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Direção bolsonarista em Itaipu faz convênios e antecipa nomeação às vésperas de o PT assumir

Foram mais de 30 novas parcerias e alterações de contratos desde que Lula ganhou eleição

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Brasília

O diretor-geral de Itaipu da gestão bolsonarista, vice-almirante Anatalício Risden Junior, tem sido ativo no encerramento de sua gestão, na avaliação de quem acompanha a estatal. No cargo à espera do substituto, que será escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ele tem assinado novas parcerias e alterado o escopo de alguns contratos já vigentes, ampliando prazos ou valores.

Também antecipou a nomeação de um cargo estratégico, cujo mandato terá início em março.

Vista das comportas de um vertedouro de Itaipu Binacional, a segunda maior hidroelétrica do mundo; empresa aguarda troca no comando - Rubens Fraulini/Itaipu Binacional/Divulgação

O protagonismo de Risden chama a atenção porque a escolha de diretores e conselheiros de Itaipu é uma prerrogativa do presidente da República. A saída de toda cúpula do lado brasileiro é uma questão de tempo. Desde 1º de janeiro, pode ocorrer a qualquer momento.

Há quem argumente que o período eleitoral afetou a liberação de recursos, e Risden precisa concluir parcerias já acertadas com vários municípios. No entanto, a avaliação de outros é que ele deveria ser mais comedido, pois está formando uma herança de última hora para os próximos gestores, dentro de uma conta que não para de crescer e é paga pelos consumidores de energia do Brasil.

Essas parcerias compõem os chamados programas de responsabilidade socioambiental de Itaipu. Boa parte financia obras. Um levantamento realizado pela consultoria PSR, uma das mais conceituadas do Brasil na área de energia, identificou que esses gastos passaram de US$ 88,5 milhões (R$ 459,5 milhões) em 2013 para US$ 316,1 milhões (R$ 1,6 bilhão) em 2022.

Nos meses de novembro e dezembro do ano passado, quando já era certa a mudança no comando de Itaipu, pois Lula havia vencido a eleição, a gestão de Risden firmou ou alterou 31 convênios ou acordos, segundo relatórios publicados pela empresa em sua página na internet.

A listagem de janeiro ainda não está disponível no site. No entanto, segundo estimativa repassada à Folha, as parcerias continuam sendo feitas no primeiro mês de 2023.

Novos convênios e acordos oficializados nos dois últimos meses de 2022, somados aos realizados nas duas primeiras semanas de janeiro, totalizam o empenho futuro de mais de R$ 40 milhões.

É preciso lembrar que cada valor gasto no Brasil é igualmente liberado no Paraguai, para garantir a paridade nos benefícios.

O apoio de Itaipu a projetos no Paraná tem forte apelo político regional, e as iniciativas no fim do mandato da atual diretoria entram para cota política dos apoiadores do governo anterior. No Paraná, Jair Bolsonaro (PL) ganhou no segundo turno da eleição, com 62% dos votos válidos.

Oficialmente, os projetos de Itaipu no lado brasileiro devem ser focados na área de influência da usina, basicamente, o oeste do Paraná. Esse limite geográfico, no entanto, foi sendo ampliado em anos recentes.

Itaipu já liberou mais de R$ 7 milhões para conservação, restauração e gestão do complexo arquitetônico dos acervos do Ministério das Relações Exteriores do Rio de Janeiro, a 1.500 quilômetros da usina. O argumento é que o tratado de Itaipu foi assinado no palácio.

Na lista dessas recentes parcerias firmadas na gestão do contra-almirante está um convênio, com data de 30 de dezembro, firmado com a secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar, no valor de R$ 6,8 milhões, para financiar um projeto de segurança e eficiência energética em ilhas oceânicas brasileiras. A área de influência de Itaipu não está junto ao oceano, mas no interior do Brasil.

O ato que mais surpreendeu a equipe em Itaipu foi a antecipação de uma nomeação.

O atual superintendente de Operação vai se aposentar em março, mas o substituto já foi ratificado. Em documento de 5 de janeiro, foi determinado que Rodrigo Gonçalves Pimenta vai assumir o cargo em 2 de março.

O superintendente de Operação, que é responsável pela produção de energia, responde diretamente ao diretor técnico da área de produção e segurança da usina. É praticamente um cargo de confiança. Pela lógica, o novo superintendente deve ser escolhido por esse futuro diretor, que ainda será nomeado por Lula.

Pimenta é um funcionário de carreira e até seria natural estar entre os cotados, mas a simples indicação precoce causa desconforto. O próximo diretor técnico, já no início de sua gestão, vai sofrer o constrangimento de fazer uma troca se assim julgar necessário.

Procurada pela Folha, a assessoria de imprensa de Itaipu respondeu que a empresa tem mantido o seu planejamento.

"A Itaipu Binacional, por meio da atuação de sua Diretoria Executiva, prossegue normalmente com suas atividades, e, de acordo com seu planejamento empresarial, tem fortalecido sua governança, principalmente na área de compliance, além de atuar alinhada à sua missão institucional de gerar "energia elétrica de qualidade com responsabilidade social e ambiental, contribuindo com o desenvolvimento sustentável no Brasil e no Paraguai' ", destacou o texto.

Passado quase um mês, o governo Lula ainda não indicou quem vai assumir os diferentes postos de comando de Itaipu. Existe a perspectiva de que participem da escolha a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, que é do Paraná e já atuou na empresa, e a primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, a Janja, que trabalhou por quase 20 anos em Itaipu.

Além do posto de diretor-geral, o novo governo pode indicar sete conselheiros e cincos diretores.

No conselho, há postos com destino certo. Ao menos uma das vagas fica com o Ministério de Relações Exteriores e deve ser ocupada pelo embaixador Mauro Vieira. Uma outra cadeira vai para o Ministério de Minas e Energia, e tende a ficar com o titular da pasta, Alexandre Silveira.

Quanto mais o tempo passa, aumenta a lista de cotados para assumir a diretoria-geral, o posto mais disputado.

Já foram citados nas bolsas de aposta o deputado federal Enio Verri (PT-PR), o deputado estadual Arilson Chiorato, que integrou o grupo de infraestrutura de transição de governo, o ex-ministro Paulo Bernardo e o empresário Jorge Samek, que comandou Itaipu nos governos Lula, Dilma Rousseff e Michel Temer, e conhece Janja.

O nome do ex-governador do Paraná Roberto Requião vai e vem para ocupar um posto na estatal. Ele já declarou publicamente que se sentiu ofendido quando foi sondado para ser um dos conselheiros. Requião estaria pleiteando uma diretoria.

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