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Inflação acelera para 0,84% em fevereiro com reajustes de educação

IPCA vem acima da projeção de analistas; taxa em 12 meses fica em 5,60%

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Rio de Janeiro

O índice oficial de inflação do Brasil acelerou para 0,84% em fevereiro com a pressão dos reajustes na área de educação.

É o que apontam os dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) divulgados nesta sexta-feira (10) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A taxa veio acima da mediana das estimativas do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam inflação de 0,78%. O IPCA havia subido 0,53% em janeiro.

Com o resultado de fevereiro, o índice passou a acumular alta de 5,60% em 12 meses. Nesse recorte, o avanço era até maior, de 5,77%, na divulgação anterior.

Clientes fazem compras em loja de material escolar em São Paulo - Rivaldo Gomes - 9.jan.2020/Folhapress

Apesar da desaceleração em 12 meses, o IPCA acumulado segue acima da meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central) para 2023. O centro da meta é de 3,25%. O intervalo de tolerância é de 1,5 ponto percentual para mais (4,75%) ou para menos (1,75%).

O BC virou alvo de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) neste início de governo. O motivo foi o patamar dos juros no país.

Para conter a inflação, o BC vem deixando a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano. Ao tentar esfriar a demanda por bens e serviços, a medida busca frear os preços e ancorar as expectativas para o IPCA.

O efeito colateral é a perda de fôlego da atividade econômica, porque o custo do crédito fica mais alto para empresas e consumidores. Essa desaceleração já apareceu nos dados do PIB (Produto Interno Bruto) do quarto trimestre de 2022, antes da posse de Lula.

Educação tem maior alta desde 2004

Dos 9 grupos de produtos e serviços do IPCA, 8 tiveram alta em fevereiro, informou o IBGE nesta sexta. O destaque veio de educação.

Esse segmento foi responsável pelo maior impacto no índice, de 0,35 ponto percentual, e pela maior variação, de 6,28%. É a taxa mais alta desde fevereiro de 2004 (6,70%), disse o instituto.

"Fevereiro é sempre muito marcado pela educação, pois os reajustes efetuados pelos estabelecimentos de ensino na virada do ano são contabilizados nesse mês", afirmou Pedro Kislanov, gerente da pesquisa do IBGE.

Dentro do grupo, os cursos regulares subiram 7,58%, puxados por ensino médio (10,28%), ensino fundamental (10,06%), pré-escola (9,58%) e creche (7,20%).

O subitem ensino fundamental teve o maior impacto individual no IPCA do mês (0,15 ponto percentual). O IBGE destacou ainda as altas do ensino superior (5,22%), dos cursos técnicos (4,11%) e da pós-graduação (3,44%).

A sequência dos grupos é formada por saúde e cuidados pessoais (1,26%) e habitação (0,82%), que aceleraram em relação a janeiro (0,16% e 0,33%). Os segmentos contribuíram com 0,16 ponto percentual e 0,13 ponto percentual, respectivamente, em fevereiro.

Transportes e alimentação desaceleram

Transportes (0,37%) e alimentação e bebidas (0,16%), por outro lado, tiveram variações inferiores às registradas em janeiro (0,55% e 0,59%).

Nos transportes, a maior contribuição (0,05 ponto percentual) veio da gasolina (1,16%). Foi o único combustível em alta no mês passado.

Etanol (-1,03%), gás veicular (-2,41%) e óleo diesel (-3,25%) recuaram. Outro destaque foi o resultado das passagens aéreas, que caíram 9,38%.

O grupo alimentação e bebidas, por sua vez, foi influenciado pela desaceleração da alimentação no domicílio (de 0,60% em janeiro para 0,04% em fevereiro).

Houve queda de 1,22% nos preços das carnes, a maior desde novembro de 2021 (-1,38%). Os produtos já vinham em uma trajetória de trégua, que pode ter sido intensificada pelo embargo às exportações brasileiras para a China, indicou Kislanov.

