Herdeira da Basf diz que não vai rejeitar fortuna da família

Marlene Engelhorn afirma que declarações veiculadas nas últimas semanas são falsas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Madri

Durou pouco o sonho de ver uma bilionária se negando a receber herança. Diferentemente do anunciado em agosto, Marlene Engelhorn, 29, herdeira da empresa alemã Basf, nunca disse que renunciaria a esse dinheiro.

"Meios de comunicação espanhóis e italianos espalharam uma grande quantidade de declarações falsas nas últimas semanas", disse à Folha Lorena Sendic Silvera, diretora da ONG Tax Me Now (Taxe-me Agora), criada por Engelhorn no ano passado para lutar por impostos mais altos para grandes fortunas.

Manchetes como "Jovem rejeita herança de € 4 bilhões (R$ 21 bilhões). Por que?" ou "A herdeira que rejeitou € 4 bi: 'Eu não quero ser rica'", que rodaram o mundo no início de agosto, têm outra incorreção. Engelhorn diz que sua herança é um valor de dois dígitos de milhões de euros, ou seja, qualquer coisa entre € 10 milhões (R$ 52 milhões) e € 99 milhões (R$ 514 milhões).

Marlene Engelhorn, 29 anos, herdeira do império químico alemão Basf durante  um protesto.
À esquerda, Marlene Engelhorn, herdeira do império químico alemão Basf durante protesto publicado pela organização Patriotic Millionaires, em 23 de maio de 2022, no Twitter - Patriotic Millionaires no Twitter

Segundo Silvera, Engelhorn não pode dar entrevistas agora por causa de sua agenda ocupadíssima. Mas ela enfim falou com um jornal sobre o assunto, o diário espanhol Ara, que publica notícias principalmente em catalão.

"Vou herdar um valor de dois dígitos de milhões de euros e eu não vou recusar", disse a jovem austríaca. "Eu gostaria de poder redistribuir pelo menos 90%, se possível através de taxas. Se não, encontrarei uma outra maneira."

Ela explicou que quando viu aquelas manchetes com seu nome não entendeu nada. Literalmente, pois não fala italiano nem espanhol. Leu tudo por meio do Google Tradutor e não entendeu de onde saiu a notícia com declarações falsas atribuídas a ela.

Marlene Engelhorn é descendente de Friedrich Engelhorn, alemão que em 1865 fundou a companhia química Basf (o nome significa Fábrica Badense de Bicarbonato de Sódio e Anlilina). Hoje a fortuna está nas mãos da avó de Marlene, chamada Traudl Engelhorn. É Traudl que figura na 687ª posição da lista de mais ricos da Forbes, com os tais € 4,2 bilhões.

Após a morte de Traudl, o dinheiro será dividido por diversas pessoas da família, cabendo a Marlene os anunciados dois dígitos de milhões. Ela conta que soube disso em uma reunião familiar. "Eu sabia que era rica, mas aí eu fiquei com raiva e não entendia por quê. Eu queria falar sobre o assunto e ao mesmo tempo queria esconder isso das pessoas. Eu não queria esse dinheiro, não me parecia justo."

"Eu cresci numa enorme mansão", diz ela, que se sentia como um cavalo com antolhos, aquele acessório que se coloca na cabeça de animal para limitar sua visão e forçá-lo a olhar apenas para a frente.

"Privilégios são exatamente assim; você não vê o quanto tem". Buscando fugir dessa visão limitada, a moça resolveu estudar literatura alemã em uma universidade. Foi quando teve contato com pessoas fora de seu círculo e entendeu que a forma como foi criada, assim como o dinheiro de sua família, estavam longe de ser normais.

Então, em fevereiro de 2021, ela se tornou ativista ao assinar uma carta aberta, ao lado de outros 60 milionários desconfortáveis, contra a baixa taxação de sua fortuna. No site do Tax Me Now, ela explica que na Alemanha os 10% mais ricos possuem 62% dos ativos do país, enquanto os 50% mais pobres possuem apenas 3,4%. Já na Áustria, 1% da população possui 40% da riqueza.

"Quando você é super-rico é porque nasceu assim, e geralmente é dinheiro sujo. Nenhuma fortuna é limpa", acredita. Engelhorn pode estar se referindo ao fato de a Basf, assim como a maioria das grandes empresas alemãs, ter se associado ao nazismo e se beneficiado com crimes contra a humanidade. Após a Segunda Guerra (1939-1945), o conglomerado do qual a Basf fazia parte na época teve 13 executivos sentenciados a penas de 1 e 8 anos de prisão pelo tribunal de Nuremberg.

Ao final, Engelhorn admite que seria bom se fosse verdade sobre a herança de € 4 bilhões. Mas apenas porque, se assim fosse, ela poderia redistribuir muito mais riqueza.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.