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PIB

Economia deve ter melhor resultado desde 2014; entenda

Estímulos do governo ajudam, mas ritmo está melhor do que o esperado e ainda requer explicações

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São Paulo

A economia brasileira deve ter neste ano o maior crescimento desde 2014, provavelmente algo entre 2,6% e 3%. Sim, em 2021 o PIB cresceu 4,6%, mas quase tudo isso fora recuperação do tombo do primeiro ano da epidemia (quando o PIB diminuíra 3,9%): despiora. Depois da Grande Recessão, entre 2017 e 2019, o crescimento médio havia sido de 1,4%.

Bom?

Este ano tem sido de estímulos econômicos extraordinários ou artificiais, o nome que se dê. Houve a liberação do saque do FGTS, por exemplo. Neste terceiro trimestre, há o pagamento do Auxílio Brasil mais gordo, as reduções de impostos e a queda dos preços de energia (combustíveis e eletricidade).

Placa azul com preços de combustíveis em números grandes brancos, emprimeior plano. Ao fundo, frentista colcoa combustível em carro preto
Posto de combustivel na avenida Francisco Matarazzo, em São Paulo - Rivaldo Gomes - 20.jul.2022/Folhapress

Ainda assim, o crescimento da economia veio bem acima da média das expectativas dos economistas do setor privado. Mesmo descontando o efeito dos estímulos do governo, o crescimento seria maior do que a média ainda mais mixuruca dos anos 2017-2019. O que mais pode explicar a melhoria relativa, bem relativa?

O preço das commodities, das mercadorias que vendemos para outros países (comida, minérios, petróleo) está alto, o que aumenta renda, consumo e investimento desses setores e seus agregados. O investimento em obras públicas, construção civil, é relevante neste ano eleitoral em que estados e prefeituras estão com os caixas cheios, de resto.

Além do mais, ainda há reabertura e recuperação de setores danados pela epidemia (como o de serviços presenciais). Serviços de transportes vão bem, provavelmente por causa de commodities (comércio internacional, grãos etc.) e do comércio eletrônico, que ganhou impulso com a epidemia.

O PIB do setor de serviços continua com crescimento forte. Está 3,7% acima do nível pré-pandemia. O PIB total (a economia inteira) está 3% acima do nível do final de 2019.

A massa salarial (a soma dos rendimentos do trabalho) está crescendo mais de 6% ao ano, em termos reais (descontada a inflação), embora o salário médio ainda esteja no pior nível da década, desde 2012. O trabalhador está mais barato. Agora, nota-se alguma desaceleração no ritmo de contratações, ainda forte.

No fim dessas contas, talvez ainda sobre algum resíduo de melhoria a explicar (as "surpresas" do PIB), embora o crescimento sem "artifícios" não deva ser lá muito maior que o da média 2017-2019. Reformas ajudaram (facilitação de investimento privado, alteração das leis trabalhistas)? Pode ser um tema de debate, embora não deva ter acontecido nada de grandioso, longe disso.

Convém notar que mesmo para crescer esse tanto a mais, a economia passou a soltar fumaça: há inflação, em parte decorrência da falta de capacidade produtiva da economia, e não há como prorrogar estímulo (gasto do governo) sem provocar danos colaterais.

De resto, o PIB, o tamanho da economia (da renda ou da produção) deste 2022 deve ser o maior desde 2014, mas o PIB per capita (a renda ou a produção dividida pela população) ainda será mais ou menos o de 2010. Nesse indicador menos impreciso de "riqueza", estamos parados faz uma dúzia de anos, portanto. No ritmo de crescimento deste 2022, voltaríamos à renda (PIB) per capita de 2013 e 2014 (as mais altas da história) apenas em 2025 ou 2026. Assim, ficaremos permanentemente mais pobres.

Quanto ao curtíssimo prazo, o trimestre passado, os resultados foram bons. A taxa de investimento ficou em 18,7% do PIB, a maior desde 2014. Taxa de investimento: quanto da renda da economia, quanto do PIB, é destinada à ampliação da capacidade produtiva.

A demanda doméstica fez o crescimento do trimestre, ao contrário dos primeiros três meses do ano. Isto é, consumo das famílias, do governo e investimento superaram em muito o efeito negativo das importações maiores que as exportações.

Se a economia não crescer mais nada até o final do ano, o PIB deste 2022 será 2,6% maior do que o de 2021 (isto é, se a variação do PIB trimestre ante trimestre for zero, a economia ainda cresceria esse tanto no ano inteiro). Mas é possível que o PIB ainda tenha resultado positivo neste terceiro trimestre, crescimento perto de 0,3% (o crescimento do segundo trimestre foi de 1,2%; o do primeiro, 1,1%).

Bancões dizem que houve sinal de alguma desaceleração do consumo e crédito em agosto, embora julho tenha sido bom. Nota óbvia: desaceleração significa diminuição da velocidade, não que andamos para trás. A confiança de consumidores e empresários, medida pela FGV, ainda teve crescimento quase geral na medida de agosto.

O espantoso aumento da arrecadação do governo, os números ainda fortes da quantidade de empregos, os estímulos fiscais (gastos do governo e redução de impostos), o crédito ainda crescente e o baixo nível de ociosidade da indústria indicam que o ritmo da economia andava bem até julho, pelo menos.

Em algum momento, é provável que a economia esfrie —deve crescer entre nada e 0,5% em 2023, dizem os chutes informados de "o mercado". Acabam-se os estímulos do governo, o preço das commodities recua, o mundo cresce menos, as taxas de juros subiram —a taxa básica real está no maior nível desde o 2015 de recessão.

Mas se esperava que o ritmo diminuísse no segundo trimestre (mas aumentou), fosse a zero no terceiro trimestre (parece que não vai ser) e que houvesse um começo de recessãozinha no quarto —pode não vir.

Pode ser que a situação da economia internacional tire pontos de crescimento do PIB, o que é ainda mais difícil de prever. De mais certo, as previsões de crescimento que vimos desde o final do ano passado estiveram bem furadas.

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