Crescimento global continuará baixo nos próximos anos, diz FMI

Alta inflação global e taxas elevadas de juros seguram crescimento do PIB, diz órgão

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Washington

Mesmo com a resiliência do mercado consumidor e a reabertura econômica da China, o crescimento global deve não só continuar em patamares baixos, como assim permanecer nos próximos cinco anos, disse nesta segunda-feira (10) a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional, Kristalina Georgieva.

A instituição prevê que o crescimento global fique abaixo de 3% nos próximos cinco anos, disse a economista na abertura da semana de reuniões da entidade com o Banco Mundial, que reúne autoridades econômicas do mundo todo em Washington. Segundo Georgieva, isso se dá pela alta inflação global, que faz bancos centrais continuarem a aumentar as taxas de juros.

"Vimos uma rápida transição de baixas taxas de juros e liquidez abundante para altas taxas de juros e liquidez muito menor, o que expôs vulnerabilidades do setor financeiro que tornaram a tarefa de formuladores de políticas ainda mais difíceis", disse ela.

Kristalina Georgieva, diretora-geral do FMI, participa do China Delevopment Forum 2023, em Pequim, China - Jing Xu - 26.mar.2023/Reuters

O presidente do Banco Mundial, David Malpass, exemplificou o problema com a falência do Silicon Valley Bank em março. O banco tinha mais da metade de seus ativos investidos em títulos do governo de longo prazo comprados comprados em um período de juros muito baixos, que caíram de preço com o aumento das taxas.

"Taxas artificialmente baixas de juros e a alocação de capital que foi feita com elas levaram o mundo todo a tomar decisões baseadas na ideia de que haveria taxas de juros a 0% por um longo período de tempo, e fizeram más alocações de capital. Voltar aos níveis produtivos é muito difícil. Elevar as taxas de juros a níveis mais normais significa perdas para bancos", disse.

Malpass fez a ressalva, porém, de que manter os juros baixos não resolverá o problema porque enfraquece o dólar e aumenta a inflação, "e isso atinge mais os pobres", afirmou.

Ele defendeu que mais do que tentar reduzir a demanda com a alta dos juros para controlar a inflação, é preciso pensar em soluções de longo prazo aumentando a oferta, o que significa, no curto prazo, financiar pequenos e médios negócios.

Estudo divulgado nesta segunda por economistas do FMI, porém, apontou que o aumento nas taxas reais de juros tende a ser temporário. "Quando a inflação voltar ao controle, é provável que os bancos centrais das economias avançadas afrouxem a política monetária e tragam as taxas de juros reais de volta aos níveis pré-pandêmicos", escrevem os economistas Jean-Marc Natal e Philip Barrett.

Quão próximo dos níveis pré-pandêmicos vai depender do níveis da dívida e déficit públicos dos países. "Em grandes mercados emergentes, as projeções conservadoras das tendências futuras demográficas e de produtividade sugerem uma convergência gradual para as taxas de juros reais das economias avançadas."

Malpass afirmou na abertura do evento nesta segunda que os países em desenvolvimento estão fora do fluxo de capitais e vive uma fase de descapitalização. Uma das preocupações é com a alta de preços de alimentos e fertilizantes, afirmou, que leva produtores em países pobres a terem mais dificuldade de plantar.

Países como a China têm estoques substanciais de trigo, mas a maioria das nações esgotaram suas reservas, o que provoca choque na cadeia global de suprimentos alimentares.

Malpass e Georgieva destacaram o problema da fragmentação do comércio global baseado em blocos geopolíticos, com uma desglobalização que pode custar até 7% do PIB global ao longo dos anos, segundo o FMI.

"A economia integrada que gerou um tremendo ímpeto de crescimento e prosperidade nas últimas três décadas está sendo negativamente impactada", afirmou Georgieva.

Também preocupa no cenário global, disse ela, um crescimento econômico divergente, em que o crescimento per capita de países pobres é menor do que o de países de renda média.

Relatório do Banco Mundial divulgado na última semana apontou que o Brasil deve crescer 0,8% neste ano, abaixo da média da América Latina, de de 1,4% , que já será a mais baixa taxa regional no mundo.

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