Descrição de chapéu The New York Times

Marie Kondo assume um novo papel: life coach

Novo livro ensina a usar seu método de organização em outras esferas da vida

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Julie Lasky
The New York Times

Mova-se, hygge. Você também, lykke, lagom, niksen e bella figura. Mais um chavão internacional chegou à cidade, carregado com a promessa de melhorar vidas.

O livro "Kurashi em casa: como organizar seu espaço e alcançar sua vida ideal", de Marie Kondo, recém-saído da Ten Speed Press (Ten Speed Press, R$ 86,78 ebook), é o último livro da guru da organização japonesa e o primeiro a mergulhar em sua língua nativa para dar um toque especial ao título. "Kurashi" significa "estilo de vida".

Com base no famoso método organizacional de Kondo de classificar os pertences para determinar quais produzem um arrepio de prazer, o livro nos convida a descobrir o que desperta alegria não apenas entre nossas posses, mas também em nossos ambientes, relacionamentos e atividades diárias.

"Arrumar significa lidar com todas as 'coisas' da vida", escreve ela. "Então, o que você realmente quer colocar em ordem?"

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A organizadora Marie Kondo; novo livro da guru aplica famoso método de organização a outras esferas da vida - Nastassia Brückin/The New York Times

Em uma chamada de Zoom, Kondo explicou recentemente que a palavra "kurashi" transmite o conforto e a serenidade das rotinas do dia a dia, mais do que sua versão em inglês, lifestyle (estilo de vida).

"Adoro o som de certas palavras japonesas, e kurashi é uma delas", disse Kondo, por meio de um intérprete.

Leitores familiarizados com seu livro de 2010, "A Mágica da Arrumação", ou suas duas séries da Netflix, encontrarão ideias parecidas aqui, de forma concentrada. O método KonMari de reunir, acariciar e purgar que causou um milhão de viagens ao lixão é recapitulado em uma única página.

Também está de volta o animismo característico de Kondo –sua recomendação de olhar o mundo da perspectiva de um objeto, para entender como ele pode parecer esmagado ou sufocado em uma pilha indiferenciada de coisas. Assim como sua insistência em agradecer aos pertences por seus serviços antes de se desfazer deles.

Ela admite conversar com a banheira enquanto a enxuga, dizendo: "É incrível como você está sempre tão limpa e sem mofo". Como sempre, ela apela aos nossos melhores anjos –pelo menos os que fazem compras.

Este livro de capa dura, no entanto, mostra, além de contar. Mais de cem fotografias dignas do Instagram documentam detalhes tranquilos de quartos, vinhetas minimalistas de objetos decorativos elegantes, calças penduradas em armários (surpreendentemente, dada a paixão da autora por dobrar) e a própria autora, parecendo descontraída e feliz.

Os interiores claros e louros não são de Kondo. "Estávamos tentando dar uma ideia de como é o estilo de vida de Marie", disse Julie Bennett, editora do livro. "A mensagem é: você descobre qual estilo funciona para você."

Kondo insiste que seguir sua técnica é cultivar a sensibilidade aos próprios desejos e necessidades de uma forma que trará recompensas maiores do que a mera ordem. (Essa é a parte da "mudança de vida".) A experiência é pessoal e subdérmica —os objetos comunicam melhor seus valores quando são manuseados fisicamente—, com benefícios como empregos e ganhos financeiros inesperados às vezes surgindo de modo imprevisível depois que a arrumação é feita. (Essa é a parte "mágica".)

No entanto, com "Kurashi", agora entramos em um reino terapêutico mais convencional, no qual Kondo soa como uma coach (treinadora) de vez em quando. Se você não conseguiu entender o método, ela gostaria de saber o que o está bloqueando. Ou melhor, ela gostaria que você perguntasse isso a si mesmo.

Escrevendo sobre equilibrar casa e trabalho, ela lança uma bateria de perguntas, começando com: "Quanto tempo você gasta por dia em cada tarefa relacionada ao trabalho? Quanto trabalho você faz em uma semana?" Amostras de planilhas ajudam os leitores a mapear suas atividades e objetivos do dia para que possam cortar práticas ineficientes tão impiedosamente quanto fazem com seus utensílios de cozinha inúteis.

