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Economia desacelera em 2024 com menos agro e mais investimentos

Reação do governo com gasto maior pode comprometer queda de juro, avaliam economistas

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São Paulo

O ano de 2024 deve ser marcado pela desaceleração da economia brasileira, acompanhada por inflação em queda e juros mais baixos. Esse cenário poderá ser mais ou menos benigno a depender, principalmente, de dois fatores: a continuidade do processo global de desinflação e os rumos da política fiscal no Brasil.

Economistas ouvidos pela Folha avaliam que uma reação do governo federal a um crescimento menor no primeiro semestre por meio do aumento de gastos, ou revisão das regras fiscais, pode atrapalhar o processo de corte de juros promovido pelo Banco Central.

Esse movimento poderia comprometer o desempenho de um PIB (Produto Interno Bruto) que deverá ser mais puxado pelo crédito em 2024, com impacto positivo nos investimentos.

Plantação de soja no norte do Paraná
Plantação de soja no norte do Paraná - Mauro Zafalon/Folhapress

Em 2023, o crescimento foi impulsionado sobretudo pelo aumento da renda das famílias e pelo desempenho da agropecuária, setor que deverá ter contração no próximo ano.

Rafaela Vitoria, economista-chefe do Banco Inter, afirma que 2024 deve começar parecido com o final de 2023, com uma atividade fraca, mas é esperada uma recuperação da atividade ao longo do ano por conta da volta do crédito.

"À medida em que a economia começa a sentir a queda dos juros, podemos ver uma retomada do crédito e do investimento, principalmente a partir do segundo semestre de 2024", afirma.

Ela projeta uma desaceleração do crescimento de 3% para 1,8% no próximo ano, números acima das projeções do boletim Focus do Banco Central, de 2,92% e 1,51%, respectivamente.

A economista afirma que o consumo das famílias pode melhorar no segundo semestre de 2024, em relação ao que deve ser verificado no mesmo período em 2023. E o investimento, depois de um desempenho negativo neste ano, deve ter alguma recuperação no próximo.

"Você vai ter uma recuperação do investimento no ano que vem, por conta desse aumento do crédito na economia", afirma Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, que cita a queda dos juros, o programa Desenrola e o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) como fatores que vão contribuir para esse resultado.

Para ele, a expectativa é de uma inflação mantendo a tendência de desaceleração no Brasil e um cenário externo mais favorável, com praticamente todos os bancos centrais do mundo reduzindo os juros ao longo do ano que vem, o que permite ao BC brasileiro continuar cortando a taxa básica para até 9% ao ano.

Leal projeta uma desaceleração do PIB de 3% neste ano para 2,1%. "Vamos ter um ano em que, numericamente, o crescimento vai ser menor, mas em termos de estrutura, o desempenho vai ser melhor."

Para ele, os maiores riscos para o ano que vem são um cenário político mais complicado nos EUA por conta das eleições presidenciais, que traga turbulências para o mercado financeiro, e a questão fiscal no Brasil. Esse último ponto é um risco, que pode ser maior ou menor a depender do cenário externo.

"Se você tiver um problema fiscal no Brasil, com um cenário externo bom, é possível que o pessoal releve. Vai ser ruim para a percepção de longo prazo, mas acaba não entrando no resultado de curto prazo", afirma o economista.

Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do FGV Ibre, também vê uma recuperação do investimento no próximo ano, mas que pode demorar mais para aparecer do que o governo deseja e levar a uma aceleração dos gastos públicos —e revisão das metas fiscais.

Ela afirma que o Brasil cresceu acima do seu potencial sem gerar inflação nos últimos anos, porque havia alguma gordura para queimar, mas que esse espaço diminuiu, com uma redução da ociosidade na economia e uma inflação que desacelerou menos do que seria necessário.

A economista projeta um crescimento de 2,9% neste ano e de 1,4% em 2024.

"Acho que a gente vai ter ainda muita tensão fiscal. É um ano de eleição municipal. O ministro Fernando Haddad [Fazenda] conseguiu vencer esse ano não mudando a meta do déficit e a meta de inflação. Foram várias vitórias. Mas o cenário de eleição é mais tenso", afirma.

Rafaela Vitoria, do Banco Inter, também cita o risco de o governo querer estimular mais a economia, principalmente se uma esperada queda do PIB neste ou no próximo trimestre se confirmar.

"Se você quer estimular muito a demanda sem ter um ambiente de investimento mais favorável, você vai gerar inflação na frente. Esse é um grande risco para o ano que vem."

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