Descrição de chapéu The New York Times

Dono do Madison Square Garden usa reconhecimento facial para barrar adversários e causa polêmica

Empresário agora ameaça proibir cerveja em um jogo do time de hóquei Rangers

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Corey Kilgannon
The New York Times

Durante semanas, enquanto crescia a controvérsia sobre o uso de tecnologia de reconhecimento facial para barrar a entrada de advogados adversários no Madison Square Garden, James Dolan, cuja família é proprietária da arena, permaneceu calado, exceto por declarações cautelosas feitas por porta-vozes.

Esse silêncio terminou na manhã de quinta-feira (26), quando ele apareceu em um programa de entrevistas matinal e fez jus à sua reputação de mestre impulsivo do Garden.

Ele citou a Declaração de Direitos e disse que, como proprietário, tinha todo o direito de manter advogados opositores fora do estádio. Ele acusou autoridades eleitas de "entrar na onda" contra sua proibição, em vez de abordarem questões mais urgentes, como a criminalidade e a reforma das fianças. Ele até ameaçou proibir a cerveja em um jogo dos New York Rangers.

James Dolan, CEO do Madison Square Garden Entertainment - Mike Segar/Reuters

Então Dolan trolou um obscuro funcionário do governo —Sharif Kabir, CEO da Agência de Bebidas Alcoólicas do Estado de Nova York, que está investigando o Garden— segurando no alto um panfleto com a foto de Kabir e informações de contato para que os fãs sedentos pudessem "dizer a ele para continuar tricotando".

Afinal, Dolan, dono dos New York Knicks (time de basquete) e dos Rangers (hóquei sobre o gelo), não parecia exatamente intimidado pela tempestade criada por sua proibição.

"Nem um pouco", disse Dolan, que é CEO da MSG Entertainment.

Um bilionário que administrou seu império em tom autocrático, Dolan brigou publicamente com torcedores e ex-jogadores dos Knicks no Garden e em várias ocasiões ameaçou clientes com o banimento vitalício da arena. Mas apenas no mês passado tornou-se público que o local estava usando câmeras em suas entradas para ajudar a barrar advogados que trabalham para empresas que movem ações civis contra as propriedades de Dolan.

O Madison Square Garden usa reconhecimento facial desde 2018, mas o uso incomum por Dolan contra seus inimigos causou uma polêmica crescente e o colocou contra milhares de advogados. Alguns foram à Justiça para obter liminares para forçar sua entrada em eventos no Garden, criando novas batalhas judiciais com Dolan. Outros apresentaram queixas a órgãos governamentais.

A rivalidade local se tornou parte de um debate nacional sobre o espectro da vigilância privada generalizada. Embora a tecnologia de reconhecimento facial seja legalmente autorizada em Nova York, seu uso pelo Garden levantou protestos dos defensores das liberdades civis.

Autoridades eleitas deram entrevistas coletivas e propuseram leis que proíbem a política de exclusão.

Mas foi a investigação da Agência Estadual de Bebidas Alcoólicas que provocou uma das reações mais combativas na entrevista agitada de 17 minutos de Dolan no programa matinal "Good Day New York", na FOX 5. Dolan desafiou a agência a "tirar minha licença para vender bebidas alcoólicas", acrescentando: "As pessoas ainda virão aos jogos".

"Eles estão sendo extremamente agressivos e estão dizendo: 'Vamos tirar sua licença para vender bebidas alcoólicas'. Então, tenho uma pequena surpresa para eles", disse ele.

"Vamos escolher uma noite, talvez um jogo do Rangers, e proibir todas as bebidas alcoólicas no prédio", acrescentou, e então mostrar o panfleto de Kabir.

Um porta-voz da Agência de Bebidas, Joshua Heller, disse na quarta (25) que o Garden, como uma empresa com licença para vender bebidas ao público, deve permanecer aberto ao público. Ele disse que a agência notificou a direção do Garden em novembro sobre uma queixa que os acusava de violar os termos de sua licença sob as leis estaduais de bebidas, ao restringir a entrada de certos membros do público.

James Dolan durante entrevista à Fox 5
James Dolan durante entrevista à Fox 5 - Reprodução/Fox

Um grupo de legisladores estaduais representando Manhattan apresentou um projeto de lei que fecharia uma brecha legal para proibir Dolan de continuar barrando determinados clientes.

Tony Simone, um democrata que representa a zona oeste de Nova York e um dos patrocinadores do projeto de lei, disse que ele próprio entrou em conflito com as práticas de exclusão de Dolan neste mês.

Simone, a primeira autoridade abertamente gay a ocupar um lugar na assembleia, disse que foi abruptamente desconvidado de um jogo do Rangers logo após a circulação de um comunicado à imprensa listando-o entre outros eleitos locais que são contra a política de Dolan.

Em uma entrevista na quinta, Simone disse que um funcionário do Garden lhe informou que "seria estranho neste momento" ele comparecer ao jogo, onde estava sendo organizado um evento de orgulho gay pelo grupo de defesa da inclusão Hockey para Todos.

"Acho que o hóquei é para todos, a menos que você fale algo com que Jim Dolan não concorda", disse ele.

A procuradora-geral de Nova York, Letitia James, e o promotor distrital de Manhattan, Alvin Bragg, dizem estar investigando se as políticas de entrada violam a lei.

Funcionários da MSG Entertainment disseram que a vigilância continua sendo usada principalmente para identificar pessoas que podem ameaçar a segurança e que a lista de observação inclui clientes que violaram regras —como ser violentos, jogar coisas ou se comportar mal.

As empresas da família Dolan também têm sido alvo frequente de ações judiciais —de danos pessoais a perda de ingressos para a temporada e reclamações de acionistas sobre negócios—, e diretores da companhia afirmam que a proibição se destina a impedir que advogados da oposição reúnam evidências.

Visão geral do Madison Square Garden antes de jogo da Stanley Cup 2022, campeonato de hóquei no gelo - USA Today Sports via Reuters

Durante a entrevista na manhã de quinta, Dolan citou seus direitos constitucionais como proprietário de proteger o Garden, comparando sua situação à de uma padaria ou um restaurante.

"Por qualquer motivo, se houver alguém que você não deseja servir, você pode dizer: 'Não quero atendê-lo'", disse ele.

Foi uma entrevista rara de Dolan, e terminou com uma pergunta sobre sua banda de blues.

Finalmente ele sorriu. Disse que estava envolvido com um projeto musical emocionante, "mas está sugando todo o meu tempo".

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.