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Abimaq acusa siderúrgicas de fazer 'chantagem' para ter proteção contra aço chinês

Instituto Aço Brasil defende tarifa maior e afirma que setor de máquinas busca 'cinco minutos de fama'

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São Paulo

"Chantagem. Isso se chama chantagem!". É nesses termos que o presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), José Velloso, se refere a posicionamentos recentes das principais siderúrgicas do Brasil, que pleiteiam do governo aumento de tarifas para se protegerem da importação de aço da China.

Velloso afirma que os "chantagistas" seriam o Instituto Aço Brasil, que representa o setor, e cita especificamente a Gerdau, maior produtora no país.

Carregamento de bobina e aço é transportado por trem de carga no interior de São Paulo. - Lucas Lacaz Ruiz/Folhapress - 10.set.2021

Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o presidente da Gerdau, Gustavo Werneck, disse recentemente que o Brasil tem perdido competitividade na siderurgia com o aumento da importação de aço da China.

"O Brasil já foi um grande produtor de alumínio, mas esse segmento importante da indústria foi destruído. Será que o Brasil vai destruir a sua indústria de aço também?", afirmou.

Velloso sustenta que Werneck "dá esse tipo de declaração para baixar o valor de mercado da Gerdau e depois comprar as suas ações mais barato".

"O Werneck fica dizendo que vai ter desinvestimento, que vai faltar aço. Aço é uma commoditie e ele vem fazer ameaças de que vai faltar aço", afirma Velloso.

"Isso é mentira de moleque. Uma mentira que vai para outra mentira. Ele está dizendo que vai parar de produzir aço porque está tendo invasão e aí o Brasil não vai ter aço. Mas, se está tendo invasão, não faz sentido o que ele está dizendo."

Procurada pela Folha para comentar as declarações de Velloso, a Gerdau inicialmente ficou de se posicionar por meio de uma nota. Depois, informou que não iria se manifestar.

Já o presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes, disse que Velloso "está buscando seus cinco minutos de fama". "É coisa de gente que faz barulho sem nenhuma fundamentação", diz.

Por traz da briga está um pedido do Instituto Aço Brasil ao Gecex-Camex (Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior), composto por membros de dez ministérios e presidido pelo MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), para elevar a alíquota de importação de 18 produtos —entre eles bobinas de aço laminado a quente, entre as mais usadas pelo setor de máquinas.

Ainda não há decisão final sobre o pleito, que pede uma proteção tarifária de 25%, bem acima da sobretaxa atual, que varia entre 10,8% e 12%.

Enquanto Lopes, do Aço Brasil, afirma que há uma "invasão" de aço chinês no mercado brasileiro, o que elevou a capacidade ociosa das siderúrgicas, segundo ele, para 40%, Velloso, da Abimaq, diz que o aço brasileiro "é o mais caro do mundo".

Segundo ele, a grande maioria das 8.600 empresas de compõem a Abimaq são pequenas e médias e pagam, por exemplo, US$ 1.210 a tonelada do aço laminado a quente —ante média de US$ 794 em dez países, incluindo Estados Unidos e China, grandes produtores.

Velloso afirma que, em caso de aumento da proteção, poderá haver alta entre 3% e 15% no preço para quem compra aço.

Lopes afirma que há outros custos embutidos no preço do produto brasileiro e que o setor enfrenta uma "política deliberada do Estado chinês" em vender aço a preço mais baixo no Brasil.

Segundo ele, das 564 milhões de toneladas de capacidade mundial de produção de aço, a China participa com 191 milhões —e que tem produto em excesso para vender neste momento. O Brasil tem capacidade de 51 milhões de toneladas.

Lopes afirma que, sem a proteção adicional, poderá haver mais paralisações de siderúrgicas, "demissões e um desarranjo na cadeia produtiva". Em 2024, o aço importado poderá representar cerca de um quarto do produto consumido no país.

Já os setores de máquinas e equipamentos, construção civil, automóveis, eletrodomésticos, indústria naval, entre outros, formaram uma coalizão composta por 16 entidades para brigar contra o aumento da proteção.

"Nós também sofremos com a concorrência de máquinas chinesas vendidas no Brasil. Se houver aumento no preço do aço, nossos produtos também ficarão mais caros", diz Velloso.

Não há data marcada para eventual decisão do Gecex-Camex sobre o assunto.

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