A batata-inglesa (-11,57%) e o tomate (-9,81%) também caíram. Pelo lado dos avanços, o destaque veio do leite longa vida (4,62%). Os preços da bebida voltaram a subir após seis meses consecutivos em baixa.

No acumulado de 12 meses, o ramo de alimentação e bebidas desacelerou para 9,84%. É a primeira vez após 11 divulgações que a taxa fica abaixo de 10%.

Em fevereiro, vestuário (-0,24%) foi o único grupo a mostrar queda. Trata-se da segunda baixa consecutiva. Em 12 meses, o segmento ainda acumula alta de 15,15%. É a maior dos grupos.

Projeção de IPCA perto de 6% no fim do ano

Na mediana, o mercado financeiro prevê IPCA de 5,90% no acumulado até dezembro de 2023, conforme a edição mais recente do boletim Focus. A pesquisa foi divulgada pelo BC na segunda-feira (6).

Se a estimativa for confirmada, este será o terceiro ano consecutivo de estouro da meta de inflação.

Lula já defendeu uma flexibilização da meta com a expectativa de abrir espaço para o corte dos juros. Parte dos economistas, contudo, entende que o efeito concreto seria o oposto, por ampliar as incertezas.

"A despeito da aceleração da inflação na margem, crescem as apostas de que o Banco Central comece o ciclo de cortes da Selic já no primeiro semestre deste ano", aponta o economista André Galhardo, consultor da plataforma Remessa Online.

"Nossas projeções estimam o primeiro corte da taxa de juros na quarta reunião do Copom [Comitê de Política Monetária] deste ano, em junho", completa.

Conforme analistas, um dos impactos sobre o IPCA de março virá do retorno parcial da cobrança de tributos federais sobre gasolina e etanol. A medida entrou em vigor no início deste mês.

"A gasolina e o etanol devem pressionar o IPCA. A gente não fechou ainda a projeção [de março], mas deve ficar perto de 0,70%", afirma a economista Luciana Rabelo, do Itaú Unibanco.

Rabelo diz que a inflação em 12 meses pode chegar a menos de 4% no acumulado até junho, voltando a ganhar força no segundo semestre.

A aceleração na segunda metade do ano, aponta a economista, deve ser puxada pelos preços administrados, que incluem os combustíveis.

Esses itens haviam sido beneficiados pelos cortes de tributos às vésperas das eleições em 2022. O Itaú prevê IPCA de 6,1% no acumulado até dezembro.

Inflação de serviços desafia BC

O IBGE também informou que o IPCA de serviços acelerou de 0,60% em janeiro para 1,41% em fevereiro. A nova taxa, influenciada pelos reajustes de educação, é a maior de uma série histórica iniciada em 2012.

Em relatório, o banco Original afirma que o índice de serviços ficou acima do esperado.

"Além disso, várias medidas dessazonalizadas e anualizadas também reaceleraram. Esses indicadores não são boas notícias para o Copom, com encontro marcado para março, principalmente com uma constante pressão política sobre o Banco Central para baixar os juros", diz o Original, que prevê alta de 5,8% para o IPCA em 2023.

A inflação da alimentação fora do domicílio, um dos serviços pesquisados pelo IBGE, até desacelerou em fevereiro, de 0,57% para 0,50%. Em 12 meses, porém, passou de 7,82% para 8,04%.

Dentro do domicílio, a variação da alimentação foi de 0,04% em fevereiro e de 10,51% no acumulado.

Em nota, o presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), Paulo Solmucci, afirma que o setor vem fazendo um "esforço hercúleo" para segurar o aumento dos cardápios, mas cita dificuldades nesse quadro.

"Houve um ganho de produtividade significativo nos últimos anos, mas não é suficiente para segurar o reajuste nos bares e restaurantes, que estão fazendo um exercício difícil de enxugar custos. Essa situação está ficando insustentável e conseguimos perceber pelo número de empresas fazendo prejuízo (23%), que voltou a aumentar", avalia.

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