Descrição de chapéu Congresso Nacional

Brasil tem pouco espaço em termos de arrecadação adicional, diz Campos Neto

Presidente do BC afirma que despesa primária do país sobe em ritmo acima da média da América Latina

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Brasília

O Brasil tem pouco espaço de manobra para implementar medidas que resultem em arrecadação adicional, disse nesta terça-feira (19) o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

A declaração foi dada ao final de um ano em que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) obteve apoio do Congresso Nacional para uma série de medidas na tentativa de impulsionar as receitas federais em 2024.

"Quando a gente olha o espaço nessa relação de troca entre crescimento e arrecadação, entre a possibilidade de corrigir o fiscal através da arrecadação, a gente vê que o Brasil tem menos espaço", disse Campos Neto em debate promovido pelo jornal Correio Braziliense.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em evento em Nova York - Brendan McDermid - 09.nov.2023/Reuters

"A gente tem uma renda per capita relativamente baixa para uma carga fiscal que é relativamente alta. Então, mostra que tem pouco espaço de manobra em termos de arrecadação adicional", acrescentou.

A excessiva dependência de receitas para conciliar o aumento real de gastos permitidos pelo novo arcabouço fiscal e as metas fiscais traçadas pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) tem sido alvo de críticas de agentes do mercado financeiro e também por membros do Congresso Nacional.

Para representantes desses grupos, há um limite do que é possível aprovar para elevar a arrecadação da União. Por outro lado, há cobranças para que o governo enfrente o tema dos gastos públicos.

Em sua apresentação, Campos Neto não fez referência a medidas específicas, mas disse que a incerteza em torno das fontes de arrecadação adicional para cumprir as metas fiscais estipuladas para 2024 em diante "é um pouco o que causa, vamos dizer assim, um pouco mais de nervosismo".

"Se o país surpreender o crescimento para cima, tem o multiplicador que faz com que se arrecade mais. Mas se o Brasil não crescer a tal ponto de gerar essa arrecadação extra, de onde viria a receita adicional? Você pode sempre cortar despesa, que no Brasil é difícil de fazer, ou teria que ter medidas adicionais arrecadatórias", afirmou.

Enquanto isso, a despesa primária total do governo central (que inclui Tesouro Nacional, Previdência e Banco Central) segue em alta. Em 2023, o gasto deve ter um crescimento real, acima da inflação, de 9,1%, de acordo com as estimativas de mercado. Em 2024, mesmo com o novo arcabouço fiscal, a alta real deve alcançar 3,7%.

Quando se expande a comparação para as despesas do governo geral, que inclui estados e municípios, o avanço real é de 13,8% em 2023 e de 1,7% em 2024. No consolidado do biênio, a alta é de 7,7%.

"Isso é bem acima da média do mundo emergente. Quando a gente olha a comparação do Brasil com a média da América Latina, a gente vê que o Brasil está bem acima no biênio 2023-2024. Quando a gente estica isso para 2027-2028, continua acima em todos os anos, mesmo cumprindo a meta, que é uma coisa que o mercado até acha difícil de acontecer", observou Campos Neto.

O presidente do BC também ressaltou que o Brasil sai de um patamar mais alto de endividamento em 2023, na comparação com países como Chile, Peru, Colômbia e México. A trajetória da dívida também é mais inclinada, sinalizando uma tendência de alta, enquanto nas demais economias a expectativa é de estabilização ou redução.

"Mesmo com o arcabouço fiscal, a situação fiscal em termos de trajetória de dívida é um pouquinho pior", disse.

Campos Neto acrescentou que, nesse contexto, expandir ainda mais a dívida brasileira para estimular a economia pode ser contraproducente.

"Obviamente isso aqui [trajetória de alta da dívida] é facilmente revertido se o crescimento começar a despontar. Agora, a gente tem que entender que o crescimento precisa ser um crescimento que gere eficiência, um crescimento que tenha mais fatores que estimulem o crescimento vindo do mundo privado. Fazer dívida para crescer não necessariamente é uma coisa que vai levar a um equilíbrio muito melhor lá na frente", afirmou.

Apesar dessas considerações, o presidente do BC reafirmou que as análises sobre o cenário fiscal não têm uma relação mecânica com as decisões sobre a política de juros, uma mensagem já transmitida em diferentes comunicados da autoridade monetária.

Ele ainda observou que há uma "diferença grande" entre as metas do governo e a previsão dos mercados para o resultado das contas públicas, mas, mesmo nesse contexto, o "importante é perseverar".

"A gente sabe que é difícil, acho que todo mundo sabe, inclusive hoje a expectativa de mercado não é que a gente vá atingir o [déficit] zero, mas é importante perseverar", disse.

A realização de reformas, segundo ele, consegue "em parte" compensar a percepção ruim sobre as contas públicas. Por outro lado, ele apresentou uma série de gráficos para ilustrar as razões pelas quais o fator fiscal hoje é uma grande preocupação dos agentes econômicos.

No mesmo evento, o secretário-executivo do Ministério do Planejamento e Orçamento, Gustavo Guimarães, defendeu a agenda de revisão de gastos, que vem sendo puxada pela pasta.

"Não basta um regime fiscal para ter controle da despesa. A gente tem que trabalhar por dentro, fazer a revisão daquilo que talvez não seja mais necessário", disse.

O secretário argumentou que os resultados obtidos até dezembro de 2023 indicam uma situação melhor do que a imaginada há um ano, em dezembro de 2022, ainda durante a transição de governo. "Estamos melhores do que a situação que se esperava", disse.

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