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Neta relata que não pôde levar avó a velório da irmã por caos de bloqueios

Escassez de gasolina em Santa Catarina, causada pelos protestos, a impediram de chegar ao local

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Giulia Granchi
BBC News Brasil

O velório de Gessi Tigre, 77 anos, aconteceu em Curitibanos, no estado de Santa Catarina, na tarde de ontem. Apesar da vontade de estar presente, sua irmã Ceci, 68, residente de Indaial, a cerca de 180 quilômetros de distância, não conseguiu chegar por conta dos bloqueios rodoviários, segundo relato de sua neta.

No caso de Ceci e de sua neta Djeniffer da Silva, que pretendia levar a avó para se despedir da irmã, não foi diretamente o trânsito que impediu que chegassem, mas a escassez de combustíveis nos postos da cidade, já que as cargas ficaram presas nas estradas.

"Eram filas quilométricas nos postos de gasolina e relatos de falta de combustíveis em alguns lugares, já que com a escassez, muitos correram para encher os tanques. Não tínhamos tempo o suficiente para conseguir a gasolina e fazer a viagem de três horas", conta Djeniffer.

Protesto em rodovia
Protesto em que apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), derrotado nas urnas no domingo (30), se recusam a aceitar o resultado e, em muitos casos, pedem que as Forças Armadas deem um golpe de Estado - Getty Images via BBC News Brasil

Ceci enviou um breve áudio à reportagem. "Eu não tenho palavras para essa situação, não consegui chegar ao velório da minha irmã e não estou bem", disse, pedindo para que a neta relatasse por ela o que aconteceu.

Djeniffer diz que a avó perdeu outra irmã e um irmão, o que torna o luto de não ter se despedido da última irmã que estava viva mais difícil.

"Minha avó cuidava das irmãs dela, Delo e Gessi, desde que eram pequenas, eram sempre as três juntas. Depois do falecimento da tia Delo, minha avó ficou doente, e Gessi, que sofria de um quadro mental, foi para um asilo. Minha avó foi vê-la algumas vezes, sempre que podia, e sempre falava em como queria tirá-la de lá", conta a neta.

A família, segundo Djeniffer, está dividida nas opiniões sobre os protestos em que apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), derrotado nas urnas no domingo (30), se recusam a aceitar o resultado e, em muitos casos, pedem que as Forças Armadas deem um golpe de Estado.

Pessoalmente, ela diz não apoiar, e afirma que acha injusto que pessoas tenham perdido também compromissos relacionados à saúde, como consultas médicas e sessões de tratamento.

"Também falamos muito sobre os danos econômicos que os protestos trazem, mas há esses danos psicológicos e emocionais, como no caso da minha avó, causados por perder um momento que não volta mais. E a da minha avó é só uma das histórias, mas quantas outras não tiveram?", questiona Djeniffer.

"Minha opinião pessoal é que os protestos incentivam nosso atual presidente a apresentar resistência em passar o governo e a transformar nossa democracia em ditadura. Se isso acontecesse, causaria um dano irreparável em nossa história - as pessoas poderiam perder seus direitos."

Este texto foi originalmente publicado aqui.

Segundo a PRF (Polícia Rodoviária Federal), as multas aplicadas em razão dos bloqueios já são quase 2.000 e ultrapassam R$ 18 milhões.

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