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Turbinas de energia eólica já têm pás mais longas que um campo de futebol; veja os projetos

Corrida por equipamentos maiores levou os especialistas a pedirem uma desaceleração do crescimento e maior padronização

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Rachel Millard
Financial Times

As 169 turbinas eólicas que giram ao largo da costa de Yorkshire, na Grã-Bretanha, são uma façanha da engenharia: cada modelo de 8 megawatts construído pela empresa dinamarquesa Ørsted pode alimentar uma casa durante 24 horas com uma única rotação de suas pás de 81 metros.

Dezenas de quilômetros ao norte, a desenvolvedora rival de parques eólicos SSE já está aumentando a aposta com suas mais novas turbinas, onde um único giro da pá de 107 metros pode abastecer uma casa durante dois dias.

O salto no tamanho das turbinas eólicas em alto-mar, cujas pás podem chegar a alturas superiores às do Rockefeller Center em Nova York e fornecer eletricidade para milhões de residências, reflete a feroz corrida por escala ao longo da última década ou mais.

Parque eólico na província de Liaoning, no noroeste da China. Pás de hélices do gerador já apresentam dimensões maiores do que as adotadas no Brasil.
Parque eólico na província de Liaoning, no noroeste da China - Xinhua

O rápido ritmo de evolução estimulado pelos desenvolvedores de parques eólicos e pelos fabricantes de turbinas ajudou a reduzir os custos e provou que a indústria pode desempenhar um papel importante na descarbonização do sistema energético. Mas os críticos temem que a corrida esteja começando a fazer mais mal do que bem, à medida que as cadeias de abastecimento se esforçam para recuperar o atraso e surgem questões sobre o risco técnico e a rentabilidade para os fabricantes de turbinas.

"A aceleração dos ciclos de desenvolvimento de novos modelos de turbinas eólicas nos últimos anos não tem ajudado", disse Christoph Zipf, porta-voz do grupo comercial WindEurope. "É preciso desacelerar."

Muitos executivos da indústria querem o fim da era de crescimento das turbinas, com um período de padronização dos modelos sendo considerado a melhor maneira de ajudar os desenvolvedores a atingir as metas de crescimento rápido.

Embora um limite do tamanho da turbina também tenha sido discutido seriamente na indústria, muitos desenvolvedores ainda acham difícil resistir à atração das maiores eficiências apregoadas. Os produtores de turbinas também enfrentam concorrência contínua por máquinas maiores, especialmente de rivais chineses.

Desde os primeiros modelos da década de 1990, de menos de 1 megawatt, hoje são desenvolvidas turbinas com capacidade de 18MW ou mais, com pás mais longas do que campos de futebol, sustentadas por mastros que se elevam mais de 100 metros acima da superfície da água.

Obter mais eletricidade de cada turbina ajudou a reduzir os custos da energia eólica em 60% na década até 2021, segundo a Agência Internacional de Energia Renovável.

No entanto, o ritmo acelerado de desenvolvimento traz desafios, por exemplo, para os fabricantes de navios que instalam as turbinas, bem como para outras partes da cadeia de abastecimento que precisam se adaptar aos enormes aumentos de tamanho e peso.

"Agora estamos falando de nacelas [parte da turbina] que pesam de 800 a 1.000 toneladas", disse Anders Nielsen, diretor de tecnologia da Vestas, líder na fabricação de turbinas. "Você precisa reforçar os cais [para lidar com a situação]."

Um relatório da consultora Wood Mackenzie disse este mês que cerca de metade dos navios de instalação do mundo estão prestes a ser aposentados porque não foram concebidos para lidar com os modelos de turbinas mais recentes, sendo necessários cerca de US$ 13 bilhões em investimento para substituições.

Mas os proprietários de embarcações já foram prejudicados ao investir pesadamente em novos modelos, apenas para descobrir que eles foram rapidamente superados, disse Torgeir Ramstad, diretor administrativo da divisão de instalação da proprietária de embarcações offshore Cyan Renewables. "Nós [Cyan] só construiremos agora com base em contratos de longo prazo com os desenvolvedores", disse ele.

O ritmo acelerado de desenvolvimento significa que os modelos estão sendo introduzidos antes que o desempenho dos modelos existentes tenha sido observado em longo prazo, levantando dúvidas sobre se os problemas potenciais são compreendidos.

"Não conheço nenhuma outra indústria que tenha avançado nesse ritmo em termos de trazer novos modelos ao mercado antes de haver qualquer experiência real de serviços nos níveis anteriores", disse o professor Simon Hogg, que ocupa a cátedra Ørsted de energia renovável na Universidade de Durham, na Grã-Bretanha. "Isso colocou muitos riscos na indústria."

