Descrição de chapéu Financial Times

Quem são os prováveis vencedores na corrida do ouro da inteligência artificial?

Modelos pequenos e especializados, de execução rápida e baratos para treinar, podem superar as big techs

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John Thornhill
Financial Times

A mais recente corrida do ouro na Califórnia é uma busca alucinada pela liderança na inteligência artificial generativa. As grandes empresas de tecnologia americanas, como Google, Microsoft, Meta e Palantir, e um enxame de empresas de capital para empreendimentos estão todas garimpando freneticamente em busca de novos filões de tesouros digitais. Mas as grandes perguntas, por enquanto não respondidas, são: quem vai terminar engolindo poeira e quem vai conseguir a maior quantidade de ouro?

O palpite óbvio é que as grandes empresas que estão desenvolvendo esses modelos de geração de texto, imagem, vídeo e áudio dominarão o ramo. Como escreveu Lina Khan, presidente da Comissão Federal de Comércio americana, um punhado de empresas poderosas parece controlar todas as matérias-primas necessárias: vastas quantidades de dados armazenados, capacidade de computação, e serviços em nuvem. Ela poderia ter acrescentado: elas também contam com muitos dos principais pesquisadores de inteligência artificial do planeta e montanhas de dinheiro.

"A adoção crescente da inteligência artificial acarreta o risco de consolidar ainda mais o domínio do mercado pelas grandes empresas de tecnologia já estabelecidas", escreveu Khan recentemente no The New York Times. Essa visão de mundo dá mais empuxo à iniciativa de Khan de combate aos trustes.

O CEO da OpenAI, Sam Altman, durante evento para anunciar a integração do ChatGPT ao Bing, da Microsoft - Jason Redmond - 7.fev.2023/AFP

Mas não é essa a visão do mundo entre aqueles que estão do lado de dentro de algumas grandes empresas de tecnologia, a julgar por um memorando vazado de um executivo do Google intitulado "We Have No Moat" [não temos fosso].

O executivo observou, em abril deste ano, que o Google e a OpenAI, fortemente apoiada pela Microsoft, podem ter desenvolvido os modelos fechados de inteligência artificial generativa mais capazes, como o Bard e o GPT-4.

Mas já estavam correndo o risco de serem ultrapassadas por concorrentes mais ágeis que trabalham na criação de modelos de inteligência artificial de fonte aberta menores, mais baratos e mais personalizáveis, e atraíram alguns dos melhores pesquisadores do Google.

"A incômoda verdade é que não estamos posicionados para vencer essa corrida armamentista, e a OpenAI tampouco", escreveu o executivo. "Quem pagaria por um produto do Google com restrições de uso se existe uma alternativa gratuita e de alta qualidade sem elas?"

Esta semana, o Google tentou subir de nível em seu jogo ao anunciar que incorporaria a inteligência artificial generativa a uma gama cada vez maior de serviços, em um esforço para recuperar o atraso com relação à Microsoft.

Mas, de acordo com o memorando do Google, o principal beneficiário da tendência de modelos de fonte aberta pode ser a Meta, que também está se voltando para a inteligência artificial. Depois de lançar seu próprio modelo LLaMA de fonte aberta, em fevereiro, a Meta agora tem como objetivo criar a plataforma na qual outros possam jogar.

Assim como o Google construiu um novo ecossistema de aplicativos em torno de seu software de telefonia móvel de fonte aberta Android, a Meta poderia emergir como a plataforma na qual a inovação acontece. "O único vencedor claro em tudo isso é a Meta", escreveu o executivo do Google.

Enquanto isso, os investidores de capital para empreendimentos estão apostando que uma nova onda de startups de inteligência artificial generativa, entre as quais Anthropic, Cohere, Stability AI, Inflection e AI21 Labs, também pode ser capaz de garimpar ouro. A lógica deles é que pelo menos algumas dessas startups conseguirão se movimentar mais rápido do que as empresas maiores, dominar nichos de mercado selecionados e ignorar amplamente os dispendiosos controles de segurança (algo que deve alarmar as autoridades regulatórias).

O futuro pertencerá a modelos de inteligência artificial generativa menores e especializados, que são mais baratos de treinar, mais rápidos de executar e que atendem a um caso de uso específico, diz Yoav Shoham, um dos fundadores da startup israelense AI21 Labs. "O fosso não é a tecnologia. É o relacionamento com o consumidor", diz Shoham. "Acho que será um mercado do tipo ‘alguns poucos levam mais’, e não um mercado do tipo ‘o vencedor leva tudo’". Dezenas de outras empresas iniciantes, aquelas que ofereçam apenas serviços genéricos e não consigam tração com os clientes, fracassarão.

As empresas estabelecidas e dominantes na maioria dos setores, que possam usar seus dados exclusivos para alimentar modelos de inteligência artificial generativa e ajustar os resultados, também devem prosperar. O desafio para elas é reformular suas estruturas organizacionais a fim de explorar a nova tecnologia. Os outros vencedores certos serão as empresas de "pás e martelos", que fornecem as ferramentas para essa transformação tecnológica.

As grandes empresas de computação em nuvem, AWS, Google e Microsoft, lucrarão com a demanda voraz dos modelos de inteligência artificial por poder de computação. Mas a Nvidia, a projetista dominante de unidades de processamento gráfico que alimentam a maioria dos modelos de inteligência artificial, também se destaca. "Estamos no momento iPhone da inteligência artificial", diz Jensen Huang, presidente-executivo da Nvidia.

No entanto, a velocidade com que o setor está evoluindo é tão grande que os melhores palpites de hoje podem se transformar em pules de aposta rasgadas amanhã. A história de outras tecnologias de uso geral, como a eletricidade, os automóveis e a Internet, sugere que a inteligência artificial generativa criará novos mercados e modelos de negócios que ninguém é capaz de imaginar hoje. É bem possível que uma empresa ainda a ser fundada venha a extrair o maior volume de ouro.

Tradução de Paulo Migliacci

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