A Danone, gigante francesa dos laticínios, está sendo processada por três organizações ambientais que afirmam que a empresa não reduziu suficientemente seu impacto ambiental em termos de resíduos plásticos, em um processo judicial que representa um desafio à responsabilidade social das empresas diante da crise do clima.

As organizações acusam a Danone —uma das 10 maiores poluidoras do planeta em termos de resíduos plásticos— de "não cumprir as suas obrigações" sob uma inovadora lei francesa que exige que as grandes empresas lidem com o seu impacto ambiental e que abriu caminhos para processá-las caso não o façam.

"A Danone está indo em frente aos trancos e barrancos, sem um plano sério para lidar com os plásticos, apesar da clara preocupação dos especialistas em clima e saúde e dos consumidores, e de sua obrigação legal de lidar com a questão", disse Rosa Pritchard, advogada da ClientEarth, uma das organizações envolvidas no processo, em uma declaração divulgada na segunda-feira (9).

Um porta-voz da Danone disse que a empresa refuta a acusação "vigorosamente", acrescentando que ela estava tomando medidas para "reduzir a utilização de plástico, desenvolver a reutilização, reforçar os canais de recolhimento e reciclagem, e desenvolver materiais alternativos".

O processo provavelmente concentrará as atenções no crescimento explosivo da poluição por plásticos, que os cientistas dizem estar afetando a qualidade do ar e da água, o aquecimento global, e a vida humana e animal. A questão é tão premente que no ano passado as Nações Unidas chegaram a um acordo para começar a negociar um tratado cujo objetivo seria refrear a produção de plásticos.

Mas o anúncio de segunda-feira também aponta para uma tendência mais ampla no ativismo ambiental, a de grupos de ativistas abrirem número cada vez maior de processos contra governos e empresas em um esforço para reduzir a distância entre as promessas que ambos fazem quanto ao clima e seu histórico real de ações.

Ao processar a Danone, a ClientEarth e as duas outras organizações, Surfrider Europe e Zero Waste France, esperam lançar luz sobre o que muitos cientistas dizem ser uma crise mundial do plástico, cujos efeitos potencialmente devastadores ainda não foram totalmente compreendidos.

Ao longo do seu ciclo de vida, os plásticos, que são fabricados a partir de combustíveis fósseis, liberam poluentes atmosféricos, prejudicam a saúde humana e matam a fauna marinha. Em 2015, foram responsáveis por 4,5% das emissões globais de gases causadores do efeito estufa, constatou um estudo recente, um total superior ao de todos os aviões do planeta combinados.

Números da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) mostram que, nas últimas sete décadas, a produção de plásticos subiu de dois milhões para mais de 400 milhões de toneladas —e a expectativa é de que quase triplique até 2060.

Tradução de Paulo Migliacci