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2022: o ano que quebrou o bitcoin

Alta dos juros nos EUA e colapso da FTX contribuíram para queda da criptomoeda

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Tom Wilson Medha Singh Lisa Pauline Mattackal
Londres e Bengaluru | Reuters

O bitcoin capotou em 2022, terminando o ano caído em um beco e perdendo a fama de dinheiro fácil e apostas alavancadas, e evitado pelos investidores.

A criptomoeda perdeu 60% de seu valor, enquanto o mercado mais amplo encolheu US$ 1,4 trilhão (R$ 7,4 trilhões), esmagados pelo aumento das taxas de juros, além do desaparecimento do interesse em negócios de risco abalados por colapsos de empresas do setor que incluíram a FTX, de Sam Bankman-Fried.

Os fundos de criptomoedas registraram entradas líquidas de US$ 498 milhões (R$ 2,6 bilhões) em 2022, contra US$ 9,1 bilhões (R$ 48,3 bilhões) em 2021, de acordo com dados da gestora de ativos digitais CoinShares, refletindo como as finanças convencionais se afastaram do mercado.

Ilustração representativa da criptomoeda bitcoin
Ilustração representativa da criptomoeda bitcoin - Dado Ruvic - 27.set.2017/Reuters

James Malcolm, diretor de estratégia de câmbio do UBS, afirmou que durante o primeiro semestre do ano ele passou 70% de seu tempo com clientes interessados em criptomoedas. Em contraste, no mês passado, durante 10 dias de Montreal a Miami "eu passei menos de 2% do meu tempo discutindo cripto".

Mesmo no ano passado, ante do colapso começar em novembro, as criptomoedas eram vistas como distantes dois ou três anos de ganharem aceitação de grandes investidores institucionais, disse Malcolm.

"Agora isso está completamente em um futuro muito distante."

2023

No entanto, este ano não foi tão ruim para as criptomoedas quanto pode ter parecido: 2022 também foi o ano em que a blockchain ethereum finalmente lançou sua mega-atualização conhecida como "Fusão", que a mudou em setembro para um sistema de "prova de participação", com menor gasto de energia.

"Este evento foi...um dos únicos eventos positivos em um ano que, de outra forma, foi bastante sombrio para as criptomoedas", disse Anthony Georgiades, cofundador da blockchain Pastel Network.

"Esta atualização vai tornar o ecossistema Ethereum bem mais fácil de usar por pessoas ao redor do mundo. Por causa deste progresso, é difícil não ser otimista sobre criptomoedas em 2023", acrescentou.

Ben McMillan, diretor de investimentos da IDX Digital Assets, disse que a crescente popularidade das ferramentas baseadas em blockchain, incluindo trocas e finanças descentralizadas, também foi um desenvolvimento importante este ano.

"Portanto, isso é muito positivo para o ecossistema e algo para ficar de olho a longo prazo", acrescentou. "Podemos ver alocações maiores para ativos digitais assim que o apetite pelo risco for retomado em 2023."

Bitcoin encontra recessão

A cotação do bitcoin atingiu um recorde de US$ 69 mil (R$ 366,7 mil) em novembro de 2021, com o mercado de criptomoedas valendo US$ 3 trilhões (R$ 16 trilhões). A moeda foi impulsionada por estímulos fiscais e monetários de países ao redor do mundo que tentavam evitar os danos econômicos causados por suas próprias medidas de isolamento social.

Mas, à medida que as sociedades retomaram as atividades, o aumento da inflação forçou os bancos centrais a apertar as taxas e isso levou os investidores a fugirem de ativos de alto risco, como ações de empresas de tecnologia e criptomoedas.

O bitcoin, longamente tido como sendo uma moeda de reserva de valor em tempos de inflação por causa de sua oferta limitada, fracassou no primeiro teste, com investidores abandonado a criptomoeda por tradicionais portos seguros como o dólar.

"O ano de 2022 foi um novo ambiente para ativos digitais. Eles nunca estiveram em uma recessão ou em um ambiente de aumento das taxas", disse Katie Talati, diretora de pesquisa da empresa de ativos digitais Arca.

À medida que os investidores retiravam seus investimentos em criptomoedas, grandes projetos ficaram sob tensão. O primeiro a quebrar foi a terraUSD, supostamente uma "stablecoin", e sua irmã luna. O valor das moedas caiu em maio, com os investidores perdendo globalmente cerca de US$ 42 bilhões (R$ 223,2 bilhões).

As ondas de choque reverberaram pelo mercado: o banco de criptomoedas norte-americano Celsius congelou os ativos dos clientes em junho e revelou um rombo de US$ 1,2 bilhão (R$ 6,3 bilhões) ao declarar insolvência, puxando o fundo de hedge de criptomoedas Three Arrows Capital, com sede em Cingapura, para o buraco.

Em novembro, uma das principais plataformas do setor, FTX, entrou com um repentino pedido de proteção judicial e o bitcoin perdeu 25% de valor em menos de quatro dias, enquanto Bankman-Fried lutava por fundos para resgatar sua corretora.

O bitcoin e outros ativos digitais foram triturados, caindo mais da metade em apenas 49 dias desde o final de maio. Em um único dia de junho, a maior criptomoeda do mundo caiu mais de 15%, seu pior dia desde março de 2020, quando a onda de Covid-19 agitou os mercados financeiros. O bitcoin agora está pairando em torno de US$ 16 mil (R$ 85 mil).

No geral 2022 foi praticamente uma calamidade para as criptomoedas. Ou, como diz a economista Noelle Acheson, "o ano em que a bolha inflada pela alavancagem estourou, revelando as fraquezas estruturais de uma indústria que cresceu muito, muito rápido".

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