Musk criou equipe secreta para suprimir reclamações sobre veículos da Tesla

OUTRO LADO: Procurados, bilionário e companhia não responderam até a publicação deste texto

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Steve Stecklow Norihiko Shirouzu
Austin | Reuters

Em março, Alexandre Ponsin partiu em uma viagem familiar do Colorado para a Califórnia em seu Tesla recém-adquirido, um Model 3 usado de 2021.

Ele esperava obter algo próximo da autonomia anunciada do sedã esportivo elétrico: cerca de 567 km com a bateria totalmente carregada.

Logo ele percebeu que, em algumas ocasiões, estava obtendo menos da metade desse alcance, especialmente em climas frios —um desempenho tão ruim que ele se convenceu de que o carro tinha um defeito sério.

Elon Musk, CEO da Tesla, entra em carro da companhia ao deixar hotel em Pequim, China - Tingshu Wang - 31.mai.2023/Reuters

"Estamos olhando para o alcance, e você literalmente vê o número diminuir diante de seus olhos", disse ele sobre o medidor de autonomia do painel. Ponsin entrou em contato com a montadora e agendou uma visita de serviço.

Mais tarde, ele recebeu duas mensagens de texto, informando que diagnósticos remotos tinham determinado que sua bateria estava em boas condições e, em seguida: "Gostaríamos de cancelar sua visita".

O que Ponsin não sabia era que os funcionários da Tesla tinham sido instruídos a evitar que os clientes que reclamavam de baixa autonomia trouxessem seus veículos para manutenção.

No verão passado, a empresa criou silenciosamente uma "equipe de desvio" em Las Vegas para cancelar o maior número possível de agendamentos relacionados à autonomia.

A empresa implantou a equipe porque seus centros de serviço estavam sobrecarregados com agendamentos de proprietários que esperavam um melhor desempenho com base nas estimativas anunciadas pela empresa e nas projeções exibidas pelos medidores de autonomia dos próprios carros, de acordo com fontes familiarizadas com o assunto.

Os gerentes diziam aos funcionários que estavam economizando cerca de US$ 1.000 (R$ 4.719) para a Tesla a cada agendamento cancelado, disseram as fontes. Outro objetivo era aliviar a pressão sobre as centrais de atendimento, algumas com longas filas de espera.

Na maioria dos casos, os carros dos clientes reclamantes provavelmente não precisavam de reparos, de acordo com as fontes familiarizadas com o assunto.

Em vez disso, a Tesla exaltou o alcance de seus veículos elétricos futuristas, ou EVs, elevando as expectativas do consumidor além do que os carros podem oferecer.

Os veículos da companhia muitas vezes não alcançam suas estimativas de autonomia anunciadas e as projeções fornecidas pelos próprios equipamentos dos carros, de acordo com três especialistas automotivos que testaram ou estudaram os veículos da empresa em entrevista à Reuters.

Procurados, nem a montadora nem Musk responderam até a publicação deste texto.

A Reuters não conseguiu determinar se a Tesla ainda usa algoritmos que aumentam as projeções de autonomia internas. Porém, os testadores e reguladores automotivos continuam a criticar a empresa por exagerar a distância que seus veículos podem percorrer antes que suas baterias acabem.

Reportagem adicional de Heekyong Yang e Ju-min Park em Seul e Peter Henderson em San Francisco

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