E assim como ela nos pede para despejar o conteúdo de nossos guarda-roupas bagunçados em um lugar antes de separá-lo, ela aconselha descarregar nossos pensamentos caóticos e problemáticos em cadernos, como uma preliminar esclarecedora para uma vida mais organizada.

"Quando você tenta organizar as coisas em sua mente e tira um tempo para refletir, há muito do mesmo método de arrumação que você aplica em casa", disse ela.

Uma grande obstrução à arrumação, observa ela, é a lacuna entre a maneira como muitos de nós vivemos e nosso estilo de vida ideal. Em vez de deixar essa disparidade nos desencorajar, ela recomenda que nos apeguemos aos sonhos e façamos todas as pequenas coisas que pudermos para realizá-los –como colocar a foto de uma bela paisagem numa parede sem janelas, onde gostaríamos de ter uma vista.

Como sempre, ela alterna conselhos com comentários pessoais. Seu próprio estilo de vida ideal envolve ioga diária, pausas para chá de ervas, tempo com seus três filhos pequenos e a oportunidade, quando ela pode aproveitá-la, de esfregar o chão ajoelhada. Essa atividade não apenas libera tensões e melhora a postura, como também traz boas vibrações, ela escreve. "O chão é a base da casa. Limpá-lo com minhas próprias mãos me ajuda a sentir minha conexão com ele."

Tendo descoberto a fermentação na pandemia, ela inclui uma receita para fazer oito quilos de missô caseiro em um processo que leva seis meses. Também em oferta: a receita do ensopado de asas de frango com vinagre preto de sua mãe.

"É algo que ela começou a fazer e lhe traz alegria", disse Bennett sobre o missô. "Como indivíduo, você precisa pensar no que é importante em sua vida –quais receitas o farão feliz, talvez algo que foi passado de sua família."

As anedotas de Kondo podem ser involuntariamente comoventes. Em uma seção sobre como se livrar de produtos de limpeza desnecessários, ela relata que, como uma estudante universitária que morava em casa, "não conseguia suprimir minha compulsão por ser arrumada. Não contente em arrumar meu próprio quarto, eu limpava como uma forma de me distrair os quartos dos outros. Usei alvejante para limpar o ralo da pia da cozinha, esfreguei a sujeira do ventilador da cozinha, limpei o parapeito das janelas e tive o prazer de tirar a poeira que ninguém havia notado, usando diferentes tipos de limpadores para lidar com cada tipo de sujeira". (Mas água pura costuma ser tudo de que você precisa.)

Nem todo mundo, entretanto, está comprando essa onda (ou o kurashi).

Ramani Durvasula, psicóloga clínica do sul da Califórnia com muitos seguidores, disse que não contesta a ideia de Kondo de que um espaço organizado pode gerar benefícios emocionais e criativos maiores. "Mas você precisa lembrar que nem todos somos iguais", disse ela. Os perfeccionistas decididos a organizar seus quartos "mais ou menos" –ou pessoas que não têm tempo, recursos ou energia para cumprir os rigores do minimalismo– correm o risco de se sentirem ansiosos ou envergonhados por não alcançarem seus estilos de vida ideais.

"Segurar algo e perguntar: 'Isso me dá alegria?' é complicado", disse Durvasula. Para pessoas que podem ter relacionamentos familiares difíceis ou estão lidando com perdas, o exercício "não é apenas sobre alegria; é sobre identidade, sobre história, sobre traumas não resolvidos. Esta camiseta não é apenas alegria; pode ser sobre um mundo inteiro de dor".

Durvasula disse que ela também acredita na racionalização, mas de uma natureza diferente. "Se todos os meus clientes vivessem em casas cheias de lixo, mas eliminassem as pessoas tóxicas de suas vidas, eu aprovaria", disse ela. "Guarde as malas velhas; livre-se do tio ranzinza."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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