Às vésperas da Copa do Mundo, até a escolha de uma erva-mate é capaz de mexer com os ânimos na Argentina e acirrar a rivalidade com países vizinhos.
A polêmica em questão começou no início do mês, com a divulgação de uma imagem nas redes sociais. Nela, há uma caixa de mercadorias que a delegação argentina decidiu levar para o mundial do Qatar.
O que chamou a atenção foi a presença de pelo menos dez pacotes da erva-mate Canarias, marca tradicional do mercado do Uruguai.
Rapidamente, parte dos argentinos passou a questionar a escolha com o argumento de que o produto não tem uma ligação direta com o país de Lionel Messi.
O curioso é que, apesar de a Canarias ser uma marca consolidada entre os uruguaios, a produção é feita na região Sul do Brasil.
A fabricante responsável é a gaúcha Baldo, do município de Encantado (a 140 km de Porto Alegre).
Nos últimos meses, a cidade de 23 mil habitantes ganhou holofotes com a construção de um Cristo Protetor maior do que a famosa estátua carioca do Cristo Redentor.
A Baldo tornou-se sócia majoritária da Canarias em 1998, segundo informações disponíveis no site da empresa, que optou por não comentar a situação inusitada envolvendo a seleção argentina.
A fabricante também possui unidades produtivas em Santa Catarina e no Paraná, além de uma estrutura no Uruguai, onde é feita a distribuição das mercadorias da marca.
O país vizinho é dependente da importação da erva para mate –ou chimarrão, como é chamada a bebida no Sul do Brasil.
O alvoroço com a escolha da delegação argentina envolveu produtores e até políticos locais. O ex-deputado Luis Mario Pastori usou as redes sociais para reclamar.
"Insólito e inexplicável. Existem dezenas de marcas de erva-mate muito boas na Argentina, produzidas em Misiones e Corrientes. No entanto, a seleção leva ao Qatar uma marca uruguaia. Há alguma explicação oficial? É quase uma provocação", disse.
Coube a um assessor de comunicação da AFA (Associação do Futebol Argentino) a tarefa de tentar tranquilizar os ânimos.
Ele postou nas redes sociais uma foto de uma caixa com pacotes da erva-mate Playadito, da Argentina, que também acompanharia a seleção na Copa.
"Tem para todos os gostos, não se alterem, rapazes", escreveu na legenda da imagem.
Para os uruguaios, a Canarias "é como religião", afirma Pedro Schwengber, em referência ao fato de a marca ser tradicional no mercado do país.
Schwengber é diretor-executivo do Instituto Escola do Chimarrão, no município gaúcho de Venâncio Aires (a 130 km de Porto Alegre). A entidade, criada em 2004, busca estimular a cultura da bebida.
Conforme Schwengber, as características apreciadas da erva-mate mudam de acordo com a região. No Sul do Brasil, a produção para consumo costuma ser mais rápida, o que garante uma coloração mais esverdeada. "A orientação que a gente dá é para que o consumo siga a data de fabricação. Quanto mais nova, melhor", diz.
Já no Uruguai e na Argentina, o produto costuma ser consumido após um processo mais lento até a saída das empresas. O período prolongado garante uma coloração mais amarelada para a erva, e não tão esverdeada, além de um sabor mais amargo para o mate, indica Schwengber.
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