Alta da inflação faz salário ter primeira queda real desde 2008 no mundo, diz OIT

No Brasil, recuo foi de 16% na comparação entre o 1º trimestre de 2019 e o de 2022

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São Paulo

O cenário de pressão inflacionária e de desaceleração do crescimento econômico levaram a uma queda dos salários, em termos reais, de 0,9% no primeiro semestre no mundo, segundo relatório publicado nesta quarta-feira (30) pela OIT (Organização Internacional do Trabalho).

É a primeira vez desde 2008, quando foi publicado o estudo da organização sobre o tema, em que o desempenho global dos salários foi negativo, aponta o "The Global Wage Report 2022-2023", que constata os impactos da pandemia de Covid-19, da Guerra da Ucrânia e da crise de energia que afeta diversos países.

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Cliente faz compras em supermercado de SP - Rubens Cavallari - 27.abr.22/Folhapress

Pelos dados da OIT, o Brasil registrou queda de 4,1%, no primeiro trimestre deste ano, de 7% em 2021 e de 4,9% em 2020, sempre na comparação com 2019. Do primeiro trimestre de 2019 ao primeiro trimestre de 2022, a queda no Brasil foi de 16%, conforme a OIT.

O aumento real do salário mínimo é uma das promessas de campanha do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) —em substituição à política do atual governo.

O documento também aponta que o Brasil já havia registrado uma queda de 4,9% na massa salarial, de 2019 a 2020, a 15ª maior entre 28 países.

Entre os países avançados do G20, estima-se que os salários reais (já descontada da inflação) tenham caído pelo menos 2,2% no primeiro semestre, enquanto os salários reais nos países emergentes do grupo cresceram 0,8% —2,6% a menos do que em 2019, antes do início da pandemia.

Para o Brasil, o relatório usou os dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua. Nesta quarta-feira, a mais recente pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mediu que a taxa de desocupação no trimestre até outubro era de 8,3%.

O número de empregados sem carteira no setor privado bateu recorde, de 13,4 milhões, alta de 2,3% ante julho. Apesar do aumento da informalidade, a renda real vem melhorando ao longo dos meses, aponta o IBGE, alcançando R$ 2.754 até outubro.

O documento da OIT mostra que o aumento da inflação teve um impacto mais relevante no custo de vida das famílias de menor renda, já que elas gastam a maior parte da renda disponível em itens essenciais, como alimentação e moradia, que costumam sofrer mais variações de preço.

A OIT alerta para a corrosão progressiva que a inflação tem provocado nos valores reais dos salários, mesmo em países onde os salários tiveram reajustes nominais.

"As múltiplas crises globais que estamos enfrentando levaram a um declínio nos salários reais. Isso colocou milhões de trabalhadores em uma situação terrível, pois enfrentam incertezas crescentes", disse o diretor-geral da OIT, Gilbert Houngbo.

"A desigualdade de renda e a pobreza vão aumentar, caso o poder de compra dos salários mais baixos não seja mantido. Além disso, a tão necessária recuperação pós-pandemia pode ser colocada em risco. Isso pode alimentar ainda mais a convulsão social em todo o mundo."

Como caminhos para solucionar o problema, a organização aponta que o reajuste real de salário mínimo pode ser uma ferramenta eficaz, uma vez que 9 entre 10 países membros da OIT contam com sistemas de salário mínimo.

"Um forte diálogo social tripartite e a negociação coletiva também podem contribuir para alcançar ajustes salariais adequados durante uma crise", diz a organização.

"Combater a deterioração dos salários reais pode contribuir para sustentar o crescimento econômico que, por sua vez, pode ajudar a recuperar os níveis de emprego registrados antes da pandemia", disse Rosália Vazquez-Alvarez, uma das autoras do relatório.

Os economistas, no entanto, não descartam que alguns países, como os da América Latina, continuem a ver uma redução real dos salários nos próximos anos, em consequência dos efeitos globais sobre a inflação.

De acordo com a organização, é necessário adotar medidas políticas bem projetadas com urgência, para evitar o aprofundamento dos níveis de pobreza e desigualdade.

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