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Avanço da IA com ChatGPT alerta sobre trapaça de estudantes

Programa pode elaborar argumentos e escrever textos convincentes, causando preocupação sobre trapaças em trabalhos escritos

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Cristina Criddle Bethan Staton
Londres | Financial Times

As universidades estão sendo instadas a se protegerem contra o uso de inteligência artificial (IA) em redações, após o surgimento de um sofisticado programa de chatbot que pode imitar o trabalho acadêmico. Isso provocou um debate sobre as melhores maneiras de se avaliar os alunos no futuro.

O programa ChatGPT, criado pela empresa OpenAI, apoiada pela Microsoft, pode elaborar argumentos e escrever textos convincentes, causando uma preocupação generalizada de que os estudantes usem o software para trapacear em trabalhos escritos.

Acadêmicos, consultores de ensino superior e cientistas cognitivos em todo o mundo sugeriram que as universidades desenvolvam novos modos de avaliação para reagir à ameaça representada pela IA à integridade acadêmica.

Pessoas caminham em frente a uma projeção na parede no evento World Internet Conference (WIC), na China
Pessoas caminham em frente a uma projeção na parede no evento World Internet Conference (WIC), na China - Aly Song - 20.out.2019/Reuters

ChatGPT é um grande modelo de linguagem treinado com milhões de pontos de dados, incluindo grandes blocos de texto e livros. Ele gera respostas convincentes e coerentes a perguntas, prevendo a próxima palavra plausível numa sequência de palavras, mas muitas vezes suas respostas são imprecisas e requerem verificação de fatos.

Quando se pede ao programa para produzir uma lista de leituras sobre um determinado assunto, por exemplo, ele pode gerar referências falsas.

Esta semana, cerca de 130 representantes de universidades participaram de um seminário da JISC, instituição sem fins lucrativos com sede no Reino Unido que aconselha o ensino superior em tecnologia. Eles foram informados de que uma "guerra entre software de plágio e IA generativa não ajudará ninguém" e que a tecnologia pode ser usada para aprimorar a escrita e a criatividade.

A ampla acessibilidade dessa ferramenta, que é gratuita para o público, tem gerado dúvidas sobre se ela torna as redações redundantes ou exige outros recursos para corrigir o conteúdo.

O Turnitin é um software usado por cerca de 16 mil sistemas escolares em todo o mundo para detectar trabalhos plagiados e pode identificar alguns tipos de escrita assistida por IA. A empresa sediada nos Estados Unidos está desenvolvendo uma ferramenta para orientar os educadores a avaliarem trabalhos com "vestígios" de IA, disse Annie Chechitelli, diretora de produtos da Turnitin.

Chechitelli também alertou contra uma "corrida armamentista" na detecção de trapaceiros e disse que os educadores devem incentivar habilidades humanas, como pensamento crítico e edição de textos.

A dependência excessiva de ferramentas on-line pode afetar o desenvolvimento ou a criatividade. Um estudo em 2020 da Universidade Rutgers sugeriu que os alunos que usam o Google para responder a seus deveres de casa obtêm notas mais baixas nos exames.

"Os alunos não obterão A automaticamente ao apresentar conteúdo gerado por IA; é mais um ‘burro de carga’ do que um Einstein", disse Kay Firth-Butterfield, chefe de inteligência artificial do Fórum Econômico Mundial em Davos, acrescentando que a tecnologia vai melhorar rapidamente.

Os acadêmicos alertaram que a educação tem demorado a responder a essas ferramentas. "O sistema educacional em geral está apenas acordando para isso, [mas é] o mesmo tipo de problema que os telefones celulares na escola. A resposta foi ignorá-lo, rejeitá-lo, bani-lo e depois tentar acomodá-lo", disse Mike Sharples, professor emérito da Open University e autor de "Story Machines: How Computers Have Become Creative Writers" [Máquinas de histórias: como os computadores se tornaram escritores criativos].

Mudar para avaliações mais interativas ou trabalho reflexivo pode ser caro e desafiador para um setor já sem dinheiro, disse Charles Knight, consultor de ensino superior.

"A razão pela qual o ensaio escrito é tão bem-sucedido é em parte econômica", acrescentou. "Se você fizer [outras] avaliações, o custo e o tempo necessário aumentam."

A Universities UK, que representa o setor no Reino Unido, disse que está acompanhando de perto, mas não trabalhando ativamente na questão, enquanto o órgão regulador independente australiano do ensino superior, TEQSA, disse que as instituições precisam definir suas regras com clareza e comunicá-las aos alunos.

"O aprendizado é um processo, não se trata do resultado final em muitos casos, e um ensaio não é útil em muitos empregos", disse Rebecca Mace, filósofa digital e pesquisadora educacional do Instituto de Educação da University College London (UCL).

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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