Descrição de chapéu Copa do Mundo 2022

Qatar Airways, a luxuosa aérea da Copa que já foi processada por proibir casamento de funcionários

Companhia também foi acusada de restringir gravidez de colaboradoras; passagem a partir de São Paulo pode custar R$ 71 mil

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São Paulo

Companhia aérea oficial da Copa do Mundo, a Qatar Airways já foi processada pela OIT (Organização Internacional do Trabalho) por desrespeitar os direitos das mulheres e interferir na vida privada dos funcionários. As regras da empresa incluíam demissão em caso de gravidez, exigência de aprovação para casamentos e vigilância severa sobre os períodos de folga.

As denúncias começaram a se tornar públicas a partir de 2011. Em 2015, o caso foi julgado na OIT, após pressão da ITF (Federação Internacional dos Trabalhadores Aéreos).

A OIT constatou que os contratos de trabalho com as mulheres previam que elas pudessem ser demitidas quando informassem à chefia que estavam grávidas. Caso não revelassem, poderiam ser dispensadas por terem ocultado a situação.

Avião da Qatar Airways no aeroporto de Riad, na Arábia Saudita - Ahmed Yosri - 11.jan.21/Reuters

Outra regra presente em alguns documentos era a de que os funcionários precisariam de permissão da empresa para se casar ou mudar de estado civil. Caso a autorização fosse negada, o colaborador teria de escolher entre o amor ou o emprego. O ITF recebeu relatos de que a Qatar costumava vetar matrimônios nos primeiros três a cinco anos de contratação.

Havia ainda regras rígidas para os períodos de descanso, como proibir que os funcionários passassem a noite fora das acomodações da Qatar, mesmo em dias de folga. Durante as viagens, não era permitido ficar em hotéis privados ou na casa de amigos. Outra exigência era a de que os trabalhadores se apresentassem nos alojamentos 12 horas antes do início do turno. Guardas na entrada aplicavam um toque de recolher e delatavam quem tentava sair ou entrar fora do horário estipulado.

Para evitar fugas das acomodações, houve casos em que saídas de emergência e janelas ficavam seladas, segundo relatos de funcionários. Durante o período de descanso, só seria permitido sair das instalações durante 90 minutos por dia.

Para as mulheres, havia ainda mais controle. Elas não poderiam deixar os alojamentos acompanhadas de um homem, a menos que fosse seu marido, pai ou irmão.

Houve ainda queixas de que a empresa monitorava as redes sociais dos empregados e que poderia demitir quem postasse fotos consideradas inadequadas, como imagens de biquíni ou que mostrassem tatuagens.

Como boa parte dos contratados costuma ser estrangeira, havia temores de que denunciar abusos às autoridades poderia levar à demissão e, consequentemente, à perda de visto para morar no Qatar.

Em 2013, o CEO Akbar Al Baker, respondeu às críticas de espionagem da vida dos funcionários. "Não estamos tocando uma agência de inteligência. Somos uma companhia aérea. A razão pela qual eu sei tudo que acontece é que eu estou envolvido profundamente em gerenciar a empresa, falando com todos, e os ouvindo."

Também em 2013, uma porta-voz da companhia disse, à revista The Economist, que a Qatar nunca havia dispensado nenhuma mulher por estar grávida. Ela acrescentou que a lei do país restringe que grávidas andem de avião, e que os estrangeiros residentes precisam informar mudanças de estado civil às autoridades.

Após a investigação, a OIT pressionou o governo do Qatar a enquadrar a empresa, pois o país assinou tratados internacionais de direitos dos trabalhadores, que incluem não demitir mulheres quando elas engravidam. Em 2015, a entidade apontou que os contratos haviam deixado de conter várias das regras abusivas.

