Setor de caminhões passa por renovação de produtos, mas é impactado por juros

Modelos zero-quilômetro disponíveis no mercado nacional emitem menos poluentes

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São Paulo

Após um intenso ciclo de renovação de frota registrado na virada do ano, o setor de caminhões espera por um período de acomodação dos negócios.

Houve alta de 8,53% nas vendas no primeiro bimestre em relação ao mesmo período do ano passado, com 18.040 unidades emplacadas. O resultado, contudo, é atribuído a compras realizadas em dezembro.

"Se olharmos os números, vemos que o ritmo está praticamente o mesmo do ano passado. Mas a maior parte, contudo, ainda são de caminhões Euro 5 vendidos em dezembro e emplacados no início deste ano, havia muitas unidades em estoque", diz Alcides Cavalcanti, diretor-executivo de caminhões da Volvo.

Caminhão Volvo FH-540 durante percurso rural
Volvo FH 540 foi o líder de vendas entre os caminhões pesados no ano passado, com 8.317 emplacamentos - Divulgação

Euro 5 é a antiga norma de emissões, que foi substituída neste ano pela Euro 6. O novo padrão de controle de poluentes e de gás carbônico foi adotado no mercado europeu em 2016. No Brasil, equivale à oitava fase do Proconve (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores).

A evolução tornou os caminhões mais caros, com aumentos estimados entre 10% e 20%. Por outro lado, há a melhora na eficiência energética. Roberto Cortes, presidente e CEO da VWCO (Volkswagen Caminhões e Ônibus), afirma que os novos caminhões oferecem uma melhora de 10% em produtividade devido a pontos como redução no consumo de diesel.

Há também os ganhos ambientais, com redução de 80% nas emissões de NOx (óxido de nitrogênio) e de 50% na de particulados.

"Diferentemente do que ocorria no passado, a questão ecológica é um fator preponderante agora. Os frotistas analisam todos os aspectos da agenda ESG", diz o executivo.

Embora a maior preocupação com questões ambientais e sociais estimule a venda de veículos pesados mais eficientes, o aumento nos preços e a taxa de juros prejudicam o mercado.

"O caminhão é um investimento, precisa dar um retorno muito bom, e a equação atual prejudica, [a taxa de juros] é um inibidor", diz Cortes, que está à frente da marca que mais comercializou veículos pesados ao longo de 2022.

"O Finame tem hoje uma taxa muito parecida com a praticada em outras modalidades de crédito disponíveis no mercado, nós advogamos uma linha com juros menores e o Finame também para o caminhão usado."

A sigla mencionada pelo presidente da VWCO se refere à Agência Especial de Financiamento Industrial, braço do BNDES que fornece crédito a setores ligados à cadeia produtiva.

A proposta de Cortes é estender as taxas subsidiadas ao segmento de modelos usados para, assim, viabilizar o programa de renovação de frota.

"Caminhões com mais de 30 anos já deveriam ter sido sucateados. Com o incentivo à renovação, quem tem um modelo mais antigo compraria um com 10 ou 15 anos de uso, e os donos desses modelos poderiam ir para outro, com cinco anos, por exemplo", diz o presidente da VWCO. "O momento seria agora, o governo já nos conhece."

Caminhão Volkswagen Meteor verde de frente
Volkswagen, que foi a marca mais vendida no segmento de caminhões em 2022, comercializa o Meteor - Divulgação

Para Alcides Cavalcanti, da Volvo, é preciso que o Governo Federal dê sinais claros sobre seus planos para os setores mais relevantes da economia. "O cenário ainda está muito turvo, o que gera uma taxa futura maior."

Um desses segmentos é o agronegócio, principal cliente das fabricantes de veículos pesados. As montadoras estimam que 60% dos caminhões comercializados são usados em atividades relacionadas ao campo, incluindo a distribuição das mercadorias.

"O setor agrícola vem crescendo, espera-se uma alta de 15% neste ano. O transporte rodoviário é fundamental, porque mesmo que haja uma expansão das ferrovias, é necessário transportar a produção das fazendas até os terminais, por exemplo", diz Cavalcanti.

Entretanto, esse crescimento não deve se refletir na comercialização de veículos pesados. O diretor-executivo da Volvo diz que a empresa projeta uma queda de 23% nos emplacamentos de modelos com capacidade superior a 16 toneladas, nicho de atuação da empresa. Seu FH 540 é o líder desse mercado.

No total, foram vendidos 97,8 mil caminhões pesados e semipesados no ano passado. Esses segmentos são responsáveis por 78,5% dos licenciamentos no setor. Os números foram mal distribuídos ao longo do ano, devido principalmente aos problemas relacionados ao fornecimento de semicondutores.

As interrupções atuais nas linhas de montagem se devem à queda nas vendas. "A situação, no geral, está bem melhor, não precisamos mais parar por falta de componentes", afirma Cortes.

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