Casal da geração Z prefere a marca do celular nos eletrodomésticos

Jovens que já nasceram conectados estão em busca de aparelhos com wi-fi e controle por aplicativo

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São Paulo

O casal Iago Brigato, 26, e Beatriz Alexandre, 23, não vê a hora de morar sob o mesmo teto. Os dois se casaram em Brasília no começo de setembro. Mas como Beatriz é comissária de bordo em São Paulo, e ainda não conseguiu sua transferência para a capital federal, a casa própria ainda não é uma realidade.

Cada um vai economizando dinheiro à distância –seja morando na casa da família ou em um hostel. Enquanto isso, pesquisam os eletrodomésticos para a casa nova.

homem loiro de terno azul e mulher de vestido branco
O casal Iago Brigato e Beatriz Alexandre, recém-casados e à procura de eletrodomésticos para a casa nova - Divulgação

"A gente sabe que empresas como Brastemp e Electrolux têm tradição em eletrodomésticos. Mas percebemos que marcas que eram predominantemente de celulares, como LG e Samsung, estão na linha branca e elas vêm revolucionando este mercado, trazendo muita tecnologia", afirma Beatriz, que já tem um eletrodoméstico dos sonhos na sua lista: uma lava e seca com wi-fi, acionada por aplicativo.

"Queremos algo rápido e prático, que facilite o nosso dia a dia", diz a comissária. Já o marido pesquisou uma geladeira da marca Panasonic, que proporciona maior economia de energia.

"A gente gostaria de uma casa conectada, com Alexa comandando aparelhos smart, como máquina de lavar e robô-aspirador", diz ele, operador de atendimento aeroviário. "Nossa vida é muito corrida."

O comportamento do jovem casal é típico da geração Z, os nascidos entre 1996 e 2010: querem praticidade nos serviços domésticos para curtirem o tempo livre, terceirizando para máquinas o máximo de funções possível. As fabricantes procuram estar em sintonia com estas aspirações.

"Nosso objetivo é tornar a vida das pessoas mais fácil. Sabemos que o tempo se tornou o artigo mais caro. Por isso a ideia é que nossos produtos ajudem a ampliar os momentos de lazer", diz Thiago Cesar, diretor de marketing de divisão de eletrônicos de consumo da Samsung Brasil.

O executivo destaca "uma espécie de resistência à propaganda tradicional" por parte da geração Z. "Tudo que interrompa a experiência das pessoas com o conteúdo é descartado. Esta geração já nasceu com o botão skip [pular, em inglês]", diz Cesar. "Eles entendem que publicidade é interrupção."

Produto não é o protagonista na comunicação

Daí a importância dos influenciadores para incorporar os produtos da marca nos seus conteúdos nas redes sociais, de uma maneira que pareça natural.

"Os influenciadores são uma poderosa arma com a geração Z. A linguagem que eles trazem nos seus feeds é determinante para que a mensagem seja a mais fidedigna possível, sem interrupção no consumo de conteúdo", diz o executivo. Neste contexto, os produtos não são os protagonistas, apenas fazem parte do roteiro, afirma.

Esta foi a ideia ao chamar os atores Fábio Porchat e João Vicente de Castro, fundadores da produtora de vídeos de comédia Porta dos Fundos, para estrelar uma campanha digital sobre a Smart Things, a plataforma de conectividade da Samsung. Nos filmes, Porchat tem uma casa completamente conectada: ativa o controle da lava e seca pelo smart watch, o robô aspirador pelo celular, e o ar-condicionado por comando de voz, enquanto Castro fica admirado com tanta tecnologia.

A disputa entre os fabricantes de eletrodomésticos tem sido cada vez mais acirrada, uma vez que, segundo os dados da Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos), as vendas da indústria para o varejo estão em queda. A venda anual passou de 15,8 milhões de aparelhos de linha branca em 2019 para 12,5 milhões em 2022.

"É possível que o mercado observe uma estabilização este ano", diz a economista Thaís Virga, analista do setor industrial da consultoria Lafis. "Estamos vendo algumas políticas de aumento real do salário mínimo, além de programas governamentais como o Desenrola Brasil, que podem ajudar a organizar o orçamento doméstico", afirma.

A queda na venda de eletrodomésticos nos últimos anos, um setor que depende fundamentalmente de crédito, lembra Thaís, esteve relacionada ao aumento do desemprego e à alta das taxas de juros. "A interrupção do fornecimento de semicondutores durante a fase mais aguda da pandemia também impactou os negócios", diz.

A especialista observa o avanço das gigantes coreanas Samsung e LG no mercado brasileiro, que também serve como ponto de distribuição das marcas para outros países da América Latina. Mas diz que a maior oferta de tecnologia nos produtos pode elevar o "primeiro preço" dos eletrodomésticos a um patamar muito acima do que boa parte da população brasileira é capaz de bancar.

"Até pouco tempo atrás era possível comprar uma geladeira básica por R$ 1.800", diz. "Hoje os modelos estão partindo de R$ 3.000, algo inviável para famílias de menor renda."

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