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Artistas lutam contra programas de IA que copiam seus estilos

Novas obras são feitas sem consentimento, crédito ou compensação ao autor

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Julie Jammot
São Francisco (Califórnia) | AFP

Nos Estados Unidos, artistas indignados com a Inteligência Artificial Generativa (IAG), que copia em segundos os estilos que eles levaram anos para desenvolver, travam uma batalha na internet e nos tribunais em defesa do direito autoral.

A IAG, que cria, sem intervenção humana, conteúdo novo a partir da coleta de dados existentes, é capaz de desenhar um cachorro como se fosse a desenhista Sarah Andersen, ou uma ninfa como se fosse a ilustradora Karla Ortiz.

As novas obras são feitas sem consentimento, crédito ou compensação ao autor: os três "Cs" no centro da luta contra essa apropriação.

A Folha pediu para o Dall-e, site da OpenAI que produz imagens, para fazer um desenho de um robô no centro de São Paulo, inspirado no grafite brasileiro
Desenho de um robô no centro de São Paulo, inspirado no grafite brasileiro, feito pelo programa de inteligência artificial Dall-e - Reprodução

Em janeiro, artistas como Andersen e Ortiz apresentaram, em uma corte federal americana, uma ação coletiva contra as empresas responsáveis por DreamUp, Midjourney e Stable Diffusion, três ferramentas de IAG para criar arte a partir de bilhões de imagens retiradas da internet.

Andersen disse à AFP que se sentiu "intimamente injustiçada" a primeira vez que viu um desenho criado por IAG no estilo de sua história em quadrinhos "Fangs".

Sua reação de indignação no Twitter viralizou e outros artistas fizeram contato com ele apresentando casos similares. Os apoiadores da demanda esperam estabelecer um precedente contra os geradores de IA artísticos.

Os artistas querem poder autorizar ou rechaçar que suas obras sejam utilizadas por uma dessas ferramentas. Também querem uma compensação adequada.

Seria possível idealizar um "sistema de licenças", assinalou Ortiz, que, no entanto, advertiu que o mesmo deve ser justo.

Não se trata "de receber centavos enquanto a empresa embolsa milhões", insistiu a ilustradora que já trabalhou, entre outros lugares, para a Marvel Studios.

Fácil e barato

Nas redes sociais, os artistas compartilham histórias de como a IAG os fez perder trabalho.

Na ação judicial, os demandantes assinalam que um desenvolvedor de jogos de videogame chamado Jason Allen ganhou, no ano passado, um concurso da Feira Estadual do Colorado com arte criada com o Midjourney. "A arte morreu, amigo. Acabou. A IA venceu. Os humanos perderam", disse Allen ao jornal New York Times.

O Museu Mauritshuis de Haia, na Holanda, causou controvérsia ao exibir uma imagem criada com IAG inspirada na "Moça com Brinco de Pérola", de Vermeer. E o Balé de San Francisco foi questionado por utilizar o Midjourney para sua campanha de promoção de "O Quebra-Nozes".

"É fácil e barato, por isso que até mesmo as instituições não pensam duas vezes [em usá-lo], apesar de não ser ético", disse Andersen.

As empresas processadas não responderam aos pedidos de comentários da AFP.

Mas Emad Mostaque, chefe da Stability AI, desenvolvedora do Stable Diffusion, descreveu a AIG como uma "ferramenta" que pode proporcionar novas formas "de idealizar". Segundo ele, ela permitirá que mais pessoas se tornem artistas.

Os críticos não estão de acordo. Quando uma pessoa lhe pede um software que copie um estilo artístico, isso não torna essa pessoa um artista.

Mostaque disse que, se as pessoas escolhem usar a IAG de forma pouco ética ou para violar a lei, "é um problema delas", e não da tecnologia em si.

Gato e rato

É provável que as empresas que se defendem das reivindicações de direitos autorais dos artistas aleguem "fair use" (uso razoável), uma espécie de cláusula de exceção aos direitos autorais, explica o advogado e desenvolvedor Matthew Butterick.

"A palavra mágica utilizada no sistema judicial dos Estados Unidos é 'transformador'", disse. "É este um novo uso do trabalho protegido por direitos autorais ou substitui o original no mercado?"

Os artistas recorreram não só aos tribunais, mas também à tecnologia para se defender da IAG.

Uma equipe da Universidade de Chicago apresentou, na semana passada, o software "Glaze". O programa acrescenta uma camada de dados sobre as imagens que, apesar de invisível para o olho humano, "funciona como uma isca" para a IAG, disse Shawn Shan, estudante de doutorado a cargo do projeto.

A iniciativa é recebida com entusiasmo, mas também com ceticismo.

"A responsabilidade de adotar essas técnicas vai recair nos artistas", lamentou Butterick. "E será um jogo de gato e rato" entre empresas e pesquisadores.

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