Descrição de chapéu The New York Times tecnologia

Fundadores de unicórnios bilionários caem do cavalo na crise

Crise das empresas de tecnologia elevou pressão por gestão mais dura e corte de custos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Erin Griffith
San Francisco | The New York Times

Os jovens reis do Vale do Silício estão apeando de seus unicórnios. Eles estão fazendo postagens sentimentais em blogs que descrevem seus legados. Estão expressando esperança nas perspectivas de suas empresas. E estão deixando seus empregos na liderança das startups que fundaram.

Nos últimos meses, Ben Silbermann, cofundador do serviço de anúncios digitais Pinterest, renunciou ao cargo de executivo-chefe; Joe Gebbia, cofundador da empresa de aluguel de casas Airbnb, anunciou sua saída do comando; e Apoorva Mehta, fundador do aplicativo de entrega de supermercado Instacart, disse que encerrará sua carreira como executivo-chefe quando a empresa abrir o capital, ainda este ano.

Além deles, fundadores na chefia de Twitter, Peloton, Medium e MicroStrategy, renunciaram este ano.

Unicórnios
Donos de startups unicórnios estão deixando o comando das empresas - Catarina Pignato/

As renúncias significam o fim de uma era nessas companhias, entre as mais valiosas e conhecidas que surgiram no Vale do Silício na última década, e da era que representam. Nos últimos anos, os investidores despejaram quantias cada vez maiores em um grupo de startups altamente valorizadas, conhecidas como "unicórnios", no valor de US$ 1 bilhão (R$ 5,1 bilhões) ou mais, e seus fundadores foram tratados como heróis visionários.

Esses fundadores lutaram por direitos de propriedade especiais que os mantinham no controle das empresas –uma mudança em relação ao passado, quando os empreendedores eram frequentemente substituídos por executivos mais experientes, ou eram pressionados a vender.

Quando o mercado de ações caiu drasticamente este ano, porém, atingindo especialmente as empresas de tecnologia que perdiam dinheiro, essa abordagem começou a mudar. Os capitalistas de risco recuaram em seus negócios e incitaram as jovens e premiadas empresas do Vale do Silício a cortar custos e proceder com cautela. O setor começou a falar de "CEOs em tempo de guerra" que conseguem fazer mais com menos, enquanto se gabam das lições aprendidas em crises anteriores.

A paciência com os visionários se esgotou. Os negócios liderados por fundadores começaram a parecer passivos, e não ativos.

Wil Schroter, fundador do Startups.com, um programa acelerador para jovens empresas.

As ações do Pinterest caíram 60% em relação ao ano anterior. A Elliott Management, acionista ativista conhecida por pressionar as empresas a fazer grandes mudanças, recentemente assumiu uma participação na empresa.

As ações do Airbnb caíram 25% em relação ao ano passado. E a Instacart reduziu sua avaliação interna em quase 40% em março, enquanto se prepara para abrir o capital em um mercado hostil.

Administrar startup de capital aberto não é tão excitante

"Certamente é menos divertido ser CEO quando os mercados estão em baixa, a economia tende a ser negativa e a regulamentação está aumentando", disse Kevin Werbach, professor de negócios na Escola Wharton da Universidade da Pensilvânia.

"Se você já é tão rico, famoso e bem-sucedido quanto esses caras, geralmente chega um ponto em que ficar na sela é menos interessante do que cavalgar em direção ao pôr do sol."

Nas lendas das startups, Mark Zuckerberg foi o pioneiro do garoto-chefe moderno. Carregando cartões de visita que diziam "Sou CEO, vadia" e agitando as penas de Wall Street com seu moletom "desrespeitoso", ele exigiu que os investidores o deixassem manter o controle acionário do Facebook à medida que crescia, inaugurando a era atual de negócios "amigáveis com os fundadores".

Homens jovens e ambiciosos como Zuckerberg receberam proteções e liberdade semelhantes enquanto as empresas de capital de risco corriam para parecer o mais amistosas possível, mimando os empresários com regalias (jantares, jatos, celebridades) e serviços (recrutamento, relações públicas, design).

Uma firma até prometeu publicamente nunca votar contra um fundador em assuntos da empresa.
"Isso inspirou toda a nossa geração a acreditar no impossível, que podiam abrir empresas", disse Trace Cohen, 34, investidor em startups muito jovens.

Cofundador Pinterest, Ben Silbermann renunciou ao cargo de executivo-chefe - Dado Ruvic/Reuters

Festas e gastos derrubaram fundadores que levaram prestígio longe demais

Os fundadores tiraram vantagem de sua predominância. Eles permaneceram nos cargos mais altos, mesmo quando as empresas superaram suas habilidades como diretores. E mantiveram suas empresas privadas pelo maior tempo possível, evitando realidades irritantes dos negócios, como gerar lucro.

Eles recebiam o benefício da dúvida –algo que as mulheres fundadoras raramente conseguiam.
À medida que o setor de tecnologia se tornou uma força dominante em nossa economia, o culto ao fundador da startup entrou na cultura popular por meio de celebridades como Ashton Kutcher e programas de TV como a sátira da HBO "Silicon Valley".

Alguns fundadores dessa época levaram sua latitude longe demais. Os gastos e festas de Adam Neumann o forçaram a sair da WeWork em 2018, embora ele detivesse uma participação majoritária na empresa. E as táticas agressivas de Travis Kalanick no Uber resultaram em sua demissão em 2017, apesar de suas ações com supervoto.

O restante se manteve principalmente por meio das ofertas públicas iniciais das empresas.Agora, à medida que os problemas aumentam em meio ao colapso do mercado, eles estão desistindo do poder e do controle pelos quais lutaram.

Em seu anúncio, Silbermann disse que administrar o Pinterest foi "o presente de uma vida". Gebbia, que se tornará um conselheiro do Airbnb, postou uma efusiva reminiscência dos primeiros dias da empresa, ao lado de fotos, apelidos de seus cofundadores (Brian "Jet Fuel" Chesky e "Indiana Nate" Blecharczyk) e lições sobre a bondade da humanidade. Mehta tuitou que "se preocupa profundamente" com a Instacart –a "única coisa em que pensei a cada minuto acordado da última década".

Saindo como bilionários, eles emanaram a positividade implacável do Vale do Silício. O Pinterest "está apenas começando", o Airbnb "está nas melhores mãos que já esteve" e a Instacart tem uma "enorme oportunidade pela frente", escreveram os fundadores. Tanto Mehta quanto Gebbia disseram que tinham planos para novos projetos.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.