"Nossas políticas tem evoluído com o crescimento da empresa", disse uma porta-voz da companhia à AFP, em 2015, ao confirmar uma mudança nas regras, que permitiu às mulheres ocuparem funções mais leves durante a gestação. A Folha procurou a Qatar via assessoria de imprensa, mas não obteve resposta.

As negociações para melhorar as condições trabalhistas ainda estão em andamento. Em março de 2022, o ITF e o Ministério do Trabalho do Qatar assinaram um termo de entendimento que prevê medidas como a formação de comitês nas empresas, para que os funcionários possam debater questões trabalhistas com a chefia. O país tinha regras rígidas contra a formação de sindicatos.

"Em apenas alguns anos, ajudamos o Qatar a se mover de uma nação onde trabalhadores migrantes tinham poucos direitos para uma onde eles têm proteções numerosas", disse Paddy Crumlim, presidente do ITF, em um comunicado.

"Ainda há questões de direitos humanos na região, mas estamos mudando as mentes. Nossa abordagem passo a passo está funcionando. Fizemos grande progresso no Qatar e esperamos expandir nosso engajamento com outros governos da região", prosseguiu.

Empresa é conhecida por serviços de luxo; passagem de SP pode custar R$ 71 mil

A Qatar Airways é uma das maiores companhias aéreas do mundo. Criada em novembro de 1993, fez seu primeiro voo em janeiro do ano seguinte. Inicialmente, tinha como sócios os governos do Bahrein, Emirados Árabes Unidos e Omã, que depois deixaram a sociedade, hoje controlada pela família real qatariana.

Em 1997, a Qatar foi relançada, com ambições globais. Aos poucos, foi comprando aviões de grande porte e criando conexões com aeroportos nos cinco continentes. A empresa aposta em serviços de luxo, como aeronaves que não possuem classe econômica e muitas amenidades a bordo.

A Qatar já ganhou sete vezes o título de Melhor Companhia Aérea global, dado pela consultoria britânica Skytrax, a partir de pesquisas feitas com os viajantes.

O conforto, no entanto, custa caro. Em uma cotação feita nesta segunda (21), uma viagem de ida e volta de São Paulo a Doha, em classe executiva, em janeiro de 2023, sairia por R$ 71 mil. Na econômica, a mesma viagem sairia por R$ 17 mil.

De acordo com seu últimos relatórios, a Qatar atende atualmente 150 destinos e transportou 18,5 milhões de passageiros no ano entre abril de 2021 e março de 2022. Antes da pandemia, em 2019-20, a empresa levou 32,3 milhões de viajantes.

A queda no fluxo internacional, consequência da Covid-19, gerou forte perda financeira. O último ano fiscal, terminado em março, registrou prejuízo de 5,6 bilhões de riales do Qatar (R$ 8,18 bilhões).

Atualmente, a Qatar possui frota de 251 aviões, de vários portes, desde o Airbus A320, para médias distâncias, até os gigantes Boeing 777-200LR (capaz de voar 17.370 km sem parar) e o Airbus A380 (que leva até 517 pessoas por voo).

O mesmo grupo que dirige a Qatar opera o aeroporto de Doha e tem participação em outras companhias, como 10% da Latam. 9,9% da Cathay Pacific e 25% da IAG, que reúne marcas como British Airways e Iberia.

Na década passada, a empresa se aproximou do futebol: estampou sua marca na camisa de grandes times, como Barcelona, Bayern de Munique, PSG e Boca Juniors, além de patrocinar torneios como a Libertadores, Eurocopa e a Copa do Mundo de 2018. Desde 2017, é a companhia aérea oficial da Fifa.


Raio-x da Qatar Airways

Fundação: 1993
Funcionários: 45 mil
Receita líquida: 52,3 bilhões de riales de Qatar (R$ 76,5 bilhões)
Prejuízo líquido: 5,6 bilhões de riales de Qatar (R$ 8,18 bilhões)
Presença: Atende mais de 150 destinos em cinco continentes

*Dados do ano fiscal 2021-22.

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