Lula critica BC, chama autonomia de bobagem e vê exagero em atual meta de inflação

Presidente afirma que perseguir percentual de 3,25% leva autoridade monetária a promover arrocho: 'a economia precisa voltar a crescer'

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Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou nesta quarta-feira (18) a atuação do Banco Central, questionando o atual patamar dos juros e classificando a autonomia da autoridade monetária como uma "bobagem". Além disso, ele considerou exagerada a atual meta de inflação a ser perseguida pela autarquia.

Para Lula, a meta de 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo, obriga o BC a implementar um arrocho econômico por meio da elevação dos juros em um momento em que o Brasil precisa crescer.

Lula durante evento com as centrais sindicais no Palácio do Planalto - Gabriela Biló/Folhapress

Lula concedeu entrevista ao canal GloboNews, veiculada na tarde desta quarta-feira (18). Ele criticou o BC ao ser questionado sobre mudanças no arcabouço fiscal brasileiro.

"Nesse país, se brigou muito para ter um BC independente, que ia melhorar o quê? Eu posso te dizer com a minha experiência: é uma bobagem achar que o presidente de um BC independente vai fazer mais do que fez o BC quando o presidente [da República] era quem indicava", afirmou Lula.

"Eu duvido que esse presidente do BC [Roberto Campos Neto] seja mais independente do que foi o [Henrique] Meirelles. Eu duvido. Por que, com o BC independente, a inflação está do jeito que está e o juros está do jeito que está?", questionou.

Henrique Meirelles foi presidente do Banco Central durante os dois primeiros mandatos de Lula, entre 2003 e 2010.

No entanto, o BC brasileiro não chega a ser independente, e sim autônomo. O Congresso Nacional aprovou em 2021 a autonomia do banco, uma medida que busca reduzir a ingerência política sobre a instituição. Uma das principais medidas é que o presidente do BC e seu diretores passaram a ter mandato fixo, de quatro anos.

A independência seria um passo além. Ela ocorre quando os bancos centrais têm poder para definir, eles próprios, suas metas e objetivos, além de terem liberdade operacional para definir como atuarão para atingi-las.

Lula na sequência também criticou a meta de inflação atual, argumentando que o percentual acaba barrando o crescimento econômico brasileiro.

"Você estabeleceu uma meta de inflação de 3,7%. Quando faz isso, é preciso arrochar mais a economia para atingir aquele 3,7%. Por que precisava fazer 3,7%? Por que não faz 4,5%, como fizemos [nos mandatos anteriores]? A economia brasileira precisa voltar a crescer", afirmou o presidente.

A meta de inflação é definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), que tem três votantes. Durante o governo Bolsonaro, as cadeiras eram ocupadas pelo ministro da Economia, pelo secretário especial de Tesouro e Orçamento da pasta e pelo presidente do BC.

Assim como já havia feito anteriormente, Lula usou os resultados de seus dois primeiros governos para afirmar que não é contra a responsabilidade fiscal e pediu, com base nisso, para as pessoas não exigirem esse compromisso dele. Também sinalizou que é preciso "fazer política fiscal, dar garantia que a gente não vai gastar mais que a gente ganha".

No entanto, também ressaltou que é necessário cumprir as obrigações com o social.

"Não peçam para mim seriedade fiscal. O que eu quero é que as pessoas que pedem estabilidade fiscal tenham responsabilidade social. Assumam compromisso com o social, porque não é possível esse país ter gente na fila do osso para pegar carne, ter 30% de pessoas passando fome", afirmou.

O presidente também afirmou que quer discutir com o setor produtivo, citando nominalmente a Fiesp, investimentos nas Forças Armadas para o desenvolvimento de novas tecnologias e da indústria de defesa.

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