Descrição de chapéu Financial Times

Tatuagens já não causam espanto em locais de trabalho

É possível que a maioria das pessoas em seu escritório já tenham tattoos

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Pilita Clark
Financial Times

"Marketa vai dançar de vestido... mas não tira o tênis", alardeou uma manchete do Daily Mail na semana passada sobre Marketa Vondrousova, a nova vencedora do torneio de tênis feminino em Wimbledon .

Uma foto que acompanhou a reportagem confirma que a tenista tcheca foi a um baile de comemoração na noite de domingo usando vestido preto tomara-que-caia, com tênis branco nos pés.

Justamente quando eu estava começando a me indignar com a opressão cultural a uma mulher que tem o bom-senso de usar tênis confortável em um evento formal, observei outra coisa na foto.

O que eram aqueles rabiscos pretos nos braços de Marketa? Dos pulsos até seus ombros? Seriam tatuagens?

Tatuagens da tenista tcheca Marketa Vondrousova - Sebastien Bozon - 13.jul.2023/AFP

Eram tatuagens, sim. Como espectadores mais atentos já haviam notado em Wimbledon nos dias anteriores, Marketa, que fez sua primeira tatuagem quando completou 16 anos, já fez tantas desde então que já perdeu conta do número. Seus braços ostentam uma espada, uma fada, um coração e slogans do tipo "sem chuva, sem flores", que presume-se que façam sentido para uma atleta de elite.

A primeira coisa que me passou pela cabeça foi espanto pelo fato de isso ser tolerado pelo código de vestimenta de Wimbledon, conhecido por sua rigidez. Foi apenas no ano passado que os organizadores do torneio concordaram em abrir mão da exigência do branco absoluto nas roupas dos tenistas, permitindo que as mulheres usem shorts escuros, evitando o estresse adicional de jogar tênis de branco quando estão menstruadas.

A segunda coisa que pensei foi, que se Wimbledon não se importa mais com tatuagens e o Daily Mail acha que usar tênis com um vestido é mais digno de nota que isso, o que será que está acontecendo nos escritórios? Será que tatuagens já viraram algo tão mainstream que mesmo os empregadores mais conservadores já as aceitam?

Entrei em contato com algumas empresas para saber a resposta. Na firma de advocacia Slaughter and May, fundada há 134 anos, "as tatuagens definitivamente não são proibidas", me disse uma representante.

O banco HSBC, ainda mais antigo, não tem normas sobre tatuagens nem tampouco sobre shorts, mas espera que seus funcionários se vistam "de modo apropriado à situação de trabalho".

O Goldman Sachs segue uma política semelhante. Não chega a surpreender, considerando que os braços de seu ex-diretor financeiro Marty Chavez ostentavam grandes tatuagens em japonês.

Banqueiros e advogados não são os únicos a terem se rendido à tatuagem. "Acho que muitas pessoas ficariam chocadas ao saber quantos médicos têm tattoos", diz Michael French, diretor do departamento de política e gestão de saúde da Universidade de Miami.

French sabe disso porque dá aulas a muitos médicos, tem quatro tatuagens, ele próprio, e fez pesquisas superinteressantes sobre tatuagens no local de trabalho. Alguns estudos indicam que ser tatuado é visto por alguns como estando associado a comportamentos de risco, como tabagismo e atividade sexual.

Mas sua pesquisa mais interessante –a que me levou a telefonar a ele na semana passada— foi um estudo publicado em 2018 revelando que nos Estados Unidos as pessoas tatuadas têm probabilidade igual à das não tatuadas de estar empregadas e ganham tanto quando as não tatuadas. Na realidade, a probabilidade de homens com tattoos estar empregados era 7% mais alta que a dos homens não tatuados.

Atenção, leitores homens que podem agora estar correndo para procurar o estúdio de tatuagem mais próximo: estamos falando de correlação, não de causa e efeito. Uma tatuagem não vai necessariamente elevar seu salário. Mas também é pouco provável que prejudique suas perspectivas de emprego.

Isso não quer dizer que pessoas tatuadas não encarem discriminação no trabalho. É possível que algumas empresas não tenham regras sobre tatuagens e piercings simplesmente porque garantem discretamente que pessoas com tatuagens visíveis não passem além da etapa de uma entrevista de emprego.

Mesmo assim, está claro que houve uma mudança de atitude em relação às tatuagens no trabalho. Isso não deve surpreender, considerando o tamanho da população tatuada e, o que é fundamental, sua faixa etária.

Estima-se que 30% dos americanos e 26% dos britânicos tenham pelo menos uma tatuagem, e a maioria dos tatuados é relativamente jovem.

No ano passado mais de 30% dos britânicos na faixa dos 25 aos 54 anos disse ter uma tattoo, contra apenas 14% dos que têm 55 anos ou mais.

Não surpreende que empresas que precisam constantemente contratar novos recrutas, tenham tido que flexibilizar suas regras sobre tatuagens. A Air New Zealand, a Força Aérea americana e a Metropolitan Police de Londres estão entre as muitas organizações que tiveram que afrouxar suas regras nos últimos cinco anos.

Michael French resume a questão perfeitamente: "Se você vai discriminar contra pessoas tatuadas, o pool de mão-de-obra restante será pequeno".

Tradução de Clara Allain

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