Novas baterias da BMW abrem caminho para carro elétrico mais barato e produção local

Meta de redução de poluentes na fabricação prevê maior fornecimento regional e pode beneficiar América Latina

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Ricardo Ribeiro
Munique

A BMW inicia a fabricação de uma nova geração de baterias para carros elétricos no primeiro trimestre de 2023, ainda em fase de teste. A Folha teve acesso aos protótipos da tecnologia que promete reduzir custos e elevar a eficiência da Neue Klasse (Nova Classe, em alemão), a nova família de modelos da marca prevista para 2025.

Para a utilização em larga escala, a montadora prevê uma produção descentralizada das baterias com oportunidades para a América Latina.

A sexta geração de baterias é parte essencial da estratégia da BMW para cumprir metas ambiciosas de redução de emissões de poluentes em linha com o Acordo do Clima de Paris. As metas incluem não apenas uma oferta de produtos mais eficientes, mas a descarbonização dos processos de produção, incluindo a cadeia de fornecedores.

Carro azul visto de frente em pátio industrial
Modelo elétrico BMW i4 em fábrica da montadora em Munique, na Alemanha - Lukas Barth - 20.jan.2022/Reuters

"A redução do transporte de componentes e uma maior produção local das novas baterias é parte deste processo. De fato, é muito difícil encontrar fornecedores na América do Norte, mas as baterias poderiam ser fabricadas no México ou na Argentina", afirmou à Folha Juliane Kluge, Head of Cell Chemistry Innovation and Methods da BMW.

A BMW tem trabalhado de forma muito próxima dos fornecedores desde a fase de pesquisa e desenvolvimento, mas ainda não confirmou a localização exata de todas as fábricas de baterias. A linha oficial dada por Joaquim Post, membro do conselho de administração da BMW responsável por Purchasing and Supplier Network, indica apenas que serão duas fábricas na China, duas na Europa e "duas capazes de atender a área de livre comércio entre Canadá, Estados Unidos e México".

Assim, não estaria inteiramente descartada uma produção das novas baterias mais ao sul, ou mesmo no Brasil, onde a BMW fabrica os modelos Série 3, X3 e X4. A Folha apurou que as dificuldades em encontrar fornecedores na América do Norte e as possibilidades de exportação Mercosul-México reforçam as chances de parceiros localizados abaixo do trópico de Câncer.

"Ainda não posso dizer exatamente. Não dizemos ao fornecedor produza naquele local, mas posso garantir que nós estamos comprometidos em ser o mais locais possível", desviou Juliane Kluge, com a mesma habilidade do atacante argentino Lionel Messi.

A fabricação das baterias também depende do interesse do consumidor. No entanto, a demanda pode ser significativa mesmo em países com menor infraestrutura para este tipo de veículo. Isso porque a meta ‘verde’ da BMW também prevê que até 2030 modelos totalmente elétricos sejam responsáveis por metade das vendas da marca no mundo.

Bateria do futuro

A principal novidade da sexta geração de baterias é a adoção de células cilíndricas no lugar das atuais células prismáticas. "Isso permite preencher os espaços de forma mais otimizada e flexível, com diferentes combinações de níveis e dimensões, criando módulos que se adaptam melhor à carroceria do carro", explica Kluge.

Assim, as células cilíndricas prometem uma melhor integração entre o módulo de bateria e a carroceria da Neue Klasse. Atualmente, a maioria dos elétricos ainda parte da introdução de um módulo de bateria longo, pesado e inflexível em uma carroceria não necessariamente projetada para isto, o que tem implicações no desempenho do veículo.

Cada célula pode ter 95 mm ou 120 mm altura, sempre com 46 mm de diâmetro. Além da disposição, os cilindros são feitos de ligas de aço de alta capacidade, o que também melhora a produção e a condução de energia. No total, a sexta geração de baterias da BMW promete um aumento de 30% na autonomia, uma recarga 30% mais rápida e uma redução de 60% nas emissões de CO2.

De acordo com a montadora, as novas baterias também foram desenvolvidas de forma a reduzir o seu custo de produção em 50%. Parte da economia se deve a uma redução no uso de cobalto e níquel nas células. Este é um passo significativo para baixar o preço ainda elevado dos carros elétricos, uma vez que o módulo de bateria representa 40% do custo de produção total destes modelos. Hoje, o elétrico mais "em conta" da BMW no Brasil é o i3, que começa em R$ 339.950.

O novo sistema também traz o monitoramento de cada célula e permite desligamentos individuais em caso de falha. Isto impede falhas em cascata, que é quando várias células ou toda uma seção é afetada por defeitos menores ou até individuais. Embora o risco já seja baixo nos sistemas atuais, esta configuração reduz ainda mais a possibilidade de incêndio ou outros danos, além de minimizar a perda de eficiência.

Com a participação de institutos de pesquisa, startups e fornecedores, o processo de desenvolvimento das novas baterias é parte de um plano iniciado em 2008.

Os protótipos e testes de segurança foram concluídos e a primeira fábrica terminou de ser montada em conjunto com o fornecedor em 2022. A primeira produção piloto deve começar até março de 2023, em Parsdorf, na Alemanha.

O repórter viajou a convite da BMW

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