A seguradora de energia renovável GCube disse em um relatório de maio que máquinas maiores que 8MW apresentavam problemas mais rapidamente do que suas contrapartes menores.

Entretanto, as finanças da indústria estão sob pressão. Os fabricantes de turbinas sofreram perdas acentuadas nos últimos anos, à medida que tentavam produzir novos modelos enquanto mantinham os preços baixos e lutavam com as disposições de garantia.

Os desenvolvedores também sofrem agora a pressão da inflação e das altas taxas de juros. A desenvolvedora sueca Vattenfall suspendeu em julho um novo projeto no Mar do Norte, enquanto a Iberdrola e a Shell também estão encerrando acordos nos Estados Unidos.

Desacelerar o desenvolvimento de novos modelos de turbinas e, em vez disso, concentrar-se na padronização dos modelos existentes pode ser a melhor forma de a indústria crescer e cumprir metas ambiciosas de energia limpa, acreditam alguns.

Jochen Eickholt, executivo-chefe da fabricante de turbinas Siemens Gamesa, disse que embora o aumento de tamanho seja tecnicamente possível "turbinas muito maiores precisariam de uma infraestrutura adequada que ainda não existe, incluindo portos e navios".

A Siemens Gamesa está enfrentando problemas técnicos com suas mais recentes turbinas eólicas em terra, bem como desafios para aumentar a energia eólica offshore. "A prioridade deveria ser garantir um futuro sustentável e rentável para o setor, ao mesmo tempo que se cumprem as metas crescentes em todo o mundo", disse Eickholt.

Ben Backwell, executivo-chefe do Conselho Global de Energia Eólica, um órgão setorial, acredita que a indústria deveria agora produzir os modelos existentes em escala industrial, permitindo que as empresas aproveitem o investimento nos modelos atuais.

"Também é importante que os projetos possam se beneficiar de investimentos em equipamentos de instalação e infraestruturas como navios e gruas, sem que estes se tornem constantemente obsoletos devido ao aumento constante do tamanho das turbinas", disse ele.

No entanto, não é fácil focar nos modelos existentes, dada a concorrência acirrada no mercado. "Se a General Electric [lançar um modelo maior], a Siemens Gamesa fará o mesmo imediatamente. Então a Vestas sofrerá pressão para lançar outro", disse Shashi Barla, chefe de pesquisa em energias renováveis na consultoria Brinckmann.

A corrida por tamanho entre os fabricantes chineses aumenta essa pressão competitiva. Os produtores de turbinas offshore na China poderiam começar a fazer incursões mais significativas no mercado offshore ocidental à medida que os custos nos EUA e na Europa aumentem, disse Barla.

Ramstad, da Cyan, acredita que um limite do tamanho das turbinas garantiria a padronização, evitando que o mercado ultrapasse os limites. "Precisamos desesperadamente dessa eletricidade, e a maneira de construir rapidamente é industrializar, racionalizar e padronizar", disse ele.

A Wood Mackenzie afirmou em seu relatório que um limite temporário, com duração de pelo menos dez anos, "daria aos fornecedores e investidores confiança nos seus novos investimentos".

"Em última análise, o fator mais importante não é o tamanho do limite, mas sim o fato de um limite ser imposto", acrescentou.

Muitos atores da indústria não apoiam um limite máximo, e alguns se preocupam com a possibilidade de consequências indesejadas.

"O que precisamos ver é uma evolução progressiva, em vez de uma revolução, e evitar a implementação de medidas que possam sufocar a inovação", disse Rob Anderson, diretor de projetos de energia eólica da Vattenfall ao largo de Norfolk, no leste da Inglaterra.

A Iberdrola, uma das maiores desenvolvedoras de parques eólicos do mundo, apoia a desaceleração nos novos modelos, embora não acredite que seja necessário um limite. Com melhores margens de lucro no futuro, "estamos confiantes em que a indústria experimentará um novo impulso e que serão desenvolvidos tamanhos maiores", afirmou.

Nielsen, da Vestas, tem uma opinião semelhante, enfatizando a necessidade de um desenvolvimento responsável. "A única maneira de realmente atender à demanda do mercado é desacelerar o crescimento das turbinas", disse ele, acrescentando: "Esta indústria precisa amadurecer, e todos têm que ganhar dinheiro na cadeia de abastecimento para que ela dure".

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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