IA pode ser destrutiva para o jornalismo, diz magnata da mídia Barry Diller

Chefe do IAC diz que está disposto a mudar a lei de direitos autorais, se necessário

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Daniel Thomas Anna Nicolaou Laura Pitel
Londres, Nova York e Berlim | Financial Times

O bilionário da mídia americana Barry Diller alertou que o uso de IA (inteligência artificial) será destrutivo para o jornalismo, a menos que os editores possam usar a lei de direitos autorais para exercer controle.

Falando na Cúpula Global de Jornalismo Investigativo Sir Harry Evans, em Londres, Diller disse que permitir o livre acesso da IA ao conteúdo da mídia seria um erro, e que a noção de "uso justo" –que pode ser usada para cobrir material protegido por direitos autorais em conjuntos de dados para aprendizado de máquina– precisa ser redefinida.

"Você não pode ter uso justo quando existe uma máquina injusta que não conhece limites", disse Diller, presidente do grupo de mídia e internet IAC.

Barry Diller e Diane von Furstenberg posam para foto no Met Gala, em Nova York - Andrew Kelly - 1º.mai.2023/Reuters

Grupos de mídia estão cada vez mais preocupados com o uso de suas publicações como base para a criação de IA generativa. O diretor-executivo da News Corp, Robert Thomson, disse este ano que o grupo já está buscando compensação financeira de uma empresa de IA pelo uso de seu conteúdo "proprietário".

Diller disse na quarta-feira (10) que trabalharia ao lado da News Corp e da editora alemã Axel Springer na tentativa de proteger seu jornalismo dessa ameaça.

"Estamos liderando um grupo que vai dizer que vamos mudar a lei de direitos autorais, se necessário, trabalhar para dizer que vocês não podem pegar nossos materiais, ou iremos a litígio. O que você publica, você tem o direito de controlar", disse ele.

Diller acrescentou que haverá uma onda de destruição na indústria de jornalismo, a menos que haja uma estrutura para que as empresas editoras sejam pagas. "Eu acho que é um erro terrível os editores permitirem que ela sugue todos os trabalhos conhecidos que já foram feitos."

Axel Springer disse que "não é transparente como o software de IA opera e de que maneira o conteúdo jornalístico é rastreado, raspado, usado e salvo. Esta é uma oportunidade para garantir que não repetiremos os erros de regulamentação da plataforma e criaremos um ecossistema justo e saudável desde o início".

O chefe da Axel Springer, Mathias Döpfner, alertou no início deste ano que a IA representa grandes riscos e grandes oportunidades para a mídia.

"A inteligência artificial tem o potencial de tornar o jornalismo independente melhor do que nunca –ou simplesmente substituí-lo", disse ele.

No entanto, uma pessoa familiarizada com as discussões do setor minimizou o papel de Axel Springer –dono dos jornais Bild e Die Welt, bem como do site de notícias políticas dos EUA Politico– na cruzada de Diller, descrevendo a empresa como "uma voz entre muitas", e não a líder do "ataque".

Procurada pelo New York Times, a News Corp se recusou a comentar.

Diller também alertou sobre o impacto do recente escândalo sobre Rupert Murdoch na Fox News. Ele afirmou que o caso iria "manchá-lo e sua reputação para sempre [...] Ele e seu filho envenenaram a atmosfera, e esse é um legado ruim".

A Fox demitiu o principal apresentador, Tucker Carlson, depois que foi obrigada a pagar US$ 787,5 milhões (R$ 3,9 bilhões) em um acordo num processo de difamação movido pela Dominion Voting Systems sobre alegações de fraude na eleição presidencial de 2020 nos EUA.

"A poderosa equipe de jornalistas, analistas e apresentadores de opinião da Fox News é mais confiável para os telespectadores do que qualquer outra fonte de notícias", afirmou a Fox.

Também falando no evento, John Poulos, executivo-chefe da Dominion, disse que não se arrepende de ter aceitado o acordo em vez de levar o caso à Justiça, acrescentando que representava um "preço muito alto a cobrar da verdade no jornalismo".

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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