Descrição de chapéu Financial Times

Farmacêutica japonesa diz que setor está abandonando remédios contra doenças infecciosas

Empresa diz ao G7 que companhias estão cortando investimentos para apostar em áreas que dão mais lucro

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Hannah Kuchler e Kana Inagaki
Londres e Tóquio | Financial Times

O chefe da farmacêutica japonesa Shionogi pediu aos governos do G7 que liderem uma solução para o mercado de medicamentos para doenças infecciosas, sob o risco de mais empresas farmacêuticas deixarem o setor.

Isao Teshirogi, diretor executivo da empresa, que investiu em um medicamento antiviral contra a Covid-19 e antibióticos inovadores, afirmou que os tratamentos de doenças infecciosas são um "negócio muito desafiador", apesar de sua importância.

Teshirogi alertou que um número crescente de empresas vem deixando as doenças infecciosas de lado para se concentrar em áreas relativamente lucrativas, como oncologia ou doenças raras. Uma das dificuldades é prever a demanda por medicamentos para doenças infecciosas, e cada tratamento geralmente utiliza menos medicamentos do que os utilizados no tratamento de uma condição crônica.

Shionogi lançou remédio antiviral contra Covid-19
Shionogi lançou remédio antiviral contra Covid-19 - Divulgação/Shionogi via Reuters

"Agora é a hora dos países do G7 mostrarem liderança, dizerem: 'Muito bem, vamos liderar o mundo no apoio aos antibióticos muito capazes e aos antivirais de curto prazo, na fase aguda'", disse Teshirogi.

Ele acrescentou que, sem o apoio de países ricos, as pessoas que estão em países de baixa e média renda provavelmente sofrerão de forma desproporcional com um investimento reduzido no combate a doenças infecciosas.

Patógenos resistentes aos antibióticos existentes mataram cerca de 1,3 milhão de pessoas em 2019, uma cifra que pode chegar a 10 milhões por ano até 2050.

O apelo da Shionogi por uma mobilização global em torno das doenças infecciosas vem depois de a empresa ter dedicado uma grande parte de seus recursos e pessoal para desenvolver um tratamento e vacina para a Covid-19 nos últimos três anos.

Alguns analistas questionaram a estratégia, uma vez que a perspectiva do grupo é incerta. Ele possui uma linha de desenvolvimento de medicamentos limitada e uma estrutura de ganhos fortemente dependente de receitas de royalties de medicamentos para HIV. Suas ações caíram 1,5% nos últimos cinco anos, enquanto o Índice Nikkei 225 subiu mais de 40% no mesmo período.

Para o ano fiscal até março do próximo ano, a empresa espera gerar vendas de 105 bilhões de ienes (cerca de US$ 720 milhões, que corresponde a R$ 3,5 bilhões) - aproximadamente um quarto da receita anual esperada - com o tratamento contra Covid. No primeiro trimestre, ela relatou vendas de apenas 6 bilhões de ienes (cerca de R$ 200 milhões) com seu comprimido Covid Xocova, levando analistas a apontarem sua meta anual como sendo muito otimista.

Kazuaki Hashiguchi, analista da Daiwa Seguros, afirmou que, diante da retirada dos concorrentes da pesquisa de doenças infecciosas, o valor social das atividades da empresa aumentou. No entanto, ele alertou que está sendo difícil para a Shionogi transformar isso em retornos financeiros.

"Shionogi tem um ponto válido e é compreensível que eles argumentem que as doenças infecciosas são muito importantes e que mais recursos devem ser distribuídos para essa área", disse Hashiguchi. "Mas se existe um consenso social sobre isso é algo discutível."

Isao Teshirogi é presidente e CEO da farmacêutica japonesa Shionogi
Isao Teshirogi defende que G7 ajudem empresas para que investimentos em remédios contra doenças infecciosas sejam mantidos - Androniki Christodoulou - 27.fev.2023 / Reuters

Os responsáveis pelas políticas na área nos EUA, União Europeia e Reino Unido estão buscando maneiras de aumentar o investimento em antibióticos. Mas Teshirogi disse que estava "surpreso e decepcionado" que os EUA ainda não tivessem aprovado sua Lei Pasteur. A legislação é projetada para incentivar o investimento em novos antibióticos e combater a ameaça da resistência antimicrobiana.

"Para mim, a primeira impressão foi: o que há de errado com os Estados Unidos?" questionou Teshirogi.
Ele acrescentou que os EUA deveriam estar dispostos a liderar o mundo com um chamado "incentivo de atração" que aborda problemas com os retornos financeiros dos novos antibióticos.

A iniciativa abordaria os desafios apresentados pelo modelo financeiro tradicional que recompensa os fabricantes de medicamentos de acordo com o volume de qualquer novo medicamento vendido. Esse modelo é problemático porque os clínicos devem usar os antibióticos recém-desenvolvidos o mínimo possível para administrar o risco de que novos medicamentos gerem ainda mais bactérias resistentes.

No entanto, Teshirogi elogiou o modelo de assinatura de antibióticos adotado no Reino Unido, que o serviço de saúde do país planeja expandir para pagar aos fabricantes de medicamentos até 20 milhões de libras (cerca de R$ 123,3 milhões) por ano por novo medicamento. O esquema paga a mesma quantia, independentemente da quantidade de antibióticos vendidos. A Shionogi participou desse modelo britânico.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.