2023 foi um ano bem melhor do que o esperado, diz Campos Neto sobre crescimento e inflação

Apesar do cenário positivo neste ano, presidente do BC vê desafios adicionais para o Brasil em 2024

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Brasília

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira (5) que o ano de 2023 foi melhor do que o previsto, com surpresa positiva do crescimento da atividade econômica e inflação convergindo em direção às metas.

"A gente tinha projeções de crescimento de 0,5%. Eu tive de escutar várias vezes ao longo do ano que o crédito ia colapsar, que os juros iam fazer as empresas quebrarem, que o desemprego ia explodir. Não aconteceu nada disso, ao contrário", disse Campos Neto em evento da FPE (Frente Parlamentar do Empreendedorismo).

"O crédito subiu e está saudável, a inadimplência está caindo na ponta, o crescimento está acima de 2,5%, o desemprego está perto dos mínimos nos últimos tempos", acrescentou.

Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em evento nos Estados Unidos - Brendan McDermid - 9.no.2023/Reuters

Segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil perdeu força no terceiro trimestre deste ano, mas ainda apresentou leve variação positiva de 0,1% em relação aos três meses anteriores.

Já a taxa de desemprego do Brasil recuou a 7,6% no trimestre até outubro. A marca é a menor para esse período do ano desde 2014. A baixa da desocupação veio acompanhada por um recorde da população ocupada com algum tipo de trabalho –esse contingente foi estimado em 100,2 milhões de pessoas.

De acordo com o presidente do BC, o país tem pela primeira vez em muitos anos uma inflação de serviços abaixo da dos Estados Unidos, o que abre espaço para a autoridade monetária brasileira continuar reduzindo juros –hoje a taxa básica (Selic) está em 12,25% ao ano.

Apesar do cenário positivo neste ano, Campos Neto vê desafios adicionais para o país em 2024. "A gente vai entrar em um momento de desaceleração global, isso vai impactar o Brasil, já está impactando na margem. A gente vai entrar em um período em que a liquidez vai ficar mais restrita, é mais importante fazer o dever de casa, passar uma mensagem de consolidação fiscal", afirmou.

Apesar do ceticismo do mercado financeiro com a capacidade do governo Lula (PT) de atingir a meta de zerar o déficit fiscal em 2024, o presidente do BC disse ver pouco impacto sobre os fatores que influenciam o trabalho da autoridade monetária.

"Ninguém hoje espera que governo vá fazer zero por cento de meta, e, mesmo assim, a gente vê que teve pouca influência nas variáveis macroeconômicas, que é o que é importante para o Banco Central no dia a dia. É importante ter uma visibilidade do futuro."

Campos Neto disse também aos parlamentares que é possível alcançar o equilíbrio fiscal apenas pelo lado da receita –como prevê o governo para atingir as metas previstas no arcabouço fiscal– se o país começa a crescer de forma sustentável. No entanto, observou que, apesar do crescimento do país acima do esperado em 2023, a arrecadação não subiu neste ano.

No evento, chefe da instituição reforçou que o ritmo de cortes de juros de 0,5 ponto percentual é o mais apropriado olhando duas reuniões à frente e que, embora o cenário esteja se encaixando mais ou menos dentro do esperado pelo BC, a batalha não está ganha e é preciso perseverar no combate à inflação.

Ele ponderou, entretanto, que tudo pode ser reconsiderado na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) na semana que vem, quando o colegiado do BC voltará a analisar o cenário para recalibrar a taxa de juros.

Campos Neto ainda disse ver mudanças "marginais" no cenário econômico desde o último encontro, em novembro.

No evento da FPE, Campos Neto defendeu as medidas da agenda econômica propostas pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda). Quanto à Reforma Tributária, disse que a medida endereça algumas das distorções do sistema tributário brasileiro e promoverá melhorias no longo prazo.

"Todas as reformas têm impacto no valor presente, o Brasil tinha cinco grandes distorções: muito imposto no capital contra mão de obra, tinha distorção entre bens e serviços, tinha distorção entre consumo e renda, tinha uma distorção grande porque você cobra onde o bem é produzido e não onde é consumido, tinha uma distorção da complexidade", afirmou.

Para o presidente do BC, o formato do texto aprovado na Câmara era melhor do que o do Senado Federal, que ampliou exceções benéficas a setores e atividades e garantiu a estados mais R$ 20 bilhões anuais em um fundo a ser bancado pela União.

"Achei o formato que saiu da Câmara [dos Deputados] melhor do que o formato que veio do Senado da Reforma, porque foram feitas algumas adaptações, principalmente em medidas especiais. Mas, ainda assim, é muito melhor do que o que a gente tem hoje", disse.

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