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Desaceleração nos EUA e na Europa afeta meio milhão de trabalhadores no Vietnã

Queda do poder de compra de compradores ocidentais leva crise ao país asiático

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Tran Thi Minh Ha
Cidade de Ho Chi Minh | AFP

Depois de dez anos fabricando sapatos para marcas internacionais como Timberland, ou K-Swiss, Phan Thi Nhieu foi demitida, assim como dezenas de milhares de outros trabalhadores vietnamitas vítimas da desaceleração do consumo mundial.

Um dos maiores exportadores de roupas do mundo, o Vietnã sofre com a crise do custo de vida nos Estados Unidos e na Europa, o que levou a uma queda na demanda das empresas dessas regiões.

Nessa conjuntura difícil —entre inflação e dificuldades de abastecimento—, a mão de obra, principalmente feminina, serve como variável de ajuste para as empresas que desejam se manter à tona.

Funcionários em fábrica de pacotes da Nam Thai Son Group, na Cidade de Ho Chi Minh, Vietnã - Nhac Nguyen - 2.dez.2022/AFP

Mais de 470 mil pessoas passaram a trabalhar em meio período nos últimos quatro meses de 2022, enquanto outras 40 mil perderam o emprego. Destas, cerca de 30 mil são mulheres com 35 anos, ou mais, informa o sindicato nacional de trabalhadores mais poderoso do Vietnã, o VGCL.

Ao todo, isso afeta 1.200 empresas, sobretudo, estrangeiras, nos setores têxtil, calçadista, de móveis, ou eletroeletrônico, completa o sindicato.

No início de novembro, Phan Thui Nhieu, de 31 anos, "chorou" quando seu empregador, o taiwanês Ty Hung, anunciou a demissão de dois terços dos 1.800 trabalhadores da fábrica de Ho Chi Minh, incluindo ele mesmo, devido à falta de pedidos.

"Fiquei tão chocada. Chorei, mas não pude fazer nada, tenho que aceitar", desabafou.

Agora, ela sobrevive com um salário mensal de US$ 220 em um quarto de nove metros quadrados, que ocupa com o marido e dois filhos na capital econômica do sul do Vietnã, onde a renda média é de US$ 370 por mês. Com dois meses de salário como indenização, Nhieu tem pouco para alimentar sua família.

"Não temos ninguém para nos ajudar", afirma.

"Nunca me dei ao luxo de sonhar com o que quero da vida. Só tenho um desejo: ganhar o suficiente para sobreviver", confessa.

Para os 20 mil trabalhadores da gigante taiwanesa Puyuen, terceirizada da Nike, a crise assume a forma de licenças forçadas, por rodízio, para dividir o pouco trabalho.

Segundo a imprensa, a sul-coreana Samsung, maior investidora estrangeira no Vietnã, reduziu sua produção de smartphones.

As encomendas dos Estados Unidos caíram entre 30% e 40% em relação ao ano passado, e o número sobe para -60% para a Europa, afetada pela inflação relacionada com a invasão russa da Ucrânia, detalha o VGCL.

Os trabalhadores calculam que a situação será pior neste inverno do que durante a pandemia de coronavírus, que os obrigou a ficar em casa e a sobreviver graças a doações de alimentos.

Para as empresas exportadoras vietnamitas, que trabalhavam "em plena capacidade" durante o primeiro semestre de 2022, a desaceleração da atividade é claramente perceptível, diz o vice-diretor da Associação Empresarial de Ho Chi Minh-Ville, Tran Viet Anh.

"No início do terceiro trimestre, devido à inflação global, o consumo caiu, o que levou à suspensão dos pedidos e a enormes excedentes de estoques", explicou.

Para ele, a desaceleração atual será apenas temporária.

"2023 será um ano em que se aumentará a produção para compensar", afirma, acrescentando que os investidores estrangeiros veem o Vietnã cada vez mais visto como uma alternativa à China, devido à gestão da Covid-19.

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