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Entregas com bikes elétricas crescem, e frotas ultrapassam 7.000 veículos

iFood aluga bicicletas aos entregadores, enquanto Correios oferecerá veículos aos carteiros

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São Paulo

O uso de bicicletas elétricas para entregas no Brasil ganhou força nos últimos dois anos, puxado por iniciativas de duas empresas de perfis distintos: a centenária estatal Correios e o iFood, aplicativo de entregas criado na década passada. O modo em que as bikes são oferecidas aos colaboradores também é bem diferente.

Em novembro deste ano, os Correios fizeram um pregão para comprar 5.946 bicicletas elétricas com baú, que serão entregues a partir de março de 2023. Com isso, a empresa espera ter a maior frota deste tipo de veículo no país.

"O uso desta nova bicicleta otimiza o tempo na distribuição, traz conforto e praticidade para os condutores e, sobretudo, colabora para a sustentabilidade das operações", disseram os Correios, em nota.

Central do Ifood, no bairro de Pinheiros, onde as bicicletas elétricas ficam guardadas, passam por manutenção e recebem recarga - Karime Xavier-29.nov.22/Folhapress

A estatal faz testes com as elétricas desde o ano passado. Houve um piloto em Brasília (DF) e outro em Praia Grande (SP), com cerca de 30 bikes cada um.

Os modelos foram aprimorados a partir das sugestões dos carteiros, que passarão a usá-las para fazer as entregas do dia a dia. Cada unidade tem um baú e consegue levar 20 kg de carga. A autonomia é de 30 km por recarga, podendo chegar a 45 km.

Já no iFood, as bicicletas elétricas são alugadas aos entregadores cadastrados na plataforma, que atende pedidos de comida, compras de supermercado e outros itens.

O programa começou em 2020 e soma 7 milhões de entregas feitas, 18 mil entregadores cadastrados, 2.500 bicicletas e atuação em seis cidades: São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), Recife (PE), Porto Alegre (RS) e Brasília.

"Uma boa parte dos pedidos são em raios de entrega curtos, e não faz sentido usar moto", afirma Fernando Martins, gestor do time de logística do iFood. As entregas de bicicleta são feitas em distâncias de até 5 km, dependendo das condições do terreno.

Martins conta que os usuários geralmente são mais jovens que os de moto e têm entre 18 e 24 anos. "Boa parte destes entregadores está usando a plataforma para gerar sua primeira renda. Alguns estudam e fazem um complemento de renda nas horas vagas", diz.

"Com esta bicicleta aqui, as ladeiras parecem rua reta", elogia David Anastasia, 40. Ele está no programa desde o início e testou todos os modelos já usados.

David Anastasia, 40, entregador do iFood, em central no bairro de Pinheiros - Karime Xavier/Folhapress

Anastasia conversou com a Folha em uma das sedes do projeto, um galpão com centenas de bicicletas na rua Cardeal Arcoverde, em Pinheiros. Ali, os entregadores retiram e devolvem as bikes. Cada empréstimo custa entre R$ 1,99 e R$ 3,98, por quatro horas. Também é preciso pagar uma taxa semanal de R$ 32, no plano completo.

No começo, as bikes usadas pelo programa eram iguais às do sistema Bike Itaú. "Elas eram boas, mas quando a bateria acabava, ficava muito pesado. Teve entregador que até machucou o tendão, porque ela fica ultrapesada", lembra.

Depois, veio um modelo mais leve, mas com outras falhas. "Esta solta a corrente toda hora. A gente chegava nos clientes com a mão suja de graxa. E o pneu era fino, estourava. A gente ficava na mão", diz.

Já a geração atual, adotada há alguns meses, agrada o entregador: é leve, tem pneus robustos e bateria melhor.

Questionada sobre as falhas apontadas, a Tembici, que fornece os veículos para o iFood, disse em nota apenas que o programa considera "todas as necessidades do entregador".

Cada entrega paga geralmente R$ 6 para o ciclista. O iFood coloca estímulos, como dar mais R$ 3 ou R$ 4 por entrega se o trabalhador bater uma meta ou atuar em momentos de alta demanda. "Eles fazem promoção quando tá chovendo, quando tá aquele frio de lascar", conta Anastasia.

"Dá para ganhar bem, fazer uma média de R$ 80 a R$ 100 por dia. Até R$ 150 se o cara esticar", afirma.

Questionado sobre o fato de a empresa alugar um equipamento de trabalho aos seus colaboradores, o sindicalista Gilberto Santos disse não ver problema.

"O programa é positivo porque passa a ser uma ferramenta a mais para o trabalhador ter acesso a uma ferramenta de trabalho e de termos mais pessoas no mercado das entregas", avalia ele, que preside o SindimotoSP (Sindicato dos Mensageiros, Motociclistas, Ciclistas e Moto-Taxistas de São Paulo).

"Falta ainda a gente acertar a remuneração dentro de um acordo coletivo, para que os trabalhadores possam trabalhar de uma maneira mais digna", prossegue Santos.

Sobre a questão trabalhista, o iFood disse que "todos os entregadores têm autonomia e flexibilidade para realização do trabalho e são livres para escolher o modal e o tempo de dedicação a uma ou mais plataformas para geração de ganhos."

A adoção de bikes elétricas são parte da estratégia de Correios e iFood para reduzir a poluição gerada pelas entregas. Além de não sujar o ar, os modelos também são silenciosos, o que ajuda a reduzir o barulho na cidade. É comum ver motos com escapamento aberto fazendo muito ruído na aceleraração.

Daniel Guth, diretor da Aliança Bike (Associação Brasileira do Setor de Bicicletas), aponta que o custo das elétricas vem diminuindo nos últimos anos, especialmente por reduções de carga tributária, e que iniciativas empresariais ajudam a baixar os preços.

"Quanto mais tiver demanda, mais barata ela vai ficar. Hoje tem bikes elétricas de entrada, com tecnologia razoável, que partem de R$ 3.000", avalia.

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