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Laranja avança no Triângulo Mineiro, que já produz mais que a Flórida

Estado americano sofreu reveses como furacão e greening e viu produção despencar, ao mesmo tempo em que citricultura se consolidou na região mineira

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Uberlândia (MG) e Frutal (MG)

Uma das regiões mais ricas do país, o Triângulo Mineiro consolidou sua produção de laranja nos últimos anos e, sem sofrer com impactos de doenças como o greening, já produz mais que a Flórida (EUA), outrora símbolo do desenvolvimento do setor.

Enquanto o estado norte-americano sofreu nos últimos anos com a pior praga da citricultura e com fenômenos climáticos como o furacão Ian, a produção da fruta em cidades mineiras teve ligeira alta e passou a ser um pilar importante para a economia regional.

Minas Gerais é o segundo maior estado produtor de laranja no país, atrás somente de São Paulo
Minas Gerais é o segundo maior estado produtor de laranja no país, atrás somente de São Paulo - Wenderson Araujo/Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil

As 16 cidades com citros que integram a região devem produzir na safra 2023/24 27,02 milhões de caixas de 40,8 kg da fruta, segundo o Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura), enquanto o esperado pelo Departamento de Agricultura americano para a Flórida é uma produção de 16,1 milhões de caixas, 60,7% menos que na safra anterior e uma das mais baixas desde 1930. Culpa principalmente do furacão, mas não só, já que o greening tem afetado severamente os pomares.

Já o chamado cinturão citrícola, formado pelo estado de São Paulo e Triângulo/Sudoeste de Minas, deve ter, na atual safra, uma produção de 309,34 milhões de caixas, inferior às 316,95 milhões de caixas que tinham sido previstas para a safra anterior pelo órgão.

Mas, mais do que ter uma produção consolidada, a citricultura no Triângulo Mineiro é marcada por ser praticada em grandes propriedades rurais, com tecnologia superior à existente em São Paulo, baixa incidência de greening e com a possibilidade de os produtores anteciparem suas safras para uma janela de mercado em que não há muita laranja disponível.

Isso acontece porque os pomares são, em grande parte, irrigados e isso permite que o produtor utilize a água para desenvolver a fruta de forma precoce e antecipe a safra, ganhando mercado numa época em que a maioria dos produtores não tem laranja disponível.

"Há pomares praticamente 100% irrigados, e a tecnologia melhor se deve à própria necessidade. Há uma concentração grande de regime hídrico, chove muito no fim de ano, começo de ano, mas há um período bastante longo de deficit", disse Vinícius Trombin, coordenador da pesquisa de estimativa de safra do Fundecitrus.

É o que ocorre na propriedade em que o gerente Ademilson Cardoso atua, na região de Frutal, perto da divisa entre Minas e São Paulo. "Irrigamos para antecipar o desenvolvimento do fruto e evitar a janela de temperaturas muito altas, que prejudicam o fruto", disse.

A região que tem como cidades mais populosas Uberlândia e Uberaba também tem produção em Campina Verde, Campo Florido, Canápolis, Comendador Gomes, Conceição das Alagoas, Gurinhatã, Itapagipe, Ituiutaba, Iturama, Monte Alegre de Minas, Planura, Prata e São Francisco de Sales.

São 13,67 milhões de árvores, 3,4% mais (450 mil árvores) em relação ao ano anterior. Embora não tenha sido a região em que a cultura mais cresceu, a variação é superior por exemplo à da região de Limeira, histórica em relação à produção da fruta, que viu reduzir em 5,4% o total de árvores em um ano –devido especialmente à incidência do greening.

Principal doença da agricultura, o greening praticamente inexiste na região, já que as propriedades são maiores e em geral as árvores estão no interior delas, não nas bordas, como ocorre em pequenas áreas no interior de São Paulo.

NOVA REGIÃO

O Triângulo está numa distância ainda considerada viável para o envio de laranja às fábricas de suco, segundo Ibiapaba Netto, diretor-executivo da CitrusBR (Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos).

"Há os custos de frete, que devem ser levados em conta. Para as fábricas, o Triângulo Mineiro ainda está numa região viável. É importante que haja novas fronteiras, mas desde que viáveis", disse o executivo.

A produção de laranja está ocorrendo também em Mato Grosso do Sul, ainda de maneira embrionária.

"Se os testes se mostrarem positivos, achamos que haverá uma migração mais forte. Talvez seja a próxima região de fronteira da citricultura. O Triângulo já é consolidado, não é região de fronteira mais", disse Trombin.

O plantio está ocorrendo no entorno de Aparecida do Taboado e, a exemplo de Minas, em grandes propriedades e com irrigação.

GARGALOS

A queda na previsão da safra em andamento, embora pequena, deve agravar a crise de oferta global de suco.

Brasil e Estados Unidos, no passado, chegaram a ser responsáveis por uma produção de 600 milhões de caixas, que agora não atingirá 330 milhões se as previsões se confirmarem.

Além dos efeitos do furacão na Flórida, o México sofreu com estiagem e a Espanha teve falta de água, o que contribuiu para a redução dos estoques disponíveis de suco.

O Brasil é o principal fornecedor de suco de laranja no mundo, com cerca de 75% do comércio global, e qualquer problema interno reflete no consumo em outros países.

Com esse quadro, os preços do suco de laranja em Nova York seguem em alta, de 3,3% na primeira quinzena de agosto, em relação a julho, e 71,1% em comparação com agosto do ano passado, de acordo com levantamento do Itaú BBA.

O custo da caixa de laranja em reais, porém, subiu menos, 43%, com os produtores recebendo R$ 44 por caixa (40,8 kg cada) em agosto.

Para ampliar a produção em Minas –e até mesmo em Mato Grosso do Sul, caso as apostas vinguem–, é preciso superar a dificuldade de mão de obra que atinge o setor, tornar o frete mais atrativo e reduzir custos.

"A maior vantagem em Minas é a baixa incidência de greening, mas não é uma região barata de se produzir. O frete é mais caro, por ficar mais longe do centro de produção. E o custo de produção acaba sendo maior do que em São Paulo. Mas, ao mesmo tempo, esse custo é compensado com a menor incidência do greening", disse o coordenador da pesquisa do Fundecitrus.

Outro obstáculo é que as áreas precisam de irrigação para ter uma boa produção e áreas ainda disponíveis estão caras. "Não tem tanta área quanto no passado. Mas produzir na região hoje é mais oportunidade [do que desafio]."

Apesar de ter superado a Flórida, a produção do estado norte-americano não seria tão baixa se não fosse o furacão Ian, de acordo com Trombin, que estima que seriam produzidas de 30 milhões a 40 milhões de caixas. "É o que o Triângulo produz."

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