salário mínimo é de R$ 1.212 por mês, ou R$ 5,51 por hora. Considerando o preço médio da gasolina a R$ 4,97 por litro, um cidadão brasileiro comum teria que trabalhar o equivalente a 54 minutos, ou seja, quase seis vezes mais do que o britânico para pagar pelo mesmo litro do combustível.

Desemprego

O presidente também citou uma queda de 5 pontos percentuais no desemprego, "chegando a 9,1%, taxa que não se via há 7 anos".

A taxa de desemprego no Brasil recuou para 9,1% no trimestre encerrado em julho, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

É o menor índice da série desde o trimestre encerrado em dezembro de 2015, quando também foi de 9,1%.

A falta de trabalho ainda atinge 9,9 milhões de pessoas, menor nível desde o trimestre encerrado em janeiro de 2016.

Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad).

A queda no desemprego, porém, é puxada pela informalidade, que atinge 39,3 milhões de trabalhadores do país.

Já o número de empregados sem carteira assinada no setor privado bateu recorde da série histórica e chegou a 13,1 milhões de pessoas, um aumento de 4,8% em relação ao trimestre encerrado em abril.

Inflação

Sobre inflação, Jair Bolsonaro afirmou que houve redução na taxa, "com estimativa de 6% no corrente ano".

"Tenho a satisfação de anunciar que tivemos deflação inédita no Brasil nos meses de julho e agosto", disse ainda.

Na variação mensal de junho para julho, o Brasil registrou uma deflação de 0,68% no IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), segundo o IBGE. Já na variação de julho para agosto, a queda foi de 0,36%.

No acumulado de 12 meses, a inflação ficou em 8,73% no mês de agosto, fazendo o Brasil voltar a um dígito de inflação após seguidos aumentos, o que não ocorria desde setem bro de 2021.

Nos oito meses deste ano até agosto, a alta acumulada é de 4,39%.

Usualmente, uma deflação acontece quando a economia está desacelerada. Mas, no caso do Brasil, as quedas têm sido puxadas sobretudo pelas desonerações de insumos como combustíveis e energia elétrica, aprovadas em junho no Congresso, além dos preços menores do petróleo no mercado internacional.

A estimativa de 6% de inflação para o ano de 2022 citada pelo presidente foi divulgada pelo Banco Central no boletim Focus nesta segunda-feira (19). Os economistas do mercado financeiro reduziram a projeção em relação aos últimos números divulgados em 26 de agosto, quando a estimativa era de 6,40%.

Em comparação com os demais países do G20, grupo que reúne as maiores economias do mundo, a inflação acumulada dos últimos 12 meses do Brasil é a 4ª maior do grupo, segundo dados do início de setembro da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

O levantamento da OCDE, porém, não considera os números divulgados em 9 de setembro pelo IBGE e usa como base a inflação acumulada até julho, de 10,07%.

Porém, mesmo com os dados mais recentes, o Brasil ainda ficaria na 4ª posição, na frente do México, que segundo a OCDE apresenta acumulado de 8,7% até 6 de setembro.

Este texto foi originalmente publicado aqui.

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