Descrição de chapéu juros Selic inflação

'Quero taxa de juros baixa que não traga inflação de volta', diz Haddad

Ministro afirma que taxa Selic a 2%, como estava no início da pandemia, trouxe problemas ao país

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São Paulo

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), disse nesta segunda-feira (14) que a queda da taxa básica de juros (Selic) deve ser acelerada com medidas da agenda econômica do governo. Mas ressaltou que é preciso um patamar de juros que não resulte em uma nova aceleração da inflação.

Haddad indicou que a decisão do Banco Central na fase mais crítica da pandemia, em agosto de 2020, de cortar a Selic para 2% não foi acertada. "No caso da taxa de juros, a gente viu há pouco tempo uma taxa muito baixa, mas que trouxe problemas. Eu quero uma taxa de juros baixa que não traga inflação de volta", declarou durante o podcast Reconversa, com o jornalista Reinaldo Azevedo e o advogado Walfrido Warde.

O ministro comentou que há algum tempo antes do início do ciclo de corte de juros, neste mês, já havia razões para a redução da Selic. Segundo Haddad, o resultado do PIB (Produto Interno Bruto) do primeiro trimestre, impulsionado basicamente apenas pelo agronegócio, já mostrava um impacto dos juros na atividade econômica.

Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, diz que havia razões para corte da taxa Selic há meses atrás. - Gabriela Biló /Folhapress

Por isso, segundo Haddad, houve um aumento de tensão na relação do governo com o Banco Central desde abril.

"Se esse corte de 0,5 ponto percentual [na taxa Selic em agosto] não viesse, teríamos um problema econômico grave no Brasil", afirmou o ministro. Haddad disse que teria problemas para entregar o que prometeu com a manutenção dos juros básicos em 13,75%.

Do ponto de vista político, Haddad ponderou que, sem corte em agosto, muitos políticos que votaram pela aprovação da autonomia do Banco Central poderiam se arrepender e achar que haviam tomado a decisão errada.

O ministro refletiu que uma taxa de juros neutra —ou seja, que não estimula o crescimento econômico, mas não causa desaceleração da atividade— deveria ser de 8% com a inflação a 4%. Atualmente, a inflação acumulada em 12 meses está em 3,99%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Na última ata do Copom (Comitê de Política Econômica), os diretores do BC indicaram que as condições macroeconômicas precisam melhorar ainda para um corte da taxa Selic de maior magnitude que o 0,5 ponto percentual da reunião deste mês. Para Haddad, portanto, o Brasil deve passar por um "longo processo" de contração na economia. "Quanto tempo vamos chegar a juros neutros cortando 0,5 ponto percentual?", questionou.

Segundo o ministro, os juros altos são uma questão histórica do país. "Na minha visão, o Brasil tem um viés de pagar juros altos que é impressionante".

Haddad disse que está criando um grupo de estudos com economistas acadêmicos que não são de mercado para fazer uma análise comparativa e entender como se combate a inflação em outros países.

Questionado sobre a autonomia do Banco Central, Haddad disse que não votaria a favor da medida nas circunstâncias em que foi aprovada, durante o mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). "Tínhamos um lunático na Presidência da República", afirmou. "Estávamos na mão de um psicopata, que é capaz de qualquer coisa", completou.

O ministro da Fazenda afirmou que este é um bom teste para mensurar o sucesso da autonomia do Banco Central, já que é um momento inédito de transição política. Haddad comentou que, à época da votação da medida, sugeriu a diminuição do mandato do presidente da autarquia, Roberto Campos Neto. "Tem que ter cautela para evitar que [uma medida como essa] se volte contra você", declarou.

Na entrevista, o ministro disse que fica feliz em saber que não está havendo um ataque especulativo contra o Brasil, argumentando que pessoas apostaram que o dólar ultrapassaria a marca de R$ 6 com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Haddad observou que hoje a moeda norte-americana é negociada abaixo de R$ 5. Ele ressaltou, ainda, que não concorda com um Estado que não se importa com a dívida pública.

"Câmara está com poder muito grande", diz Haddad

O ministro afirmou também que deveria haver uma "moderação" do poder da Câmara. Ao comentar suas relações com o presidente da Casa, Arthur Lira, Haddad disse que tem tentado valorizar o diálogo com a Câmara e com o Senado.

"Não está fácil, não pense você que está fácil. A Câmara está com um poder muito grande e ela não pode usar esse poder para humilhar o Senado e o Executivo. Mas de fato ela está com um poder que eu nunca vi na minha vida".

Segundo o ministro, "a gente só aparece sorrindo, mas às vezes … são debates acalorados".

Haddad disse que fez um acordo com o presidente da Câmara para aprovar a pauta econômica: "O Lira e eu combinamos o seguinte: olha, tem muito trabalho pela frente, vamos separar o que é governo do que é Estado. Tem coisa que não é para este governo. Tem coisa que, ou a gente recupera agora, ou não tem jeito. E aí ele topou, e o Rodrigo Pacheco, que é um senador espetacular, também tem dado uma contribuição enorme".

Em outro trecho, o petista também criticou as emendas parlamentares. "Eu não sei como resolver esse problema e não sei se tem solução. Mas R$ 40 bilhões de emendas? É 0,4% do PIB. Onde no mundo tem isso?".

Segundo Haddad, o Brasil saiu do chamado presidencialismo de coalizão e vive hoje "uma coisa estranhíssima que é uma espécie de parlamentarismo sem primeiro-ministro".

"Não tem o primeiro-ministro, ninguém vai cair. E o Executivo está lá, quem vai pagar o pato é o Executivo", disse.

(Com Reuters)

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